O mercado já antecipava que 2023 teria este desfecho. Num ano marcado pelas subidas das taxas de juro e da inflação, e com o preço das casas em níveis históricos, as famílias portuguesas adiaram o que, para a larga maioria, é o investimento de uma vida: a compra de habitação. Em 2023, adquiriram 116 752 residências, uma queda de 19,8% face ao ano anterior. Nem em 2020, quando deflagrou a pandemia e o setor imobiliário esteve vários meses parado, se venderam tão poucas casas (118 751).
No entanto, em linha com as estimativas dos especialistas do setor, os preços não se ressentiram da menor procura. Subiram 8,2%, embora se verifique uma desaceleração face ao crescimento de 12,6% que registaram em 2022. Neste contexto de contínua valorização dos ativos imobiliários, o valor médio por aquisição no segmento famílias atingiu os 201 374 euros, um aumento de 7,5%. Dada a quebra no número de casas vendidas, estes agregados investiram menos 13,8% do que em 2022, ou seja, 23,5 mil milhões de euros.
Sendo o motor por excelência do mercado imobiliário, a retração das famílias refletiu-se no comportamento global do setor, que inclui outros investidores, nomeadamente estrangeiros. Segundo revelou ontem o Instituto Nacional de Estatística, foram vendidas no total 136 499 habitações em 2023, menos 18,7% do que no exercício de 2022. É o registo mais baixo desde 2017, apontou o INE. Esta quebra no número de transações foi mais acentuada nas habitações existentes (-21,4%) do que nas novas (-6,1%).
O volume de vendas global atingiu os 28 mil milhões de euros, apresentando assim um decréscimo homólogo de 11,9%. As famílias valeram 85,5% do total de casas transacionadas e 83,9% do valor investido. Segundo divulgou o INE, o valor das transações de casas usadas registou uma diminuição de 16,5% face a 2022, totalizando 20,1 mil milhões de euros. Já o volume de vendas de habitações novas aumentou 2,6%, para 7,9 mil milhões. Refira-se que os preços das habitações existentes aumentaram 8,7%, abaixo dos 6,6% observados nos imóveis novos.