Há quatro anos os norte-americanos optaram por não reeleger Donald Trump, mas essa foi uma realidade que o ex-presidente nunca reconheceu. Tal como nos negócios, onde as suas empresas foram à falência seis vezes, mas ele sempre conseguiu recuperar - um dos seus livros é precisamente The Art of the Comeback -, o milionário que fez fortuna e nome graças ao imobiliário e aos reality shows acaba de fazer o maior regresso da história e vai voltar à Casa Branca. Apesar dos problemas na Justiça.
Donald John Trump nasceu em Nova Iorque a 14 de junho de 1946 e já era milionário antes dos 10 anos, graças à fortuna que o pai (descendente de alemães, a mãe era escocesa) conquistou no setor imobiliário. O ex-presidente alega que só recebeu um “pequeno empréstimo” de um milhão de dólares do pai, para lançar os seus próprios negócios, mas uma investigação do jornal The New York Times revelou, em 2018, que foram mais de 400 milhões de dólares ao longo dos anos.
Trump, que estudou economia em duas universidades privadas (Fordham e Wharton), pegou no negócio imobiliário do pai e elevou-lhe a fasquia, colocando o seu nome em arranha-céus, hotéis, casinos ou campos de golfe.
As sucessivas falências, negócios menos claros e alegada fuga aos impostos (já na presidência recusou mostrar as declarações de rendimentos), fizeram mossa na “marca Trump”. Mas a televisão veio mudar tudo. Foi com o reality show da NBC The Apprentice e a frase “You’re fired!” (estás despedido) que Trump se tornou uma estrela, catapultando também os filhos para a ribalta.
O milionário tinha 31 anos quando se casou com a modelo checa Ivana, com quem teve três filhos (Donald Jr., Ivanka e Erik), divorciando-se 15 anos depois, após um caso com a atriz Marla Maples. Os dois deram o nó em 1993, ano em que nasceu a filha de ambos, Tiffany, mas divorciaram-se em 1999. O ex-presidente voltou a casar-se em 2005, com a modelo eslovena Melania, 24 anos mais nova, sendo um ano depois de novo pai (de Barron).
Só na viragem do milénio é que Trump, que no passado saltou de partido em partido, mostrou interesse ativo na política para lá dos comentários sobre temas de atualidade, estudando a hipótese de ser candidato à presidência nas eleições de 2000. A ideia caiu por terra, mas voltou a reaparecer antes das presidenciais de 2012, concretizando-se finalmente nas de 2016. Apesar de não ter sido inicialmente levado a sério, conquistou, primeiro, os republicanos com o seu mote nacionalista Make America Great Again (Tornar a América Grande de Novo) e depois os EUA, derrotando Hillary Clinton.
Na Casa Branca, Trump foi um presidente sem filtro, constantemente no Twitter (agora X) a atacar uns e outros, enquanto tirava os EUA dos acordos do clima ou comerciais, restringia a imigração ou cortava nos impostos para as grandes empresas e redesenhava o papel dos EUA no mundo. A Câmara dos Representantes, dominada pelos democratas, aprovou por duas vezes um impeachment contra o presidente - primeiro por pressionar um Governo estrangeiro a arranjar podres sobre Joe Biden; depois pelo seu papel na invasão do Capitólio no dia em que a vitória do democrata nas presidenciais de 2020 foi oficializada. Nas duas vezes, o Senado de maioria republicana salvou-o.
Mas os problemas de Trump não se ficam por aí. Foi o primeiro ex-presidente a ser julgado e condenado (a sentença será conhecida só depois das eleições). Em causa a falsificação de registos empresariais para esconder o montante pago para comprar o silêncio da antiga estrela pornográfica Stormy Daniels em relação a um caso que ambos terão tido, em 2006. Outros processos judiciais estão pendentes, depois de o Supremo Tribunal (onde se sentam três juízes que nomeou - em nove) ter decidido a seu favor em relação à imunidade de um presidente ou ex-presidente
Nada disto parece importar, tendo ficado claro nas primárias do Partido Republicano (entretanto redesenhado à sua imagem) que não tinha adversário possível. A decisão final coube aos eleitores, depois de uma campanha em que Trump foi alvo de duas tentativas de assassinato (numa delas, uma bala atingiu-o de raspão numa orelha quando discursava num comício).
Perfil adaptado do original publicado a 2 de novembro