Guerra em Gaza
03 março 2024 às 21h51
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Israel falta às negociações e exige que Hamas forneça lista de reféns vivos

Benny Gantz, um ministro moderado do governo israelita, está em Washington para reuniões na Casa Branca, uma viagem criticada por Benjamin Netanyahu. Na agenda estão encontros com Kamala Harris e Antony Blinken.

Israel não marcou presença nas negociações para um cessar-fogo em Gaza que estavam agendadas para este domingo no Cairo, depois de o Hamas ter recusado fornecer uma lista dos reféns que ainda se encontram vivos, segundo noticiou o jornal israelita Yedioth Ahronoth, citando fontes de Telavive. Ao início do dia, um alto funcionário do Hamas dizia ser possível uma trégua na Faixa de Gaza “dentro de 24 a 48 horas”, mas apenas se Israel aceitasse as exigências do movimento islamista.

“Não há delegação israelita no Cairo”, disseram ao mesmo jornal autoridades israelitas não identificadas. “O Hamas recusa-se a dar respostas claras e, portanto, não há razão para enviar a delegação israelita”. Uma posição que contraria o que havia sido avançado no sábado,  quando a Reuters, citando fonte oficial sénior dos Estados Unidos, noticiou que a estrutura de um acordo sobre um cessar-fogo de seis semanas já teria a anuência de Israel, faltando apenas a concordância do Hamas em libertar os reféns.  

Já o Hamas, cuja delegação chegou à capital do Egito logo no sábado, dizia ontem que uma trégua poderia ser assinada dentro de “24/48 horas” se Israel “aceitar as exigências do Hamas, que incluem o regresso dos palestinianos deslocados ao norte de Gaza e um aumento na ajuda humanitária”, disse fonte oficial do Hamas, que solicitou anonimato. O movimento islamista palestiniano exige ainda um cessar-fogo permanente e uma retirada israelita em troca da libertação dos reféns detidos em Gaza.

A proposta dos países mediadores - Qatar, Estados Unidos e Egito - refere uma pausa de seis semanas nos combates e a entrega de 42 reféns em troca da libertação dos palestinianos detidos por Israel, sendo que o objetivo é conseguir uma trégua antes do início do Ramadão, marcado para o próximo domingo. O ministro dos Negócios Estrangeiros egípcio, Sameh Shukri, admitiu na sexta-feira que o início do Ramadão é o prazo limite para a cessação das hostilidades, porque se a guerra continuar durante o mês sagrado muçulmano de jejum terá “consequências muito terríveis”. Durante a semana passada, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, mostrou-se sempre confiante de que será possível conseguir um acordo até ao Ramadão.

Viagem aos EUA divide governo

Um importante ministro do Governo israelita chegou este domingo a Washington para conversações com autoridades norte-americanas, provocando uma repreensão do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Segundo a fonte oficial israelita, a viagem de Benny Gantz, um rival político centrista que se juntou ao governo “linha-dura” de Netanyahu nos primeiros dias da guerra contra o Hamas é um “sinal das crescentes divergências” dentro do executivo.

Esta viagem de Gantz ocorre no meio de profundas divergências entre Netanyahu e  Biden sobre como aliviar a situação e o sofrimento dos palestinianos na Faixa de Gaza e analisar cenários para o pós-guerra no enclave. Os Estados Unidos lançaram no sábado ajuda alimentar sobre a Faixa de Gaza, depois de mais de uma centena de palestinianos que procurava conseguir alimentação nos “comboios humanitários” terem sido mortos.

Um funcionário do Likud, partido de Netanyahu, disse que a visita de Gantz ocorreu sem autorização do líder israelita, que teve uma “conversa difícil” com Gantz sobre a viagem. “Israel tem apenas um primeiro-ministro”, disse Netanyahu a Gantz, segundo a fonte.

No entanto, uma outra autoridade israelita garantiu que Gantz informou Netanyahu da intenção de viajar para os Estados Unidos e de coordenar mensagens, sublinhando que a visita visa fortalecer os laços com Washington, reforçar o apoio à campanha terrestre de Israel e pressionar pela libertação dos reféns.

Gantz deve reunir-se com a vice-presidente norte-americana, Kamala Harris, com o conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan,  com o secretário de Estado, Antony Blinken. Medias norte-americanos avançavam ontem que Biden poderá “aparecer” num dos encontros que Gantz tem agendados na Casa Branca. 

Gantz, que segundo as sondagens conseguiria apoio suficiente para se tornar primeiro-ministro se a votação se realizasse hoje, é visto como um político moderado. 

Risco ambiental no Mar Vermelho

Os Estados Unidos disseram ontem que o cargueiro Rubymar, que se afundou no sábado no Mar Vermelho após ser atacado por rebeldes Houthis há duas semanas, transportava 21 000 toneladas métricas do fertilizante químico sulfato de amónio, altamente tóxico.
Em comunicado, o Comando Central dos Estados Unidos refere que o fertilizante representa “um risco ambiental no Mar Vermelho” e que o navio afundado “representa também um risco de impacto para outros navios que transitam nas movimentadas rotas marítimas daquela via navegável”. No sábado, o governo internacionalmente reconhecido do Iémen, que está a enfrentar os Houthis, já havia dito que o naufrágio representa “uma catástrofe ambiental sem precedentes”.

ana.meireles@dn.pt