Na sequência da morte de Odair Moniz e dos tumultos na Grande Lisboa, falou-se muito em policiamento de proximidade. Mas concretamente à perceção da população da falta desse policiamento, especificamente direcionado para alguns bairros da periferia, onde a relação com a polícia está mais tensa. Qual é a visão que a PSP tem em relação a isso. Há ou não falta de policiamento? O que é que é preciso fazer mais?
Não há falta de policiamento de proximidade. Desde 2006 que é uma estratégia implementada na Polícia de Segurança Pública (PSP) oficialmente, desde a definição prioritária que foi inscrita no programa do Governo até à sua concretização a nível tático. Os polícias sabem que desde 2006 têm de cumprir funções do policiamento de proximidade. Isto começou há, sensivelmente, 20 anos e desde então tem evoluído bastante. Temos cada vez polícias com mais formação técnica, com uma maior exigência por parte da população para que diversifiquemos a atenção que é dada aos diferentes públicos, especialmente vulneráveis, sem distinção consoante as áreas geográficas.
Sabe que uma das coisas que foram ditas depois da morte do Odair, foi precisamente que, desde 2006 deixou de haver policiamento de proximidade, especificamente relacionado com estes bairros. Como é que interpreta que a perceção das pessoas sejam precisamente o contrário do que acabou de dizer?
Isso não corresponde à verdade.
É a perceção das pessoas...
A perceção das pessoas não corresponde àquilo que são os factos que nós temos reportados.
Pode concretizar então?
Vou concretizar. Neste momento, a PSP tem aproximadamente 850 polícias afetos ao policiamento de proximidade nas diferentes funções. E estes polícias cumprem ao ano sensivelmente, 13 500 a 14 000 ações de sensibilização diversificadas pelos diferentes programas especiais.
Está a falar de programas como a Escola Segura, o Comércio Seguro, o Apoio 65, para os idosos...
Permita-me que prossiga. Em 2023, alcançámos 390.000 destinatários e para além das ações de sensibilização, reforçámos com perto de 50.000 contactos individuais, ou seja, momentos em que os polícias estão reunidos ou com a pessoa, ou com médicos, psicólogos, professores, familiares, no sentido de abordar e encontrar uma solução para um caso específico.
Isso a nível nacional?
A nível nacional, nos diferentes bairros. E aí eu não consigo dar uma realidade à escala de bairro. Mas posso dizer que na generalidade dos bairros, com maior ou menor dificuldade em conseguirmos interagir com as comunidades, procuramos sempre encontrar diferentes organizações que possam servir de interlocutores.
Então, por exemplo, na zona da Grande Lisboa, onde há cerca de 500.000 pessoas que são habitantes de bairros em condições sócio económicas mais vulneráveis, que programas de policiamento de proximidade existem?
Não tenho os dados do Comando de Lisboa, mas posso dizer como é que funciona em qualquer ponto do país, independentemente de ser em Lisboa ou em qualquer outro distrito.
Os programas não são diferentes de acordo com as características demográficas, sociais, económicas, etc., de cada uma zonas?
Está a falar dos critérios das Zonas Urbanas Sensíveis (ZUS)? Já vamos falar sobre isso para desmistificar de uma vez por todas. Vou explicar como fazemos, independentemente do local, do distrito, se é uma área urbana, suburbana, mais antiga, mais recente, do tipo de população.
O que procuramos é encontrar pontos de contacto com as diferentes comunidades. E esses pontos de contacto podem ser os diferentes órgãos sociais das autarquias. juntas de freguesia, por exemplo, câmaras municipais, têm os seus respetivos departamentos de ação Social, que são pontos de contacto e que muitas vezes nos dão a referência daquilo que são as associações locais, organizações não governamentais que acabam por funcionar muitas vezes, não diria mediadores, mas muitas vezes intermediários, para que possamos estar mais perto dessas comunidades.