França
11 junho 2024 às 12h33
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Macron descarta demissão “seja qual for o resultado” de eleições antecipadas

“Não é o RN que escreve a constituição, nem o seu espírito”, afirmou o presidente francês ao Figaro quando questionado sobre o que faria se o RN ganhasse as eleições legislativas e pedisse a sua demissão.

O presidente francês, Emmanuel Macron, descartou um cenário de demissão, independentemente do resultado das eleições antecipadas que convocou para combater a ascensão do partido extrema-direita Reunião Nacional (RN).

“Não é o RN que escreve a constituição, nem o seu espírito”, afirmou ao Figaro quando questionado sobre o que faria se o RN ganhasse as eleições legislativas e pedisse a sua demissão. “As instituições são claras, o lugar do presidente é claro e também é claro seja qual for o resultado”, acrescentou.

O presidente francês adiou para esta quarta-feira a conferência de imprensa que estava marcada para esta terça-feira para explicar a sua visão para França, dois dias depois de convocar eleições legislativas antecipadas após a vitória da extrema-direita nas eleições europeias.

"O presidente dará uma conferência de imprensa amanhã, quarta-feira, por volta do meio-dia, na qual deverá expor o rumo que considera justo para a nação", disse uma fonte da equipa do chefe de Estado.

No domingo, a vitória do partido do RN em França, com 31,37% dos votos nas eleições europeias, muito à frente da aliança governista (14,60%), levou Macron a convocar eleições antecipadas de forma inesperada.

Com as eleições, marcadas para 30 de junho e 7 de julho, Macron, que não tinha maioria absoluta na Assembleia Nacional (Câmara Baixa) desde meados de 2022, procura posicionar-se como a opção moderada contra os "extremos".

PM promete “fazer tudo” para evitar “o pior”

Já o primeiro-ministro francês prometeu esta terça-feira fazer tudo para evitar “o pior” nas eleições legislativas antecipadas convocadas por Macron. 

“Cumprirei o meu dever como cidadão devotado ao seu país que fará tudo para evitar o pior”, disse o primeiro-ministro Gabriel Attal aos deputados do partido no poder numa reunião à porta fechada, segundo assessores, tendo referido que a extrema direita estava “às portas do poder" em França.

O primeiro-ministro ficou de fora das discussões iniciais sobre a possibilidade de convocar eleições antecipadas após as eleições europeias deste fim de semana e alertou Macron dos riscos desta decisão quando foi finalmente informado, segundo relatos da imprensa francesa, incluindo o diário Le Monde.

Attal, de 35 anos, nomeado no início deste ano como o mais jovem primeiro-ministro de França, esteve esta segunda-feira visivelmente ausente das ondas de rádio após a convocação das eleições. 

“Cumprirei o meu dever como primeiro-ministro de agir ao serviço do povo francês até ao último minuto”, afirmou aos deputados do partido governista Renascença durante a reunião. Ainda assim, mostrou-se inquieto com a decisão de Macron, apelidando-a de “repentina” e “brutal”. Esta eleição “tem riscos mais dramáticos e históricos do que a de 2022” porque “a extrema direita está às portas do poder”, vincou.

Esquerda deseja criar “frente popular” para eleições antecipadas

Os principais partidos de esquerda na França defenderam esta segunda-feira à noite a criação de uma "nova frente popular" nas eleições legislativas antecipadas.

Após várias horas de negociações, o Partido Socialista, o Partido Comunista, Os Ecologistas e A França Insubmissa (LFI, esquerda radical) comprometeram-se a apresentar "candidaturas únicas na primeira volta" das eleições, marcado para 30 de junho, uma semana antes da segunda volta, em 7 de julho.

"Pedimos a constituição de uma nova frente popular que reúna, de forma inédita, todas as forças de esquerda humanistas, sindicais, associativas e cidadãs", indica um comunicado conjunto publicado após a reunião em Paris.

As quatro forças já disputaram unidas as eleições legislativas de 2022, na aliança Nova União Popular Ecológica e Social (Nupes), então liderada pelo esquerdista Jean-Luc Mélenchon, que meses antes havia ficado em terceiro lugar nas eleições presidenciais.

Porém, a aliança chegou ao fim devido às divergências entre a ala social-democrata e a ala mais radical, o que deixou o partido de ultradireita Reunião Nacional (RN) como a principal força de oposição na Assembleia Nacional (Câmara Baixa).

As eleições europeias mudaram o equilíbrio de forças, com o avanço da ala social-democrata: os socialistas foram os mais votados na esquerda, com 13,83% dos votos, à frente da LFI (9,89%), dos ecologistas (5,5%) e dos comunistas (2,36%).

O anúncio aconteceu no momento em que centenas de jovens, que compareceram a um protesto contra a extrema-direita na capital francesa, estavam reunidos em frente ao local da reunião para pressionar por um acordo.

"Somos um país que hoje se levanta para dizer não à extrema-direita", afirmou o líder socialista Olivier Faure. "Mostramos a nossa vontade de concorrer unidos para propor uma alternativa a Emmanuel Macron", acrescentou Manuel Bompard, líder da LFI.

As eleições legislativas e presidencial de 2022 deixaram a França dividida em três blocos: a aliança centrista de Macron, a extrema-direita de Marine Le Pen e a esquerda, mas os resultados das eleições europeias reavivaram o medo da chegada do partido RN ao poder.

O partido de Le Pen recebeu 31,37% dos votos, muito à frente dos 14,60% do partido de Macron. Duas sondagens sobre as eleições legislativas mostram o RN com 33-34% das intenções de voto. Segundo a 'Harris Interactive', o partido conseguiria entre 235 e 265 dos 577 deputados, contra quase 90 no atual Parlamento.