Habitação
22 junho 2024 às 10h19
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Preço das casas em Portugal já começa a afastar estrangeiros

No primeiro trimestre deste ano, período em que comprar uma habitação ficou 7% mais caro, os investidores internacionais adquiriram menos imóveis e a preços mais baixos. As famílias também reduziram a procura. O mercado acabou por cair 4,1%.

O preço das casas em Portugal que, apesar de evidenciar algum abrandamento, continua a aumentar - subiu 7% no primeiro trimestre deste ano -, está a afastar os compradores internacionais. Nos primeiros três meses, estes investidores adquiriram 2067 habitações, uma quebra de 17,1% face ao mesmo período de 2023, revelou ontem o Instituto Nacional de Estatística (INE). Para este embate no mercado imobiliário, há também a considerar a inflação e as taxas de juro, indicadores que ainda não desceram para patamares que assegurem confiança às famílias, e a turbulenta conjuntura internacional.

Os investidores provenientes da União Europeia contribuíram, de forma significativa, para a quebra na venda a estrangeiros. Entre janeiro e março, compraram apenas 989 residências, uma evolução homóloga negativa de 22,1%. O valor total do investimento ascendeu a 263,3 milhões de euros, menos 27,5% do que no primeiro trimestre de 2023. E, neste ponto, há a destacar que gastaram uma média de 267 mil euros por casa quando, um ano antes, despendiam mais de 286 mil euros.

A leitura dos dados do INE, permite verificar que o interesse aquisitivo dos europeus só esmoreceu no período mais agudo da pandemia, ou seja, entre abril e junho de 2020, quando formalizaram a compra de 654 casas. Também nos primeiros dois trimestres de 2021, ainda sob o efeito das medidas restritivas decretadas pelos governos devido à covid, verificou-se uma menor dinâmica: adquiriram 833 unidades entre janeiro a março de 2021 e 960 no trimestre subsequente. Daí em diante, regressaram aos níveis habituais, significativamente acima das mil unidades. Agora, estão em contração.

Entre os cidadãos dos restantes países do mundo a tendência é também de quebra. De janeiro a março, estes investidores adquiriram um total de 1078 habitações, uma descida de 12% face ao primeiro trimestre de 2023. O valor total aplicado atingiu os 433,6 milhões de euros, um decréscimo de 15%. O investimento por habitação sofreu também uma diminuição, registando-se um valor médio de 402,2 mil euros neste início do ano, que compara com os 417,4 que gastaram nos três primeiros meses de 2023 (-3,6%). O interesse destes cidadãos por adquirir casa em Portugal só apresentou uma retração durante a pandemia mas, neste caso, e devido à impossibilidade de viajar, registou-se uma diminuição nas vendas durante cinco trimestres consecutivos, entre abril de 2020 e junho de 2021.

Mercado em baixa

A atual conjuntura teve globalmente efeitos negativos no mercado imobiliário português. Entre janeiro e março, foram absorvidas 33 077 casas, o que representa uma quebra de 4,1% face ao trimestre homólogo e de 3,1% face aos três meses anteriores. A aquisição de habitações novas apresentou uma contração de 4,4% em número e de 4% nas usadas. O valor total de transações observou uma queda homóloga de 1,8%, para 6,7 mil milhões de euros. Neste quadro setorial, os estrangeiros representaram 6,2% das vendas e 10,4% do valor.

As famílias compraram 28 283 habitações (85,5% do total), uma redução homóloga de 3,4% em número e 1,5% em valor, para 5,7 mil milhões de euros. Os negócios com habitações usadas geraram 4,9 mil milhões de euros, uma quebra de 2,1%, e, com as novas, atingiram 1,8 mil milhões, menos 1,1%.

Na Grande Lisboa, venderam-se 6334 unidades no primeiro trimestre de 2024 (19,1% do total), o que representa uma quebra de 5,1% em termos homólogos. O valor das habitações transacionadas nesta região fixou-se nos 2,2 mil milhões de euros, um acréscimo homólogo de 0,1%. No Norte, foram transacionadas 9932 habitações (30% do total), um crescimento de 0,1%, que geraram 1,7 mil milhões, mais 4,9%.

A Península de Setúbal registou a alienação de 3125 casas (+1,2%), num valor de 629 milhões (+5%). A região Centro contabilizou 5376 habitações vendidas (+2,1%), o que permitiu um volume de negócios de 625 milhões (+2,1%). O mercado no Oeste e Vale do Tejo totalizou 3088 transações (-3,7%), que se concretizaram em 625 milhões (+4,2%).

O Algarve foi o território que registou a maior quebra de vendas. A região totalizou 2305 transações, uma quebra de 25,2%, que originaram 733 milhões de euros, menos 22,6%. O Alentejo evidenciou um quadro idêntico, com a venda de 1630 casas (-7,2%), por 179 milhões (-11,3%), assim como a Madeira, onde se registaram 696 transações (-22,5%) por 161 milhões de euros (-17,7%). Os Açores registaram um volume de vendas de 90 milhões (4,1%), com a colocação de 591 casas (-1,3%).