Congresso do PCP
15 dezembro 2024 às 11h24
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Albano Nunes diz que Cuba, China e Vietname "demonstram a viabilidade e superioridade do socialismo"

O histórico dirigente do PCP considerou que o capitalismo enfrenta uma crise estrutural mas que "nunca cairá por si", sendo necessário para o seu fim a "intervenção da força revolucionária".

Albano Nunes, histórico dirigente do PCP, reconheceu este domingo que a História mostrou que a "marcha para o socialismo" mostrou-se mais acidentada do que previsto, mas Cuba, China e Vietname demonstram a "viabilidade e superioridade do socialismo".

Numa intervenção no último dia do XXII Congresso do PCP, em Almada, Albano Nunes recordou que a história do movimento comunista e revolucionário internacional mostrou que "a marcha para o socialismo é mais complexa, acidentada e demorada do que em determinada altura previram em função dos sucesso da União Soviética do movimento comunista".

"O desaparecimento da URSS e as derrotas do socialismo no leste da Europa representaram um dramático salto atrás no processo revolucionário mundial e serviram de pretexto para uma gigantesca campanha que continua sobre a falência e a morte do comunismo", disse.

Para Albano Nunes, a "classe dominante utiliza os poderosos meios de manipulação ideológica de que dispõe para desacreditar a viabilidade do projeto comunista", mas o partido contrapõe a essa tese "a experiência da realidade histórica que já demonstrou e continua a demonstrar, como em Cuba, China e Vietname, a viabilidade e a superioridade do socialismo".

O antigo dirigente comunista considerou que o capitalismo enfrenta uma crise estrutural mas que "nunca cairá por si", sendo necessário para o seu fim a "intervenção da força revolucionária", a luta organizada das classe operária e das massas, o reforço dos partidos comunistas e a cooperação internacionalista.

"O ideal comunista não é uma utopia. (...) Não se limita a ser a expressão de um desejo nobre ou de uma exigência ética generosa. Com Marx e Engels tornou-se possibilidade real cientificamente fundamentada e, com a Revolução de Outubro, tornou-se construção criadora das massas operárias e camponesas nas concretas condições da Rússia revolucionária. O ideal comunista não é abstração idealista sem correspondência com a prática", frisou.

Albano Nunes reconheceu "naturais imperfeições" do ideal comunista e defendeu, citando Lenine, que "todos os povos chegarão ao socialismo, mas cada um chegará à sua maneira" e garantindo que é "com base na situação concreta do nosso país que o PCP elabora o seu programa".

Por sua vez, João Lopes, do Comité Central do partido, interveio sobre a situação da comunicação social, criticando o que diz ser a crescente integração destes meios em grandes grupos económicos que, considerou, "põem em causa o direito do povo português a uma informação plural e de qualidade".

O dirigente disse haver uma crescente presença no espaço mediático do "sensacionalismo, notícia de crime, casos efémeros, publicidade mascarada de informação", que afirmou ser "pasto fértil à promoção do individualismo" e "discriminações de toda a ordem".

João Lopes saudou ainda as greves na agência Lusa e na Global Media (grupo do DN, JN, O Jogo e TSF) "pela valorização profissional, pelos aumentos salariais, contra a precariedade, em defesa dos postos de trabalho e mesmo dos próprios órgãos em que estes profissionais trabalham", afirmando que estes trabalhadores contam com a solidariedade do PCP.

O dirigente criticou ainda o programa para a comunicação social anunciado pelo Governo afirmando que "para lá da propaganda não resolve nenhum dos problemas nem do seus profissionais" e que "é uma porta aberta ao capital de que é exemplo a ofensiva contra a RTP, com vista a agudizar o seu crónico subfinanciamento".

"Aquilo que se impõe é a defesa do caráter público, o reforço dos meios e a valorização dos profissionais da RTP e da agência Lusa", defendeu.

Jorge Cordeiro relativiza resultados eleitorais e recusa desvalorizar "ofensiva ideológica"

O dirigente comunista Jorge Cordeiro defendeu que a expressão eleitoral é apenas um dos fatores de análise sobre a influência do PCP e que relativizar a intensidade da ofensiva ideológica serve para desarmar o seu partido.

Estas foram duas das principais ideias presentes no discurso de Jorge Cordeiro, membro da Comissão Política e do Secretariado, no terceiro e último dia do Congresso Nacional do PCP, em Almada.

Sem especificar quem relativiza no presente as dificuldades do partido perante a chamada "ofensiva ideológica", enquadrando-a nas lutas travadas ao longo de mais de cem anos de História, Jorge Cordeiro considerou que a "intensidade" dessa ofensiva é incomparável com o passado.

Jorge Cordeiro começou por conceder que a atual "ofensiva" contra o PCP "não é de hoje, que sempre houve e haverá", mas advertiu que, "sem desprezo por outras expressões de condicionamento ideológico existiram em períodos anteriores, desvalorizar a sua intensidade nos tempos presentes só serve para desarmar o partido e absolver o ódio anticomunista que preenche o espaço mediático".

"Fazê-lo seria ignorar o enorme desenvolvimento dos instrumentos de dominação, seria ignorar a massificação da desinformação e dos meios de propagação, da falsificação, da deturpação, da mentira hoje erigidos a critérios de comunicação, seria ignorar essa imensa concentração de centros de produção ideológica que invadem todos os planos da vida em sociedade, seja à escala nacional ou à escala internacional", sustentou.

Ainda de acordo com o membro da Comissão Política e do Secretariado do PCP, embora "correndo o risco que as simplificações comportam, talvez se possa afirmar que antes a produção da ideologia burguesa saía das elites para as massas, mas hoje invade as massas pelo arsenal de meios que passou a dispor e a fazer uso".

"Essa ofensiva que tem como alvo privilegiado o PCP, ofensiva que se caracteriza pela mobilização de meios a que recorre, pela persistência e intensidade que assume, pelas continuadas campanhas em que se suporta", acentuou.

 Outra nota do discurso de Jorge Cordeiro foi sobre os recentes resultados eleitorais do PCP, ponto em que procurou assegurar que não se "desvaloriza a necessidade de identificar insuficiências, avaliar o que se pode e deve aperfeiçoar".

"A influência do partido é um todo social, ideológico e eleitoral, expressa-se, mais ou menos, de acordo com as condições objetivas e subjetivas de cada momento. Não é mensurável pela estrita observação de uma única das suas expressões", disse.

A seguir, concluiu: "A expressão eleitoral é uma dessas expressões, talvez a mais notória, não subestimável, mas não a mais determinante".

Contrapôs que "é na batalha pela construção da influência geral do partido, da sua dimensão social, que se decide do papel e a ação a que é chamado a assumir".

"A influência do partido não é separável dessa intervenção, que reúne objetivos imediatos de luta e a afirmação do projeto de emancipação e transformação social. Mas uma influência que também não é separável da situação de avanço ou refluxo do processo político, das alterações da composição e estrutura social, dos meios de dominação ideológica que moldam consciências e posicionamentos. Uma influência condicionada pela ofensiva ideológica que enfrentamos", acrescentou.

Antes, João Dias, antigo deputado do PCP e candidato da CDU à Câmara de Serpa nas próximas eleições autárquicas, criticou a política agrícola no Alentejo, afirmando que os sucessivos Governo têm imposto medidas que "arrasam milhares de explorações agrícolas".

João Dias disse ainda não ser possível "continuar a ignorar ou ocultar a bárbara exploração a que os trabalhadores agrícolas e imigrantes são sujeitos" que revelam, acrescentou, "as desumanas fundações em que assenta o sucesso do agronegócio".

"A verdade é que estas explorações em regime superintensivo nem reduziram o desemprego, nem promoveram o povoamento, antes favoreceram a proliferação da precariedade e dos baixos salários", lamentou, para depois reafirmar a reforma agrária como um "projeto de futuro" que não pode ser esquecido como parte do desenvolvimento do Alentejo.

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