O presidente argentino, Javier Milei, regressou esta sexta-feira a Espanha para uma visita que gerou nova polémica entre o governo de Pedro Sánchez e o Partido Popular de Alberto Núñez Feijóo devido a divergências na classificação dada à mesma e por incluir uma condecoração atribuída por Isabel Ayuso, a presidente da Comunidade de Madrid, do PP. Na agenda não estavam encontros com membros do executivo socialista ou com o rei Felipe VI.
Alheios a qualquer polémica, Ayuso agraciou Javier Milei ao final da tarde desta sexta-feira a Medalha Internacional da Comunidade de Madrid, uma distinção criada há sete anos e que já distinguiu nomes como o ucraniano Volodymyr Zelensky ou o venezuelano Juan Gaidó.
“Encaras com força e coragem medidas que soam como ar fresco”, elogiou a líder popular no seu discurso, numa referência às polémicas reformas que Milei está a implementar no seu país. O presidente argentino agradeceu os elogios às suas políticas: “Viemos do futuro para falar da decadência causada pelo socialismo”, declarou Milei. “Não deixem o socialismo arruinar as vossas suas vidas. (...) A justiça social é profundamente injusta e violenta”.
A polémica em torno de Javier Milei começou em maio, quando o argentino esteve em Madrid pela primeira vez desde que tomou posse como presidente, para participar numa convenção do partido de extrema-direita Vox, sem ter pedido audiências com as autoridades de Espanha. Durante o encontro do Vox proferiu declarações que o governo de Sánchez considerou insultuosas e inadmissíveis por serem feitas numa visita a Espanha - o argentino chamou corrupta à mulher de Pedro Sánchez em Madrid e nas semanas seguintes dirigiu críticas a ministros e chamou “cobarde” ao primeiro-ministro espanhol.
A polémica transformou-se em crise diplomática com a retirada da embaixadora espanhola em Buenos Aires. Paralelamente, Milei e o seu governo têm sublinhado que o presidente argentino tem sido também insultado por membros do executivo espanhol, que o acusam de negacionismo e autoritarismo ou sugeriram que consome drogas.
“Acho que é lógico, o rei é o chefe de um Estado no qual o presidente Milei desrespeitou o presidente do governo espanhol”, afirmou a ministra da Defesa da Espanha, Margarita Robles, logo na quinta-feira, sobre o facto de Felipe VI não se reunir com Milei. “Não creio que a condecoração de Isabel Díaz Ayuso a Javier Milei tenha origem em um amor repentino pelo povo argentino. Acho que ela está fazer isso por maldade”, disse Patxi López, porta-voz socialista no Congresso.
Ayuso defendeu o seu encontro com Milei, declarando ser “uma honra receber o presidente legítimo” da Argentina e que esta era uma visita “oficial”. No entanto, o ministro dos Negócios Estrangeiros, José Manuel Albares, desmentiu Ayuso. “Sem dúvida esta é uma visita privada. Não há nada na agenda oficial do que eu saiba até agora sobre essa visita”, referiu Albares, negando assim um caráter oficial à cerimónia de ontem à tarde na sede da Comunidade de Madrid, e sublinhando que “Espanha só tem uma política externa”.
Também a ministra da Educação e porta-voz do governo, Pilar Alegría, atacou a presidente da Comunidade de Madrid por receber Javier Milei, mas também por “não cumprir a lei” ao não comunicar ao Ministério dos Negócios Estrangeiros o seu encontro com um mandatário estrangeiro. “Assim se vê qual é o conceito de institucionalidade, lealdade e patriotismo da senhora Ayuso, que impõe uma medalha fake a quem insulta as instituições”.
Já o PP considerou “lógico” e “normal” que Isabel Ayuso tenha decidido receber e condecorar o presidente argentino, sem contar com o governo espanhol, numa altura de crise diplomática entre os dois países. “O que não é lógico é que ninguém tenha assistido à tomada de posse de um presidente eleito pelos argentinos. O que defendemos é a recuperação da normalidade das relações externas e internacionais entre dois países como Espanha e a Argentina”, defendeu a secretária-geral dos populares, Cuca Gamarra.