Aquisição
23 março 2024 às 09h05
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Habitação: Dificuldades das famílias provocam queda de 20%  na venda de casas

O negócio imobiliário em Portugal conheceu um revés em 2023. Tanto os portugueses como os estrangeiros travaram a onda aquisitiva e o mercado caiu em número de transações e, em menor dimensão, em valor. Este embate não fez mossa no preço da habitação no país, que subiu 8,2%.

O mercado já antecipava que 2023 teria este desfecho. Num ano marcado pelas subidas das taxas de juro e da inflação, e com o preço das casas em níveis históricos, as famílias portuguesas adiaram o que, para a larga maioria, é o investimento de uma vida: a compra de habitação. Em 2023, adquiriram 116 752 residências, uma queda de 19,8% face ao ano anterior. Nem em 2020, quando deflagrou a pandemia e o setor imobiliário esteve vários meses parado, se venderam tão poucas casas (118 751).

No entanto, em linha com as estimativas dos especialistas do setor, os preços não se ressentiram da menor procura. Subiram 8,2%, embora se verifique uma desaceleração face ao crescimento de 12,6% que registaram em 2022. Neste contexto de contínua valorização dos ativos imobiliários, o valor médio por aquisição no segmento famílias atingiu os 201 374 euros, um aumento de 7,5%. Dada a quebra no número de casas vendidas, estes agregados investiram menos 13,8% do que em 2022, ou seja, 23,5 mil milhões de euros.

Sendo o motor por excelência do mercado imobiliário, a retração das famílias refletiu-se no comportamento global do setor, que inclui outros investidores, nomeadamente estrangeiros. Segundo revelou ontem o Instituto Nacional de Estatística, foram vendidas no total 136 499 habitações em 2023, menos 18,7% do que no exercício de 2022. É o registo mais baixo desde 2017, apontou o INE. Esta quebra no número de transações foi mais acentuada nas habitações existentes (-21,4%) do que nas novas (-6,1%).

O volume de vendas global atingiu os 28 mil milhões de euros, apresentando assim um decréscimo homólogo de 11,9%. As famílias valeram 85,5% do total de casas transacionadas e 83,9% do valor investido. Segundo divulgou o INE, o valor das transações de casas usadas registou uma diminuição de 16,5% face a 2022, totalizando 20,1 mil milhões de euros. Já o volume de vendas de habitações novas aumentou 2,6%, para 7,9 mil milhões. Refira-se que os preços das habitações existentes aumentaram 8,7%, abaixo dos 6,6% observados nos imóveis novos.

Lisboa ganha quota

A Grande Lisboa absorveu 32,3% do total dos 28 mil milhões de euros registados com a venda de casas no país, ou seja, 9,1 mil milhões. Nos últimos seis anos, esta é a primeira vez que esta região apresenta um incremento homólogo do seu peso relativo, mais 0,3 pontos percentuais (p.p.), realça o INE. No Norte, o valor das habitações transacionadas ascendeu a 6,6 mil milhões de euros (23,7% do total), enquanto no Centro atingiu os 2,5 mil milhões de euros (8,9%). O Oeste e Vale do Tejo garantiram um montante de 1,7 mil milhões de euros (6,2%) e a Madeira assegurou vendas de 748 milhões (2,7%). Todas estas regiões aumentaram os seus pesos relativos.

No Algarve, o valor das transações fixou-se nos 3,6 mil milhões (12,9% do total) e na Península de Setúbal atingiu os 2,6 mil milhões (9,1%). Estes dois territórios apresentaram uma redução homóloga da quota de 0,6 p.p.. O Alentejo gerou vendas de 798 milhões de euros (2,8%), perdendo 0,2 p.p., e os Açores contabilizou 351 milhões de euros (1,3%), não se verificando alterações do seu peso relativo.

Menos dinheiro estrangeiro

A quebra na venda de casas deveu-se também ao menor investimento por parte dos estrangeiros, embora numa proporção menor. No ano passado, estes investidores compraram 10 391 imóveis residenciais no país, menos 3,1% que o registado em 2022. Esta quebra deveu-se essencialmente à redução no número de vendas a cidadãos da União Europeia, que adquiriram 5025 casas no ano passado, um decréscimo de 13,5% face às 5812 compradas no exercício anterior. Já entre os cidadãos de outros países registou-se um aumento de 9,3% nas aquisições, para 5366 alojamentos.

O valor das transações realizadas por estrangeiros acabou por diminuir 1,4%, para perto de 3,6 mil milhões de euros. Os cidadãos da União Europeia gastaram 1,4 mil milhões e os investidores de outras nacionalidades 2,2 mil milhões. Em média, os europeus pagaram 276 897 euros por habitação.

Já os estrangeiros da categoria restantes países desembolsaram 405 082 euros. O Algarve foi o destino de eleição destes investidores, representando 29,9% das aquisições, seguindo-se o Norte (17,5%) e a Grande Lisboa (15,6%).

Sem surpresas, o valor médio despendido por compradores com morada fiscal em Portugal na compra de casa ficou muito aquém do investido pelos estrangeiros. Os portugueses gastaram 193 830 euros, menos 83 mil euros do que se dispuseram a pagar os europeus, e menos 211 mil do desembolsado por cidadãos oriundos de outros continentes.

sonia.s.pereira@dinheirovivo.pt