Médio Oriente
22 maio 2024 às 08h48
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Espanha, Irlanda e Noruega vão reconhecer Estado da Palestina a 28 de maio

Israel deu instruções para a retirada imediata dos embaixadores na Irlanda e Noruega e diz que "o terrorismo compensa". Já o presidente Abbas saúda o reconhecimento.

Espanha, Noruega e República da Irlanda vão reconhecer a Palestina como Estado na próxima terça-feira, dia 28 de maio, devendo outros países fazer o mesmo.

No entender do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, “a ofensiva só perpetuará o ódio”. “Não podemos permitir isso, os países que defendem os direitos humanos são obrigados a agir na Ucrânia e na Palestina, sem duplicidade de critérios. Somos obrigados a fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para dizer em alto e bom som que não permitiremos a possibilidade de dois Estados serem destruídos. Informo que depois de termos acordado a decisão da coligação no dia 28 de maio, aprovaremos o reconhecimento da Palestina”, acrescentou.

Já o primeiro-ministro norueguês, Jonas Gahr Støre, frisou que "não pode haver paz no Médio Oriente se não houver esse reconhecimento". A Noruega, que não é membro da União Europeia, tem sido apoiante de uma solução de dois Estados entre Israel e a Palestina. O chefe do Executivo de Oslo, referindo-se diretamente ao atual conflito disse que "o terror foi cometido pelo Hamas e por grupos armados que não são apoiantes de uma solução de dois Estados e do Estado de Israel".

Também o primeiro-ministro irlandês, Simon Harris, se juntou à causa. “Hoje, Irlanda, Noruega e Espanha estão a anunciar que reconhecemos o Estado da Palestina. Este é um dia histórico e importante para a Irlanda e para a Palestina”, afirmou, apontando igualmente o anúncio formal para 28 de maio.

Os primeiros-ministros de Eslovénia e Malta divulgaram uma declaração, em março, a comprometer-se com o reconhecimento do Estado da Palestina.

Em abril, Sánchez fez um périplo europeu para tentar levar mais países a reconhecer a Palestina que incluiu também a Bélgica e um Estado que não faz parte da União Europeia (UE), a Noruega.  

Dentro da UE, nove Estados-membros reconhecem já a Palestina: Bulgária, Chipre, República Checa, Hungria, Malta, Polónia, Roménia e Eslováquia deram o passo em 1988, antes de aderirem ao bloco europeu, enquanto a Suécia o fez sozinha em 2014, cumprindo uma promessa eleitoral dos sociais-democratas então no poder.

Nas Nações Unidas, já reconheceram unilateralmente o Estado da Palestina cerca de 137 dos 193 membros da organização, de acordo com a Autoridade Palestiniana.

Israel manda retirar embaixadores de Irlanda e Noruega e diz que "terrorismo compensa"

Israel já reagiu, através do Ministério dos Negócios Estrangeiros, alertando que “reconhecer um Estado palestiniano é correr o risco de transformá-lo num peão nas mãos do Irão e do Hamas”, acrescendo que a medida “apenas alimentará ou extremismo e a instabilidade”. 

O chefe da diplomacia israelita, Israel Katz, anunciou que deu instruções para a retirada imediata dos embaixadores de Israel na Irlanda e na Noruega, prometendo que “Israel não vai permanecer em silêncio face àqueles que minam a sua soberania e põe em perigo a sua segurança”.

“A decisão de hoje envia uma mensagem aos palestinianos e ao mundo: o terrorismo compensa. Depois de a organização terrorista Hamas ter levado a cabo o maior massacre de judeus desde o Holocausto, depois de cometer crimes sexuais hediondos testemunhados pelo mundo, estes países optaram por recompensar o Hamas e o Irão reconhecendo um Estado palestiniano”, acrescentou o ministro, que fala numa “injustiça para a memória das vítimas do 7 de outubro”, e “um golpe nos esforços para devolver os 128 reféns e um incentivo ao Hamas e aos jihadistas do Irão, que mina a oportunidade de paz e põe em causa o direito de Israel de defesa própria”.

Katz assegura que “Israel não permanecerá em silêncio” e “haverá consequências ainda mais graves”, avisando que a “loucura” destes Estados europeus não detém as intenções israelitas: “estamos determinados a alcançar os nossos objetivos: restaurar a segurança dos nossos cidadãos, desmantelar o Hamas e trazer os reféns para casa. Não existem causas mais justas do que estas.”

EUA diz que reconhecimento da Palestina deve passar pela "negociação direta entre as partes"

O Governo dos Estados Unidos declarou entretanto que o reconhecimento da Palestina deve envolver negociações diretas entre as partes, nomeadamente com Israel, após a decisão de Espanha, Irlanda e Noruega de reconhecer o Estado palestiniano.

"O Presidente Joe Biden é um firme defensor de uma solução de dois Estados e tem sido ao longo de sua carreira", declarou um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos à televisão CNN.

Entretanto, Joe Biden acredita que o reconhecimento de um Estado palestiniano "deve ser realizado através de negociações diretas entre as partes" e não "de forma unilateral", referiu o porta-voz.

Abbas e Hamas saúdam reconhecimento da Palestina

O Presidente da Autoridade Nacional Palestiniana (ANP), Mahmoud Abbas, congratulou-se com o reconhecimento do Estado palestiniano por Espanha, Irlanda e Noruega.

A decisão contribui para a "consagração do direito do povo palestiniano à autodeterminação na sua terra e para a adoção de medidas reais de apoio à implementação da solução de dois Estados", disse a presidência da ANP num comunicado.

Já o grupo islâmico palestiniano Hamas saudou a decisão da Irlanda, Noruega e Espanha de reconhecer um Estado palestiniano como um “passo importante” e instou outros países a seguirem o exemplo.

“Consideramos que este é um passo importante para afirmar o nosso direito à nossa terra”, disse o Hamas em comunicado, apelando “aos países de todo o mundo para que reconheçam os nossos legítimos direitos nacionais”.

Arábia Saudita, Jordânia e Egito aplaudem anúncios de reconhecimento

 Arábia Saudita, Jordânia e Egito aplaudiram a decisão de Espanha, Irlanda e Noruega de reconhecer a Palestina como Estado, defendendo que vai ajudar à paz e pedindo à comunidade internacional para avançar no mesmo sentido.

"O reino [da Arábia Saudita] aplaude esta decisão dos países amigos, que confirma o consenso internacional sobre o direito inerente do povo palestiniano à autodeterminação, e apela aos restantes países para que adotem rapidamente esta mesma decisão", afirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Riade, em comunicado publicado na rede social X.

O reconhecimento "contribuirá para encontrar uma forma fiável e irreversível de alcançar uma paz justa e duradoura que materialize os direitos dos palestinianos", acrescentou.

Por isso, o ministério saudita apelou à comunidade internacional, e, "em particular, aos membros permanentes do Conselho de Segurança [da ONU] que ainda não reconheceram o Estado da Palestina", para que acelerem o processo.

O reconhecimento do Estado palestiniano deve respeitar "as fronteiras de 1967, com Jerusalém Oriental como capital, para que o povo palestiniano possa desfrutar dos seus direitos legítimos e alcançar uma paz justa e abrangente para todos", referiu Riade no mesmo comunicado.

Também o ministro dos Negócios Estrangeiros da Jordânia, Ayman Safadi, elogiou a decisão, numa conferência de imprensa realizada em Amã com o seu homólogo húngaro, Péter Szijjártó.

"Saudamos o reconhecimento (...) do Estado da Palestina e apreciamos as decisões que consolidam o caminho para a paz e a solução de dois Estados", afirmou o da Jordânia.

Safadi adiantou esperar que outros países se juntem à Espanha, à Noruega e à Irlanda num "movimento mais amplo, que impõe a paz e coloca o mundo inteiro e a região num caminho claro para uma paz justa e duradoura, sem a qual nenhuma outra solução garantirá a segurança e estabilidade para a Palestina, Israel e toda a região".

O Ministério dos Negócios Estrangeiros egípcio expressou-se em termos semelhantes, apelando, numa declaração hoje divulgada, "aos países que ainda não deram este passo para avançarem no sentido do reconhecimento do Estado da Palestina, a fim de defenderem os valores, a justiça, a equidade e apoiarem os direitos legítimos dos palestinianos".

Por outro lado, o ministro jordano condenou as "ações ilegais" do Governo israelita, em particular, a visita que o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, da extrema-direita, fez hoje à Esplanada das Mesquitas, na cidade de Jerusalém Oriental, ocupada por Israel.

Ben Gvir reiterou, na visita, que Israel não permitirá a declaração da Palestina como Estado.

Safadi referiu-se também a uma declaração feita hoje pelo ministro das Finanças israelita, também da extrema-direita, Bezalel Smotrich, na qual propunha a criação de um colonato na Cisjordânia ocupada por cada país que reconhecesse unilateralmente o Estado palestiniano.

"As decisões de Israel de construir novos colonatos são uma mensagem de que o país continua a agir ilegalmente e a destruir as hipóteses de paz", disse Safadi.