Distúrbios
23 outubro 2024 às 10h45
Atualizado em 23 outubro 2024 às 11h50
Leitura: 4 min

Autocarro incendiado no Bairro do Zambujal retirado com escolta policial

Agentes da PSP escoltaram às 10.40h a viatura que vai remover o autocarro incendiado na terça-feira à noite no bairro do Zambujal, onde vivia Odair Moniz, que foi baleado por um agente da PSP na Cova da Moura, Amadora.

Um carro reboque da polícia chegou ao local acompanhado de elementos do corpo de intervenção da PSP, segundo constatou a agência Lusa no local.

Os agentes tomaram posição junto ao pesado de passageiros incendiado por desconhecidos enquanto o reboque entrava na rua das Galegas.

Os moradores presentes não se manifestaram.

Odair Moniz, de 43 anos, foi baleado por um agente da PSP na madrugada de segunda-feira, no Bairro da Cova da Moura, na Amadora, e morreu pouco depois, no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa.

A manhã seguinte

A situação no bairro do Zambujal, na Amadora, em Lisboa, está na manhã desta quarta-feira calma. 

"Isto é apenas um grupo que anda aí a divertir-se mas acho que já chega. Eu estou aqui numa zona segura mas com crianças em casa, ficamos sempre com receio. É complicado", disse à Lusa Cátia F, 38 anos, moradora no centro do bairro do Zambujal.

Hoje de manhã, Cátia decidiu acompanhar as filhas, mas na terça-feira foi buscá-las ao fim da manhã "por uma questão de segurança" lamentando a ausência das forças policiais no bairro.

"A polícia devia cá estar. A polícia só aparece aqui à última hora", afirmou.

A Lusa constatou hoje de manhã que a situação é de calma: as crianças estão na escola, muitas pessoas foram trabalhar e alguns idosos dirigem-se para os cafés da zona.  

"Eu creio que isto do autocarro foi apenas uma chamada de atenção para ver se alguém nos ouve. Hoje de manhã não está aqui nenhum polícia, mas também é precisa alguma segurança. Alguém do Governo devia justificar-se sobre o que se está a passar porque até agora não vimos nada", disse à Lusa, Luís P, 45 anos, morador no centro do bairro.

"O problema aqui e nestes bairros problemáticos são os polícias jovens que mandam para aqui. Não sabem lidar com o povo. Um jovem [polícia] de 19 ou 20 anos quando tem uma arma na mão sente-se superior", disse Luís P, sublinhando que os agentes deveriam ter mais experiência.

Luís P. diz ainda que conhecia Odair Moniz, que se tratou "de uma injustiça", acrescentando que as pessoas do bairro estão unidas.

"Não há problema entre nós. Como vê estamos aqui no café. Somos unidos, mas isto começa a ser um flagelo: polícias sem experiência a virem para bairros. Tudo isto foi uma grande injustiça", realçou.

Os desacatos têm sucedido desde segunda-feira após a morte de um homem baleado pela PSP na Cova da Moura. Começaram no Bairro do Zambujal e espalharam-se a várias zonas de Lisboa, nomeadamente Carnaxide (Oeiras), Casal de Cambra (Sintra) e Damaia (Amadora).

Na sequência dos desacatos, três pessoas foram detidas na terça-feira no concelho da Amadora, duas das quais por incêndio e agressões a agentes policiais e outro por incêndio e posse de material combustível, um agente foi apedrejado e duas viaturas policiais ficaram danificadas e vários caixotes do lixo foram incendiados. Um grupo tentou, sem sucesso, incendiar uma bomba de gasolina.

No bairro da Portela, Carnaxide, Oeiras, foi incendiado na terça-feira à noite um autocarro, além de vários caixotes do lixo e uma viatura ligeira.

A mesma fonte policial adiantou que antes do incêndio no autocarro, dois passageiros foram feridos sem gravidade e assaltados. 

Dois polícias feridos e 12 veículos incendiados

De acordo com a PSP, registaram-se, no total, 60 ocorrências "de desordem e incêndio em mobiliário urbano (maioritariamente caixotes do lixo)" em várias zonas da Área Metropolitana de Lisboa, nomeadamente nos concelhos de Lisboa, Amadora, Oeiras, Odivelas, Loures, Cascais, Sintra e Seixal, "tendo sido ainda apreendido diverso material inflamável.

No total, foram incendiados 12 veículos: dois autocarros, oito viaturas, dois carros da polícia e um motociclo. 

Dois polícias ficaram feridos, devido ao arremesso de pedras. Os agentes tiveram que receber tratamento hospitalar, sendo que "um deles" ficou "em situação de baixa médica". 

A PSP indica ainda, em comunicado, que há a registar "dois cidadãos (passageiros de um dos autocarros incendiados) vítimas de esfaqueamento, ainda que sem gravidade, alegadamente pelos indivíduos que roubaram e incendiaram a viatura pesada de passageiros".

Odair Moniz foi baleado por um agente da PSP na madrugada de segunda-feira, no Bairro da Cova da Moura, na Amadora, e morreu pouco depois, no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa.

Na segunda-feira, o Ministério da Administração Interna determinou à Inspeção-Geral da Administração Interna a abertura de um inquérito urgente e também a PSP anunciou a abertura de um inquérito interno para apurar as circunstâncias da ocorrência. O agente que baleou o homem foi entretanto constituído arguido, indicou fonte da Polícia Judiciária.