Relatório
03 outubro 2024 às 01h23
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Nível de satisfação com o SNS cai para menos de metade

Empresa farmacêutica alemã analisou a perceção das populações de 23 países da Europa sobre sistemas de saúde, saúde mental e uso da Inteligência Artificial nos cuidados. Foram inquiridas mais de 46 mil pessoas, em Portugal duas mil. Os resultados são publicados hoje. Este é o décimo relatório da Stada sobre a saúde.

Conhecer a percepção da população sobre como cada sistema de saúde público responde, promover o debate entre todos os participantes na área da saúde para se encontrarem as melhores respostas para as necessidades de cada população, são os objetivos principais da análise que a Stada, empresa farmacêutica alemã, faz desde 2014, em 23 países da Europa, entre os quais se inclui Portugal, bem como Bélgica, Suíça, Países Baixos, Dinamarca, Áustria, Espanha, França, Chéquia, Uzebequistão, Suécia, Alemanha, Finlândia, Reino Unido, Itália, Eslováquia, Irlanda, Roménia, Bulgária, Sérvia, Polónia, Cazaquistão e Hungria.

Ao todo, e nestes dez anos, já foram inquiridas 188 mil pessoas, com idades que vão desde os 18 anos até aos 99. Segundo é explicado no relatório a que o DN teve acesso, o método de inquirição tem sido o mesmo ao longo destes dez anos, através de entrevista telefónica, realizada nos meses de janeiro e fevereiro, sendo depois as respostas recolhidas nos 23 países trabalhadas e publicadas nesta altura.

Este ano, o relatório refere que foram inquiridas 46 mil pessoas, sendo que duas mil eram portuguesas, com mais de 18 anos - 53% eram mulheres e 47% homens com várias profissões, que vão dos executivos e administrativos aos reformados, desempregados, estudantes e trabalhadores em tempo total ou parcial. Mas todos tiveram de responder às mesmas questões e em cima da mesa estavam: a avaliação da resposta dos cuidados de saúde prestados nos serviços públicos, a avaliação da Saúde Mental e Bem-estar de cada população e o papel da Inteligência Artificial (IA) nos cuidados de saúde, sendo esta um desafio ou uma preocupação.

As respostas, embora muito similares nalgumas situações, sobretudo no que toca à perceção do que corre mal nos serviços de saúde e ao sentimento de bem-estar nas populações, demonstram, por outro lado, as desigualdades no acesso aos cuidados de saúde entre estes países, havendo povos muito satisfeitos com a resposta dada às suas necessidades, outros que nem tanto ou nada satisfeitos. Alguns que atribuem mesmo o que corre mal aos maus salários das profissões na saúde e até ao facto de os decisores políticos não terem experiência nesta área.  

Em relação a Portugal, as respostas recolhidas indicam que a insatisfação com os cuidados de saúde públicos, neste caso prestados no SNS, cai pela terceira vez consecutiva. Só menos de metade dos inquiridos (49%) disse estar satisfeito com a resposta do serviço público, quando nos relatórios de 2022 ainda havia 64% de portugueses satisfeitos e, em 2023, 53%. Ou seja, em 2024, Portugal encontra-se abaixo da média europeia em relação à satisfação da população com os cuidados de saúde, ocupando o 14.º lugar.

No TOP 10 dos mais satisfeitos estão os belgas, suíços, holandeses, dinamarqueses, austríacos, espanhóis, franceses, checos, uzbeques, suecos, alemães. Depois, seguem-se os finlandeses, britânicos, portugueses, italianos, eslovacos, irlandeses, romenos, búlgaros, sérvios, polacos, cazaques e húmgaros.

Para os portugueses as razões da insatisfação estão no facto de já terem recebido ou conhecerem alguém que recebeu cuidados inadequados, resposta dada por 55% dos inquiridos, na dificuldade no acesso aos cuidados, por exemplo de uma consulta, revelada por 46% dos participantes e ainda no facto de não confiarem nos decisores políticos da área da Saúde, o que foi referido por 43%.

À pergunta sobre como se pode melhorar o serviço público? A maioria dos portugueses inquiridos considera que a solução pode estar no aumento dos salários dos médicos, resposta dada por 55% dos inquiridos, e na  garantia de que os decisores políticos têm experiência na área da saúde. 

Na área dos sistemas de saúde, a Stada incluiu também uma questão sobre a Medicina Convencional e aqui quer os portugueses quer as restantes populações dos outros países msotram-se confiantes nos resultados  desta, embora uns também mais do que outros.

E no caso dos portugueses, em 2024 até se mostram mais confiantes do que em 2022. Este ano, 32% responderam confiar plenamente na Medicina Convencional, quando há dois anos só 27% assumiam tal.

Dos que confiam, 43% justificam que é por confiarem no seu médico e no seu farmacêutico, considerando que estes sabem o que é melhor para si. Deste grupo, 42% ainda disse que beneficiou com os cuidados que lhes foram prestados pela Medicina Convencional. E 25% ainda referiu confiar na investigação que é feita há décadas pela medicina convencional. 

Portugueses já fazem alguma coisa pelo bem-estar e 62% diz que é feliz

Em relação ao segundo item analisado pela Stada, Saúde Mental e Bem-Estar, uma das conclusões obtidas é que o desejo do cuidar da saúde mental e do bem-estar é partilhado entre as populações dos 23 países participantes nesta análise.

Os dados recolhidos em Portugal indicam que 63% dos inquiridos considera ter uma boa saúde mental e que, em relação ao bem-estar, a maioria já diz tomar medidas no dia-a-dia, com 55% dos inquiridos a confirmar que já faz exercício físico em casa ou no exterior ou que já tem uma dieta saudável, afirmaram 42% dos inquiridos, ou que já tomam suplementos, referido por 18%.

Contudo, ainda há 11% que assume que pouco faz ou nada pelo seu bem-estar. Destes, a maioria (51%) disse que se tal acontece é porque não tem motivação para se cuidar e 31% porque não tem tempo sequer para o fazer.

Dos que já fazem alguma coisa pelo seu bem-estar, 64% considera que vive feliz, mas dos que nada fazem pelo bem-estar também há 42% que dizem sentirem-se felizes, o que leva este estudo a concluir que, de uma forma geral, “os portugueses são felizes”.

Mas não há bela sem senão, porque o sentimento da solidão acaba por estar muito presente na população portuguesa, e sobretudo nas camadas  mais jovens, já que tal foi referenciado por 65% dos inquiridos entre os 18 e os 35 anos.

Só que tal não é só experienciado em Portugal, o estudo indica ter sido um sentimento referido em todos os países. E a principal razão apontada para este sentimento é também transversal às populações dos 23 Estados: excesso de trabalho e a falta de tempo para atividades sociais, perda de familiares ou trabalhar a partir de casa sem contacto com muitas pessoas.

Quanto ao terceiro item, a Inteligência Artificial (IA) como ferramenta complementar dos cuidados de saúde, Portugal aparece na primeira posição, com 61% dos inquiridos a dizer que confia no uso da IA na área da Saúde. Em segudo lugar aparecem, os espanhóis e os romenos, sendo os povos do Norte e do Leste da Europa os mais desconfiados em relação à IA, que vêem mesmo como uma preocupação. O Google continua a ser a principal fonte de informação sobre saúde.

De acordo com a empresa alemã, estes estudos têm ainda como objetivo aumentar a literacia em saúde e fazer com que os países se aproximem cada vez mais dos objetivos das Nações Unidas e da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Tópicos: Estudo, SNS