“Estamos decididos a tomar todas as iniciativas para que haja consequências destas denúncias e para que as más práticas que foram identificadas não se voltem a repetir no CES. (…) Se é certo que as situações reportadas resultaram de ações individuais, sobre as quais iremos agir, não deixam, também, de resultar de falhas institucionais que, na ausência de mecanismos adequados para a prevenção do assédio, permitiram condições para formas de abuso de poder.”
Esta é uma das promessas contidas na carta aberta que a direção do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra publicou pouco depois do início da apresentação, esta quarta-feira, à "comunidade CES" (e portanto à porta fechada) do relatório da Comissão Independente de Esclarecimento de Situações de Assédio no Centro de Estudos Sociais, e na qual “declara o seu repúdio e indignação pelas práticas de assédio e abuso moral e sexual e de abuso de poder cometidas por investigadores/as do CES, conforme denunciado perante a Comissão Independente”.
A carta, assinada também pela presidência do Conselho Científico da instituição, permite concluir que, apesar de o relatório não identificar os denunciados em causa nas situações de assédio, abuso sexual e assédio moral, a direção tem conhecimento de quem são. Isso mesmo foi esclarecido durante a apresentação do relatório à “comunidade CES”: a direção recebeu a lista dos denunciados.
Uma das denunciantes, a política brasileira e deputada estadual do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) Isabella Gonçalves, que foi estudante de doutoramento na instituição coimbrã e logo em abril de 2023, após estalar o escândalo (na sequência da publicação, pela prestigiada editora académica Routledge, de um livro, Sexual Misconduct in Academia - Informing an Ethics of Care in the University/ Má conduta sexual na Academia - Para uma Ética de Cuidado na Universidade, contendo um capítulo no qual se descrevia, sem a nomear, uma instituição que corresponde ao CES, e um padrão de assédio moral e sexual no seio da mesma), congratula-se com a posição da direção do CES: “A carta reconhece que há congruência nos relatos apresentados e coincidência entre eles, o que indica más práticas na instituição, motivo pelo qual pedem desculpas. E fala sobre a mudança institucional, acho que é um bom caminho.”
No relatório, ao qual o DN teve acesso, a comissão conclui que, apesar de “as versões apresentadas por várias pessoas denunciantes e por várias pessoas denunciadas” terem sido “em muitas situações incompatíveis entre si, tornando-se, nessas situações, impraticável aferir evidências das mesmas”, e que “a documentação apresentada e as audições realizadas, tanto de pessoas denunciantes como de pessoas denunciadas, não permitiram esclarecer indubitavelmente a existência ou não da ocorrência de todas as situações comunicadas à CI”, “a análise de toda a informação reunida, bem como das versões entre as pessoas denunciantes e pessoas denunciadas que foram compatíveis entre si, indiciam padrões de conduta de abuso de poder e assédio por parte de algumas pessoas que exerciam posições superiores na hierarquia do CES.”