O ex-avançado internacional português Rui Águas, autor do primeiro golo da equipa das 'quinas' sob orientação de Artur Jorge, recordou o antigo futebolista e treinador, falecido esta quinta-feira aos 78 anos, como figura particular da modalidade.
"Deixa-nos uma pessoa muito especial enquanto jogador, treinador e vencedor de uma Taça dos Campeões Europeus. Era uma pessoa diferente ou, melhor dizendo, invulgar", disse à agência Lusa o ex-jogador, que assistiu à primeira passagem pelo comando da seleção nacional do 'rei', que já o treinava em simultâneo no FC Porto, de 1990 e 1991.
Entre dois períodos ao serviço do Benfica (1985-1988 e 1990-1994), Rui Águas alinhou pelos 'dragões' e sagrou-se campeão nacional em 1989/90, temporada que assinalou o regresso de Artur Jorge ao clube das Antas, pelo qual arrebatou a Taça dos Campeões Europeus, em 1986/87, ao derrotar os alemães do Bayern Munique na final, em Viena.
"Não precisávamos de falar muito. Eu percebia sempre que ele gostava de mim, que se entendia comigo e gostava da minha opinião. Não era uma pessoa muito aberta, sendo mais para o introvertido. Ainda assim, não é preciso falar muito para que as pessoas se entendam quando têm pontos em comum", transmitiu o ex-ponta de lança, de 63 anos.
Com 17 tentos em 31 partidas, Rui Águas foi o segundo melhor marcador da I Liga em 1989/90, apenas atrás do sueco Mats Magnusson, com 33 tentos pelo Benfica, clube ao qual o filho de José Águas, antiga glória 'encarnada', retornaria na temporada seguinte.
A relação pessoal com Artur Jorge perdurou na seleção nacional, tendo o ex-avançado abrilhantado a estreia do sucessor de Juca em 29 de agosto de 1990, ao marcar aos 57 minutos do particular com a recém-campeã mundial RFA (1-1), 'anulando' o livre direto concretizado aos 14 pelo capitão Lothar Matthäus, no antigo Estádio da Luz, em Lisboa.
"Lembro-me perfeitamente. Foi um golo importantíssimo para mim. Embora não [tivesse sido num desafio] oficial, marquei à seleção campeã do mundo na Luz. Sei que o Jorge Cadete recuperou a bola e cruzou-a para mim. Foi uma noite boa", frisou, acerca de um embate que reuniu apenas 20.000 espectadores e marcou igualmente a estreia de Berti Vogts como substituto Franz Beckenbauer, falecido no mês passado, no banco da RFA.
A 'mannschaft' atuou pela primeira vez desde a vitória sobre a Argentina (1-0), de Diego Maradona, na final do Mundial de 1990, em 08 de julho, no Estádio Olímpico de Roma, eternizada com um penálti tardio batido por Andreas Brehme, que morreu na terça-feira.
O encontro particular com Portugal significou também a última aparição futebolística da RFA antes da reunificação alemã, em 03 de outubro, e precedeu o início da qualificação para a fase final do Euro1992, que os lusos falharam e foi dominada pela surpreendente Dinamarca, ao impor-se aos germânicos na decisão (0-2), em Gotemburgo, na Suécia.