Recebido por guarda de honra
03 setembro 2024 às 08h05
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Putin encontra-se com presidente da Mongólia sob mandado de detenção internacional

Putin foi recebido por uma guarda de honra quando aterrou na capital na noite anterior para iniciar a viagem de alto nível, vista como desafiadora contra o tribunal, a Ucrânia, o Ocidente e grupos de defesa dos direitos humanos que pediram que fosse detido.

O Presidente russo, Vladimir Putin, reuniu-se com o seu homólogo mongol em Ulan Bator esta terça-feira, na sua primeira visita a um membro do Tribunal Penal Internacional (TPI) desde que este emitiu um mandado de detenção no ano passado.

Putin foi recebido por uma guarda de honra quando aterrou na capital na noite anterior para iniciar a viagem de alto nível, vista como desafiadora contra o tribunal, a Ucrânia, o Ocidente e grupos de defesa dos direitos humanos que pediram que fosse detido.

De seguida, encontrou-se com o presidente da Mongólia, Ukhnaagiin Khurelsukh, na imponente Praça Genghis Khan de Ulan Bator, também conhecida como Praça Sukhbaatar.

Uma banda tocava melodias marciais e os hinos nacionais russos e mongóis enquanto os dois líderes permaneciam na praça perto dos soldados mongóis com trajes tradicionais, com alguns a cavalo.

O líder russo é procurado pelo TPI, sediado em Haia, pela alegada deportação ilegal de crianças ucranianas desde que as suas tropas invadiram o país em 2022.

A Ucrânia reagiu à viagem com fúria, acusando a Mongólia de “partilhar a responsabilidade” pelos “crimes de guerra” de Putin, depois de as autoridades não o terem detido no aeroporto.

Kiev instou a Mongólia a executar o mandado de detenção, enquanto o TPI afirmou na semana passada que todos os seus membros tinham a “obrigação” de deter aqueles que eram procurados pelo tribunal.

Na prática, pouco se pode fazer se Ulaanbaatar não cumprir.

Uma democracia vibrante situada entre os gigantes autoritários Rússia e China, a Mongólia goza de laços culturais estreitos com Moscovo, bem como de uma relação comercial crítica com Pequim. Esteve sob o domínio de Moscovo durante a era soviética.

Desde o colapso soviético em 1991, tem procurado manter relações de amizade tanto com o Kremlin como com Pequim.

O país não condenou a ofensiva da Rússia na Ucrânia e absteve-se durante as votações sobre o conflito nas Nações Unidas.

O Kremlin disse na semana passada não estar preocupado com a possibilidade de Putin ser detido durante a visita.

"Tirem Putin daqui"

A praça Genghis Khan foi decorada na terça-feira com enormes bandeiras da Mongólia e da Rússia para a primeira visita de Putin ao país em cinco anos.

Um dia antes, um pequeno protesto reuniu-se ali, com um punhado de manifestantes a segurar um cartaz exigindo "Tirem daqui o criminoso de guerra Putin".

Outro protesto planeado para terça-feira foi impedido pela forte segurança de se aproximar do líder russo.

Em vez disso, reuniram-se a um quarteirão do Monumento aos Reprimidos Politicamente, que homenageia aqueles que sofreram durante décadas sob o regime comunista da Mongólia, apoiado pela União Soviética.

A visita de Putin realiza-se para assinalar o 85º aniversário de uma vitória decisiva contra o Japão Imperial por parte das forças mongóis e soviéticas.

Antes da viagem, Putin apontou uma série de “projectos económicos e industriais promissores” entre os dois países numa entrevista ao jornal mongol Unuudur partilhada pelo Kremlin.

Entre elas estava a construção do gasoduto Transmongol que liga a China e a Rússia, afirmou.

O presidente russo disse ainda estar “interessado em prosseguir um trabalho substantivo” rumo a uma cimeira trilateral entre ele e os líderes mongóis e chineses.

"Um fugitivo da justiça"

O Governo da Mongólia não comentou os apelos para a detenção de Putin, mas um porta-voz do presidente Khurelsukh recorreu às redes sociais no domingo para negar os relatos de que o TPI tivesse enviado uma carta a pedir-lhe que executasse o mandado durante a sua visita.

A Rússia não reconhece a jurisdição do TPI.

A Amnistia Internacional alertou na segunda-feira que o facto de a Mongólia não ter detido Putin poderia minar ainda mais a legitimidade do TPI, ao mesmo tempo que encorajava o antigo espião do KGB, no poder há quase um quarto de século.

“O Presidente Putin é um fugitivo da justiça”, afirmou Altantuya Batdorj, diretor executivo da Amnistia Internacional na Mongólia, em comunicado.

“Qualquer viagem a um Estado membro do TPI que não termine em prisão encorajará o actual curso de acção do Presidente Putin e deve ser vista como parte de um esforço estratégico para minar o trabalho do TPI”.