Proteção Civil
24 agosto 2024 às 09h34
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Fogo na Madeira está controlado e em fase de rescaldo. Albuquerque reitera que estratégia adotada foi "a mais acertada"

A área ardida no incêndio rural que lavrou na ilha da Madeira desde dia 14 já ultrapassa os cinco mil hectares.

O incêndio que lavrou na Madeira durante 11 dias está controlado e em fase de rescaldo, podendo ainda haver alguns pequenos reacendimentos "normais", afirmou à Agência Lusa o comandante regional da Proteção Civil, António Nunes.

"O incêndio está controlado, encontra-se agora em fase de rescaldo. Há ainda alguns pontos quentes e poderá haver uns reacendimentos mais pequenos, que é normal que aconteçam", disse. Uma informação repetida, mais tarde, a meio da manhã, pelo presidente do Governo Regional da Madeira.

"Até ao momento, e passados 11 dias, não há qualquer vítima a lamentar, não há qualquer pessoa ferida, nenhuma habitação foi consumida pelo fogo, nenhuma estrutura essencial pública foi afetada, designadamente as centrais hidroelétricas", afirmou Miguel Albuquerque numa conferência de imprensa.

O governante reiterou que a estratégia adotada no combate ao incêndio foi "a mais acertada" e, por outro lado, sublinhou que, apesar da dimensão do fogo, que consumiu mais de 5.000 hectares, apenas foram danificados "alguns espaços residuais" da floresta laurissilva. 

"Até agora a estratégia adotada pela Proteção Civil, colocando as forças e os agentes da Proteção Civil e os bombeiros nos pontos críticos, protegendo os núcleos urbanos e as infraestruturas públicas, revelou-se, mais uma vez, a mais acertada face à complexidade deste incêndio", afirmou, vincando que "tecnicamente as decisões foram as adequadas e aquelas que, face à ameaça latente, eram as mais corretas".

O chefe do executivo social-democrata considerou que fogos com este grau de complexidade não se combatem "com achismos, nem com voluntarismos, nem de improviso", mas com "conhecimento técnico do terreno, experiência, rigor técnico, sentido de planeamento e uso rigoroso dos recursos e dos meios".

"Lamento -- não por minha causa, porque politicamente eu estou exposto -- que os nossos profissionais tenham sido objeto de insultos alarves nas redes sociais sem qualquer fundamento e sem qualquer justificação. Não é através do insulto gratuito que se combatem estas situações e é preciso respeitar os profissionais", declarou.

De acordo com Miguel Albuquerque, 150 operacionais continuam este sábado no terreno, embora as frentes de fogo estejam "substancialmente diminuídas ou inexistentes", mas ainda com um foco de "potencial reacendimento" na zona alta da Lombada, no concelho da Ponta do Sol, na zona oeste da ilha.

O governante reiterou que "grande parte da área ardida é mato", com acácias, eucaliptos e carqueja, e garantiu que "todo o núcleo central da [floresta] laurissilva" não foi afetado, indicando, no entanto, que o fogo no Pico Ruivo, na cordilheira central, colocou em perigo a área de nidificação da freira-da-madeira, uma ave marinha em risco de extinção.

"Segundo um levantamento sucinto que foi feito pelo Instituto das Florestas e Conservação da Natureza, apenas foram danificados alguns espaços residuais da floresta laurissilva, designadamente na Encumeada [Ribeira Brava], no Lombo do Urzal [São Vicente] e na zona sobranceira ao Caldeirão Verde [Santana]", disse, para logo reforçar: "Isso significa que a floresta laurissilva, apesar da dimensão destes incêndios, não foi afetada na sua integridade enquanto património natural da Unesco."

Miguel Albuquerque destacou o desempenho dos meios aéreos no combate ao fogo, quer o helicóptero da Proteção Civil, que atua desde o primeiro dia, tendo feito 327 descargas até sexta-feira, quer os dois aviões Canadair, mobilizados através do Mecanismo Europeu de Proteção Civil, que realizaram 26 descargas entre quinta e sexta-feira, devendo permanecer na região até segunda-feira.

Albuquerque admite agora recorrer àqueles meios em situações futuras "se for necessário", mas alertou para o facto de não poderem atuar em áreas urbanizadas.

Segundo o comandante regional da Proteção Civil, António Nunes, os operacionais continuam ainda no terreno para controlar a situação e evitar os reacendimentos.

"Vamos agora substituir as equipas da noite e um helicóptero vai sobrevoar a região para avaliar, mas esperamos que tenha terminado e que possamos todos ir descansar, as equipas estão extenuadas", disse António Nunes, acrescentando que o facto de este sábado ter "100% de humidade, um nevoeiro denso" será uma "grande ajuda".

O comandante regional da Proteção Civil especificou que o incêndio foi controlado na última sexta-feira (23) ao final do dia e que entre as 20:00 e as 21:00 já "estava 98% consolidado".

De acordo com o último balanço feito pelo Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais (Copernicus), divulgado na sexta-feira à noite, a área ardida no incêndio rural que lavrou na ilha da Madeira atingiu nessa manhã os 5.045,8 hectares. 

As costas norte e sul da ilha da Madeira estão até às 18:00 deste sábado sob aviso meteorológico amarelo relativo a tempo quente, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

O aviso amarelo é o menos grave de uma escala de três e é emitido pelo IPMA sempre que existe uma situação de risco para determinadas atividades dependentes da situação meteorológica.

Sem qualquer aviso estão as regiões montanhosas da Madeira (a terceira área territorial na divisão da ilha utilizada pelo IPMA), bem como a vizinha ilha do Porto Santo. O restante território português também não tem avisos meteorológicos este sábado.

Na ilha da Madeira, a temperatura máxima prevista para este sábado é de 29 graus Celsius, enquanto a mínima é de 23 graus. Preveem-se também vento fraco e céu pouco nublado.

O incêndio deflagrou no dia 14 de agosto, nas serras do município da Ribeira Brava, propagando-se progressivamente aos concelhos de Câmara de Lobos, Ponta do Sol e, através do Pico Ruivo, Santana.

O combate às chamas foi dificultado pelo vento e pelas temperaturas elevadas, mas não há registo de destruição de casas ou de infraestruturas essenciais.

Alguns bombeiros receberam assistência por exaustão ou ferimentos ligeiros, não havendo mais feridos.

A Polícia Judiciária está a investigar as causas do incêndio, mas o presidente do executivo madeirense, Miguel Albuquerque, disse tratar-se de fogo posto.

Tópicos: Madeira, Incêndios