São os mais velhos e com menos recursos quem mais aposta, sobretudo na lotaria instantânea, a célebre “raspadinha”. Um estudo promovido pelo Conselho Económico e Social (CES) em parceria com a Universidade do Minho - Quem paga a raspadinha? - estima que “100 mil portugueses tenham comportamentos problemáticos com ‘raspadinhas’, dos quais cerca de 30 mil apresentam perturbação de jogo patológico”. Nuno Alves, administrador executivo do departamento de jogos Santa Casa confirma: “Na “raspadinha” temos sobretudo apostadores com mais de 55 anos”. Este é, aliás, o jogo campeão de vendas da Santa Casa, com um valor anual de 1836 milhões de euros apostados, em 2023. No extremo oposto, o jogo com menos apostadores é o velhinho Totobola, com apostas na ordem dos 5,6 milhões de euros, no ano passado.
Perante este volume de apostas, a Santa Casa, que detém o monopólio do jogo social em Portugal, decidiu lançar uma campanha inédita, de promoção do jogo responsável: “Saber Parar Também é Ganhar”. “É uma campanha inovadora porque não é só dedicada ao jogo mas a várias dependências. Queremos também chamar a atenção para outras questões como o álcool ou as drogas”, começa por explicar Nuno Alves. “No fundo é uma tomada de posição que a Santa Casa tem enquanto exploradora do monopólio que existe. No caso, para nós, é a questão do jogo”.
Esta campanha tem sido divulgada nas televisões, rádios, em mupis e cartazes, por exemplo, colados nos transportes públicos. “A campanha faz parte de uma estratégia mais alargada do que queremos criar para as pessoas. Queremos que as pessoas que utilizam os jogos sociais possam fazê-lo de uma forma responsável, isto é, tendo informação sobre o que é um comportamento aditivo ou não. Queremos criar um conjunto de ações, que vamos desenvolver ao longo do ano, para que as pessoas possam usufruir dos jogos sociais em contexto seguro”.
A campanha “Saber Parar Também é Ganhar” é apenas a primeira dessas ações. “Começámos agora com a campanha publicitária, que é mais visível, mas a partir de abril vamos começar a implementar uma nova geração de terminais de venda de jogo social”, avança Nuno Alves. “Estes terminais vão ter novas potencialidades que vão ajudar, no fundo, os apostadores a terem um maior controlo sobre as suas apostas, junto dos mediadores”. O administrador executivo do departamento de Jogos Santa Casa concretiza: “Ao apostar, o jogador vai vendo, no seu ‘cesto de compras’, o que está a apostar e se o quer fazer ou não. Vamos dar mais informação a quem está a apostar, no que é o seu histórico de jogo”.
Mas há mais: “Até ao final do ano vamos ter uma nova App dos Jogos Santa Casa e um novo portal. O portal que temos, atualmente, já oferece ferramentas mas queremos dar mais meios de controlo, aos apostadores, nos jogos sociais, sobre as apostas. Os jogadores vão, por exemplo, poder controlar o tempo que estão a jogar; haverá alertas sobre esse tempo. Há um conjunto de ferramentas que vão estar incluídas no portal e na App para que a pessoa possa ter noção do seu comportamento e para que possa decidir, por si própria, se quer continuar a jogar, ou não”.
A Santa Casa tem diversos jogos sociais disponíveis, entre os quais, além da lotaria instantânea, a lotaria tradicional, o Placard, o Euromilhões, o Totoloto, Totobola ou, mais recentemente, o Eurodreams. No ano passado, os portugueses gastaram mais de três mil milhões de euros em jogo. “A lei não nos proíbe de jogar mas a Santa Casa tem, também, uma ação muito forte na formação dos mediadores, que são mais de 18 mil, em todo o país. Estes, por exemplo, têm a obrigação de verificar a idade do apostador, se surgirem dúvidas. Podem também abordar as pessoas e dizer-lhes que nunca podem jogar para reparar perdas, ou que não devem jogar a crédito. Também podem aconselhar o jogador a parar e deixar passar um certo tempo até fazer novas apostas. Aliás, os novos terminais irão contabilizar esse tempo”, observa o responsável.
Nuno Alves finaliza: “Há uma atenção redobrada sobre alguns comportamentos que nos têm sido relatados e, por isso, decidimos tomar a dianteira e avançar com estas medidas.”