À semelhança da classe docente, também os AO estão “envelhecidos”, levando a um “absentismo profundo”. “Temos trabalhadores já com uma certa idade e, mesmo os mais jovens, estão cansados e desmotivados porque se sentem desrespeitados. Há um absentismo profundo que merece a atenção de todos, com baixas curtas e prolongadas porque há um grande mau estar”, refere o representante do SISTERP. Defende, por isso, mudanças de funções aos 55 anos, idade a partir da qual “os AO não deveriam assumir funções de vigilância”. Além destes problemas, Paulo Marinho alerta para o “assédio laboral” cada vez mais frequente e para a “criminalidade “escondida pelas direções das escolas”. “É um problema delicado e não é por acaso que os AO se sentem inseguros. Os alunos ameaçam os AO e os professores. Não havendo vigilância, é um problema. Há alunos e EE que aproveitam a escola para semear a insegurança e o medo e há direções que escondem os reais problemas existentes à comunidade escolar”, denuncia.
O secretário-geral do SISTERP pede aos municípios para “assumirem as suas competências, dando resposta a este clima de insegurança nas escolas”.
Última revisão da portaria que define o rácio de AO data de 2021
O presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), Filinto Lima, tem defendido a revisão da portaria Portaria 73/A, que define o número de AO afetos às escolas e cuja última alteração data de 2021. Esta atualização, afirma, é cada vez mais urgente porque houve “mudanças significativas nas escolas nos últimos anos”. “Temos uma população que não é só portuguesa e é uma nova realidade. Têm chegado alunos estrangeiros em massa quase diariamente. Essa portaria deveria ser revista por vários motivos e este é um deles, bem como a necessidade de aumentar o número de técnicos de informática. São precisos mais assistentes técnicos, mais AO e mais recursos humanos nas escolas”, assegura. Filinto Lima explica ser necessário que o Governo reveja o orçamento para as autarquias, para que estas possam colocar mais funcionários nos estabelecimentos escolares.
Questionado sobre as consequências da escassez de funcionários nas escolas, o presidente da ANDAEP não considera que os estabelecimentos escolares sejam lugares inseguros, embora admita que essa falta de AO “é um fator potenciador de insegurança”. “Acho que podemos ser proativos e perceber que em algumas escolas são necessários mais AO, principalmente em contexto de recreio, não só para supervisão, mas também para encaminhamento e orientação”, refere. Desde 2021, continua, a realidade das escolas mudou, bem como a postura dos alunos. “Os miúdos estão mais ansiosos, impertinentes, talvez por efeito da pandemia, estão mais desafiantes. É preciso ter mais paciência e ser mais vigilante”, admite. Mudanças ainda mais desafiadoras devido à média de idades dos AO, afirma.
E de forma a tornar mais visível a complexidade do problema, Filinto Lima exemplifica com casos concretos em dias de greve. “Há escolas com tão poucos funcionários que basta que haja um a aderir a uma greve para ser necessário encerrar a escola, principalmente as de 1.º ciclo”. Segundo o responsável, o problema tornou-se mais claro e evidente desde dezembro de 2022, altura em que as greves se multiplicaram e muitas escolas tiveram de fechar portas. “Percebeu-se claramente que as escolas fechavam maioritariamente pela ausência de funcionários”, conclui.