Turquia
01 junho 2024 às 00h25
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Despertar o gigante Fenerbahçe. O novo big trouble de Mourinho

Treinador assinou um contrato de duas épocas com o clube de Istambul. Media turcos avançam que vai ganhar 13 milhões/ano e missão é travar os rivais Galatasaray e Besiktas.

Foram quase cinco meses a ver de fora, depois de ter sido despedido da Roma em janeiro, mas José Mourinho está de regresso ao ativo e com uma missão ao jeito dos grandes desafios de que tanto gosta: voltar a despertar o gigante turco Fenerbahçe, equipa que não vence o campeonato do seu país desde 2014. O treinador português, de 61 anos, assinou um contrato válido por duas temporadas, ainda à espera de oficialização - o técnico publicou apenas uma story no Instagram a mostrar as malas feitas e o clube turco anunciou a saída do treinador Ismail Kartal.

Foi uma negociação com alguns contornos curiosos, porque inicialmente o treinador português foi anunciado como trunfo eleitoral de Aziz Yildirim, um dos candidatos à presidência do clube turco no ato marcado para 9 de junho. Mas num raide de última hora, o atual líder do Fenerbahçe, Ali Koç, que também vai avançar para a corrida eleitoral, antecipou-se e garantiu Mourinho. Em toda esta operação foi fundamental o papel do português Mário Branco, diretor desportivo do clube de Istambul.

De acordo com a imprensa turca, Mourinho tem à sua espera um contrato financeiramente à sua altura 13 milhões de euros de salário anual (o que perfaz 26 milhões se concluir as duas épocas) e mais bónus por objetivos (leia-se títulos) conquistados. O acordo tem ainda uma cláusula de opção para a sua ligação ser estendida por mais uma temporada.

Ainda de acordo com relatos da imprensa da Turquia, na conversa que manteve com Mourinho, e para o convencer a assinar  por Ali Koç, o diretor desportivo Mário Branco traçou um perfil pouco simpático do outro candidato, culpando-o por, durante a sua gerência (Aziz Yildirim foi presidente do Fenerbahçe entre 1998 e 2018), ter arruinado financeiramente o emblema de Istambul.

“O que tiver de acontecer vai acontecer. Sei o peso da minha história. Que mesmo quando treino equipas não talhadas para ganhar, as pessoas esperam que eu ganhe sempre. Nas duas últimas épocas joguei duas finais europeias e quero jogar mais”, desabafou o técnico português no início de maio.

Na capital turca, José Mourinho terá pela frente a missão de acordar o histórico de Istambul, que não consegue conquistar o título de campeão desde a temporada 2013-14. Aliás, o último troféu ganho pelo Fenerbahçe, que terminou esta temporada no 2.º  lugar do campeonato, foi a Taça da Turquia, em 2022-23, com Jorge Jesus no comando da equipa.

Nada que o perturbe, pois como chegou a confessar há uns anos, costuma sempre escolher equipas que... dão problemas.

“Sou péssimo a escolher equipas. Escolho sempre equipas, como se diz em Inglaterra, em big trouble. O Inter estava em big trouble, o Real Madrid em big trouble, o Manchester United em big trouble, ou seja, sempre em big trouble. E o que é que significa este big trouble? Que são equipas que querem ganhar, mas que estão a milhares de quilómetros de distância de ganhar. Uma coisa é a dimensão do clube e a história do clube e a outra é a atualidade do clube”, referiu há uns anos numa entrevista ao Expresso.

Duelo intercontinental

O objetivo de José Mourinho passa por tentar acabar com o domínio dos rivais Galatasaray e Besiktas. O primeiro foi campeão cinco vezes na última década; o segundo conquistou o troféu em três ocasiões. Pelo meio, desde 2014-15, houve outros campeões isolados (Trab-zonspor em 2021-22 e Basaksehir em 2019-20).

O atual campeão Galatasary é o clube com mais títulos de campeão conquistados (24), seguido do Fenerbahçe (19) e do Besiktas (16). Isto com a curiosidade de o clube que vai ser comandado por Mourinho ter ficado 25 vezes na segunda posição, a última das quais na época que agora terminou.

A maior rivalidade do futebol turco é precisamente entre o Galatasaray e o Fenerbahçe, um duelo que ultrapassa o campo desportivo e tem até tem contornos territoriais e ideológicos. A localização dos respetivos  estádios e sedes administrativas estão em continentes diferentes: o Galatasaray está fixado na região europeia de Istambul, o Fenerbahçe na parte asiática da cidade.

Existe até uma história curiosa em torno da cadeia de fast food McDonald’s, situada perto do estádio do Fenerbahçe, que foi obrigada a mudar as cores amarelo e vermelho para preto... porque essas eram precisamente as cores do equipamento do eterno rival.

Conhecidos que são os mind games de Mourinho e a sua natural apetência para a provocação, esperam-se na próxima época declarações que prometem fazer manchetes dos media turcos, sobretudo quando se chegar às vésperas do dérbi intercontinental com o Galatsaray, equipa que é treinada por Okan Buruk.

O Special One, alcunha que o persegue desde a primeira passagem pelo Chelsea, será o terceiro treinador português da história do emblema turco, pois além de Jorge Jesus, também Vítor Pereira passou pelo banco do clube, em duas ocasiões (2015 e 2021). E a Turquia será o quinto país onde vai trabalhar, depois de Portugal (Benfica, U. Leiria, FC Porto), Inglaterra (Chelsea, Manchester United e Tottenham), Espanha (Real Madrid) e Itália (Inter Milão e Roma).