Espanha
24 abril 2024 às 20h10
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Sánchez fala em demissão após acusação contra a mulher

Tribunal abriu uma investigação preliminar por suspeita de tráfico de influência, após denúncia de um coletivo próximo da extrema-direita. PP e Vox falam em “vitimização”.

O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, disse nesta quarta-feira que precisa “parar e refletir” e perceber se “merece a pena” continuar à frente do governo ou “renunciar a esta honra”. A decisão será anunciada na segunda-feira, tendo a sua agenda sido cancelada até lá.

O anúncio surpresa surgiu ao final da tarde numa “carta à cidadania”, que publicou no X (antigo Twitter), depois de um tribunal de Madrid abrir uma investigação preliminar sobre a sua mulher, Begoña Gómez, por suspeitas de tráfico de influência e corrupção empresarial na sequência de uma denúncia apresentada por um coletivo próximo à extrema-direita. 

Sánchez diz que “Begoña defenderá a sua honra e colaborará com a Justiça”, diante de factos “tão escandalosos em aparência como inexistentes”. Mas chama a atenção para a “gravidade dos ataques”, citando a “máquina de lama” do escritor italiano Umberto Eco, que visa “desumanizar e deslegitimar o adversário político através de denúncias tão escandalosas como falsas.”

O primeiro-ministro apontou o dedo ao líder da oposição, Alberto Núñez Feijóo, e ao líder da extrema-direita do Vox, Santiago Abascal. “Uma coligação de interesses de direita e extrema-direita que não toleram a realidade de Espanha, que não aceitam o veredicto das urnas e que estão dispostos a espalhar lama”, com o objetivo de esconder os seus próprios escândalos de corrupção e ausência de agenda política, além de destruir pessoal e politicamente o adversário.

Sánchez questiona se “merece a pena tudo isto”, admitindo que não sabe. “Este ataque não tem precedentes, é tão grave e tão grosseiro que preciso parar e refletir com a minha mulher”, afirma. “Apesar da caricatura que a direita e a extrema-direita política e mediática tentaram fazer de mim, nunca tive apego pelo cargo. Mas tenho pelo dever, o compromisso político e o serviço público”, acrescenta na carta de quatro páginas, que termina dizendo que suspende a sua agenda pública até segunda-feira, quando comunicará a sua decisão.

Mas afinal, que acusações estão em causa contra Begoña Gómez. O Tribunal Superior de Justiça de Madrid indicou que a investigação foi aberta no dia 16 e que o processo é “secreto”. Esta decisão do tribunal foi anunciada poucas horas depois de o jornal El Confidencial ter noticiado que os investigadores estão a examinar os vínculos da mulher de Sánchez com diversas empresas privadas que acabaram por receber fundos e contratos públicos do governo.

O mesmo site afirma que a investigação está relacionada com os supostos vínculos de Gómez com o grupo turístico espanhol Globalia, dono da Air Europa, numa fase em que mantinha negociações com o governo para obter um resgate em grande escala para a empresa devido à pandemia. Na altura , ela dirigia o IE Africa Center, que assinou um acordo de patrocínio com a Globalia em 2020, ano em que o governo socialista deu uma linha de crédito à Air Europa.

Questionado no Congresso sobre a investigação, Sánchez respondeu durante a manhã que “num dia como hoje, e depois das notícias que tive, apesar de tudo, continuo a acreditar na Justiça do meu país”. Mas ao final do dia, o primeiro-ministro extremou a sua posição, dizendo estar a equacionar demitir-se.

O Partido Popular e o Vox acusaram Sánchez de “vitimização” e de ter feito um “ato de pré-campanha” - a Catalunha vai a votos a 12 de maio. “A enésima pirueta de Sánchez. E um ato de pré-campanha, como sempre, vitimizando-se: ele é o bem, os outros, são o mal. Obviamente que quer continuar na Moncloa. A qualquer custo. É marca ‘Pedro Sánchez’. Na segunda-feira iremos todos confirmar”, escreveu o senador do PP, Javier Maroto, no X. Já o Vox, num comunicado, defendeu: “Se quer refletir, que o faça, mas depois de se demitir.”

susana.f.salvador@dn.pt