Espanha
21 junho 2024 às 22h36
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Visita de Milei a Madrid abre nova polémica entre o governo e o PP

Presidente da Argentina mais uma vez não se vai encontrar com Felipe VI ou com Pedro Sánchez, a quem já chamou de “cobarde”. Executivo critica a iniciativa de Isabel Ayuso.

O presidente argentino, Javier Milei, regressou esta sexta-feira a Espanha para uma visita que gerou nova polémica entre o governo de Pedro Sánchez e o Partido Popular de Alberto Núñez Feijóo devido a divergências na classificação dada à mesma e por incluir uma condecoração atribuída por Isabel Ayuso, a presidente da Comunidade de Madrid, do PP. Na agenda não estavam encontros com membros do executivo socialista ou com o rei Felipe VI.

Alheios a qualquer polémica, Ayuso agraciou Javier Milei ao final da tarde desta sexta-feira a Medalha Internacional da Comunidade de Madrid, uma distinção criada há sete anos e que já distinguiu nomes como o ucraniano Volodymyr Zelensky ou o venezuelano Juan Gaidó.

“Encaras com força e coragem medidas que soam como ar fresco”, elogiou a líder popular no seu discurso, numa referência às polémicas reformas que Milei está a implementar no seu país. O presidente argentino agradeceu os elogios às suas políticas: “Viemos do futuro para falar da decadência causada pelo socialismo”, declarou Milei. “Não deixem o socialismo arruinar as vossas suas vidas. (...) A justiça social é profundamente injusta e violenta”.

A polémica em torno de Javier Milei começou em maio, quando o argentino esteve em Madrid pela primeira vez desde que tomou posse como presidente, para participar numa convenção do partido de extrema-direita Vox, sem ter pedido audiências com as autoridades de Espanha. Durante o encontro do Vox proferiu declarações que o governo de Sánchez considerou insultuosas e inadmissíveis por serem feitas numa visita a Espanha - o argentino chamou corrupta à mulher de Pedro Sánchez em Madrid e nas semanas seguintes dirigiu críticas a ministros e chamou “cobarde” ao primeiro-ministro espanhol. 

A polémica transformou-se em crise diplomática com a retirada da embaixadora espanhola em Buenos Aires. Paralelamente, Milei e o seu governo têm sublinhado que o presidente argentino tem sido também insultado por membros do executivo espanhol, que o acusam de negacionismo e autoritarismo ou sugeriram que consome drogas.

Acho que é lógico, o rei é o chefe de um Estado no qual o presidente Milei desrespeitou o presidente do governo espanhol”, afirmou a ministra da Defesa da Espanha, Margarita Robles, logo na quinta-feira, sobre o facto de Felipe VI não se reunir com Milei. “Não creio que a condecoração de Isabel Díaz Ayuso a Javier Milei tenha origem em um amor repentino pelo povo argentino. Acho que ela está fazer isso por maldade”, disse Patxi López, porta-voz socialista no Congresso.

Ayuso defendeu o seu encontro com Milei, declarando ser “uma honra receber o presidente legítimo” da Argentina e que esta era uma visita “oficial”. No entanto, o ministro dos Negócios Estrangeiros, José Manuel Albares, desmentiu Ayuso.  “Sem dúvida esta é uma visita privada. Não há nada na agenda oficial do que eu saiba até agora sobre essa visita”, referiu Albares, negando assim um caráter oficial à cerimónia de ontem à tarde na sede da Comunidade de Madrid, e sublinhando que “Espanha só tem uma política externa”.

Também a ministra da Educação e porta-voz do governo, Pilar Alegría, atacou a presidente da Comunidade de Madrid por receber Javier Milei, mas também por “não cumprir a lei” ao não comunicar ao Ministério dos Negócios Estrangeiros o seu encontro com um mandatário estrangeiro. “Assim se vê qual é o conceito de institucionalidade, lealdade e patriotismo da senhora Ayuso, que impõe uma medalha fake a quem insulta as instituições”.

Já o PP considerou “lógico” e “normal” que Isabel Ayuso tenha decidido receber e condecorar o presidente argentino, sem contar com o governo espanhol, numa altura de crise diplomática entre os dois países. “O que não é lógico é que ninguém tenha assistido à tomada de posse de um presidente eleito pelos argentinos. O que defendemos é a recuperação da normalidade das relações externas e internacionais entre dois países como Espanha e a Argentina”, defendeu a secretária-geral dos populares, Cuca Gamarra. 

Alemanha com menos pompa

A visita inaugural de Javier Milei como presidente argentino à Alemanha deste fim de semana reduzida, com honras militares e uma conferência de imprensa canceladas, foi anunciado. 

Na semana passada, Berlim, aquando da revelação dos detalhes da viagem, havia descrito a Argentina como “um dos parceiros económicos mais importantes da Alemanha na América Latina”. Mas agora foi alterado para uma “visita de trabalho muito curta” com duração de cerca de uma hora, adiantou o porta-voz do governo alemão, Steffen Hebestreit.

Embora as negociações com o chanceler Olaf Scholz ocorram, as honras militares e uma conferência de imprensa conjunta com o líder alemão foram retiradas do programa a pedido dos argentinos, acrescentou Hebestreit, referindo ainda que “desde que assumiu o cargo, o senhor Milei deu muito poucas conferências de imprensa”.

Mas especulou-se que o pedido do lado argentino para encurtar a visita se devia ao facto de Hebestreit ter descrito como “de mau gosto” os comentários de Milei sobre a mulher do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez.

Durante a sua visita à Alemanha, Milei receberá um prémio da Sociedade Friedrich August von Hayek, um grupo que promove o liberalismo, mas que é controverso porque os seus membros incluem apoiantes do partido de extrema-direita alemão AfD.

ana.meireles@dn.pt