Tinha 77 anos
01 maio 2024 às 08h30
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Morreu o escritor norte-americano Paul Auster, "gigante da literatura contemporânea"

Várias personalidades do mundo literário, mas também político, portuguesas e estrangeiras, reagiram com pesar à morte do escritor, evocando o romancista como "um gigante da literatura contemporânea".

O romancista norte-americano Paul Auster, autor de obras como "A Trilogia de Nova Iorque" e "Cidade de Vidro", morreu na terça-feira aos 77 anos, informou o jornal The New York Times.

Auster morreu em casa, em Nova Iorque, vítima de cancro do pulmão.

Nascido no seio de uma família judia de ascendência austríaca, em 1947, em Newark (Nova Jérsia), Auster faria mais tarde de Brooklyn a sua casa e cenário de romances, sobretudo nas décadas de 1980 e 1990.

Tem uma extensa obra literária publicada em mais de 40 línguas.

Em Portugal, Paul Auster tem grande parte da obra publicada, em particular os romances, como Mr. Vertigo, "Palácio da Lua", Música do Acaso, Leviathan, A Trilogia de Nova Iorque, Timbuktu, O livro das ilusões, As loucuras de Brooklyn, O homem na escuridão e 4 3 2 1, com o qual foi finalista ao Booker Prize.

Assinou a realização de um par de filmes, incluindo A vida interior de Martin Frost (2007), rodado parcialmente em Portugal.

Foi galardoado com o Prémio Príncipe das Astúrias de Literatura 2006, feito Comendador da Ordem das Artes e das Letras de França em 2007 e é membro da Academia Americana de Artes e Letras e da Academia Americana de Artes e Ciências. 

Personalidades lamentam morte de "gigante da literatura contemporânea"

Várias personalidades do mundo literário, mas também político, portuguesas e estrangeiras, reagiram com pesar à morte do escritor norte-americano Paul Auster, evocando o romancista como "um gigante da literatura contemporânea".

O escritor português João Tordo recordou Auster como o "mais influente" escritor da sua "vida literária entre os 15 e os 25 anos", escrevendo, na sua página na rede social Facebook, "um parágrafo 'austeriano'", onde confessa que a "certa altura" parou de ler os seus livros, leitura que retomaria mais tarde.

Falando do impacto que lhe causaram livros como O Palácio da Lua, A Música do Acaso ou Mr Vertigo, João Tordo considerou Paul Auster "um escritor único e incrivelmente original".

"O que os críticos lhe apontavam eram precisamente o que fazia dele um autor tão fascinante: ser ele mesmo, com todas as forças e fragilidades do ser humano. Foi o último autor que me fez ler até às quatro da manhã à luz de uma lanterna em dia de escola, e estou-lhe eternamente grato", escreveu, terminando com um "Boa viagem, Mr. Auster".

Também a escritora portuguesa Patricia Reis lembrou, nas redes sociais, as vezes em que se foi cruzando com o escritor, referindo que o gosto pelos seus livros redobrou depois de o ter conhecido.

"Jantámos em 2017, antes de uma sessão no Festival Internacional de Cascais. A entrevista que lhe fiz foi animada, com ritmo, porque ele era um bom conversador. [...] Disse-me que estava contente, aos 70 anos, por ter vivido mais tempo do que o pai. Disse-me que a solidão da escrita é também um masoquismo. Disse-me que aprendeu - e continuava a aprender - muito, o essencial, com a mulher, Siri Husvedt. Disse-me que nós, portugueses, tínhamos a sorte de saber o valor da poesia. Sempre gostei dos seus livros. Depois de o conhecer, esse gosto redobrou. Quando perdemos mais um escritor o mundo fica pior", escreveu Patrícia Reis. 

Em Espanha, a morte do escritor foi lamentada pela equipa da sua editora, a Seix Barral, pela diretora da Fundação Princesa das Astúrias, Teresa Sanjurjo, que expressou "profundo pesar" pelo falecimento do romancista norte-americano que foi galardoado com o Prémio das Letras da instituição em 2006.

Também o presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez, assinalou a morte daquele que apelidou de "gigante da literatura contemporânea", considerando que o seu legado permanecerá além da sua morte.

"O acaso, a solidão, o destino e a natureza humana são os protagonistas de uma obra repleta de personagens com vidas complexas e matizadas, que soube transferir de forma comovente também para o cinema", escreveu Sánchez na sua conta na rede social X.

"Um gigante da literatura contemporânea morreu, mas o seu legado permanece", acrescentou.

A Fundação "The Booker Prizes" expressou também o seu pesar pela morte do escritor.

"É com grande tristeza que recebemos a notícia do falecimento de Paul Auster, nomeado para o Booker Prize, cuja obra tocou leitores e influenciou escritores de todo o mundo, e cuja generosidade foi sentida em muitos outros locais", escreveu a organização na sua conta na rede social X. 

Editora em Portugal recorda homem "culto, sempre interessado e aberto ao mundo"

A editora LeYa/ASA lamentou esta quarta-feira, "com profundo pesar e sentida consternação", a morte do romancista norte-americano Paul Auster, que conta com 27 livros publicados em Portugal desde 1994, lembrando-o como um homem "culto, sempre interessado e aberto ao mundo".

"Durante 30 anos, a ASA teve o privilégio de publicar os livros de Paul Auster. O escritor nunca deixou de se dedicar totalmente à sua arte, nunca deixou de surpreender, atraindo-nos sempre intensamente para os seus mundos inventados e inimitáveis", afirmou Carmen Serrano, editora da obra do romancista norte-americano em Portugal.

Entre a obra de Paul Auster, a editora Carmen Serrano disse que livros como "A Trilogia de Nova Iorque", "4321" ou "Baumgartner", desafiaram milhões de leitores e derrubaram barreiras linguísticas e culturais em todo o mundo.

O romancista norte-americano Paul Auster morreu na terça-feira aos 77 anos, na sua casa em Nova Iorque, vítima de cancro do pulmão.

"A notícia da sua morte abala todos os que trabalharam mais de perto com Paul Auster, assim como todos os leitores, fãs e admiradores da sua obra", indicou a editora LeYa/ASA.

De acordo com a editora da obra de Paul Auster em Portugal, a voz do romancista norte-americano "é única" e "a sua obra perdurará".

Em declarações à agência Lusa, Carmen Serrano manifestou tristeza com a morte de Paul Auster e realçou o privilégio de conhecer o homem além do escritor, indicando que o norte-americano visitava com alguma frequência Portugal e os seus livros são dos mais vendidos.

"Culto, sempre interessado e aberto ao mundo, muito amigo da sua mulher Siri Hustved, Paul Auster era um homem gentil. A sua relação com Portugal foi forte e constante, acarinhou-nos e foi acarinhado de volta, são muitas as boas recordações que nos deixa", reforçou a editora.