As ambições autárquicas do Chega em Loures e a vontade de contrariar a tentativa de reverter a recomendação, aprovada pelo executivo municipal do socialista Ricardo Leão, para que o envolvimento em tumultos seja motivo de despejo nos bairros sociais, levou André Ventura a regressar ao concelho que marcou o início da sua ascensão política. Ainda como militante do PSD, quando foi candidato à presidência nas autárquicas de 2017.
“É uma proposta de que não queremos abrir mão mesmo sabendo que isso provoca incómodo nos outros partidos e, sobretudo, no PS”, disse nesta quinta-feira Ventura, à entrada de um encontro com eleitos do partido no concelho, nas instalações da Assembleia Municipal de Loures. As mesmas que, horas depois, receberam a reunião do órgão autárquico em que foi votada a recomendação dos deputados municipais da CDU para que não se proceda à proposta de alteração do Regulamento de Habitação do Município de Loures.
Essa recomendação foi chumbada na noite de quinta-feira, pelas bancadas do PS, PSD, Chega e Iniciativa Liberal, com abstenção do PAN e só com apoio da CDU e do Bloco de Esquerda. Presente, Ricardo Leão garantiu que “não há qualquer tipo de alteração do Regulamento de Habitação que a Câmara de Loures possa aprovar que seja contrária à lei e à Constituição”, refutando acusações dos deputados municipais comunistas e bloquistas.
A recomendação apresentada pelo vereador do Chega, Bruno Nunes, fora aprovada pelo executivo camarário, com os votos favoráveis do próprio Ricardo Leão e dos restantes vereadores do PS e do PSD, contra quatro vereadores da CDU. Mas tanto a decisão do executivo camarário como a referência do presidente a “despejos sem dó nem piedade” geraram uma vaga de protestos no PS. E um artigo co-assinado por António Costa, no qual o antigo primeiro-ministro acusou Leão de ofender “gravemente a identidade e a cultura” do partido, levou a este se demitisse anteontem da presidência da Federação da Área Urbana de Lisboa do PS.
“Não nos cabe a nós, nem a mim, nem ao vereador ou aos deputados municipais em Loures vir em defesa do presidente da Câmara. Isso é trabalho do PS, evidentemente. Mas é estranho ver o antigo primeiro-ministro António Costa a falar da importância de combater o Chega em Loures e no país inteiro, quando, na verdade, a proposta do Chega é algo muito simples”, contrapôs Ventura, argumentando que “deveria ser relativamente consensual” que “quem participa em desacatos e destrói o património público não deve beneficar desse património público”. E disse que Pedro Nuno Santos não retirou confiança política a Ricardo Leão por “saber que temos razão”.