Na longa noite de 8 de novembro de 2016, a candidata democrata à Casa Branca, Hillary Clinton, teve um momento fugaz de liderança contra Donald Trump, que acabaria por vencer as eleições. Foi quando os 55 votos da Califórnia no Colégio Eleitoral iluminaram a porção azul do ecrã, colocando Clinton temporariamente à frente. A dianteira não durou muito, porque apesar de ter mais eleitores e mais votos no Colégio Eleitoral que qualquer outro estado, a Califórnia não resolve eleições nos Estados Unidos. A escolha dos eleitores californianos é irrelevante no grande quadro eleitoral por causa do complexo sistema vigente, que torna alguns milhares de votos em estados críticos, como Geórgia e Wisconsin, mais consequentes que 20 milhões de votos na Califórnia.
Esta aparente incongruência ajuda a explicar porque é que, apesar de ser um estado gigantesco com 39 milhões de pessoas, que vota democrata há décadas, a Califórnia nunca produziu um candidato presidencial democrata e, como tal, nunca produziu um presidente democrata. Kamala Harris, que será consagrada oficialmente na Convenção Democrata em Chicago, a partir de 19 de agosto, será a primeira californiana a tentar chegar à Casa Branca pelo partido.
“Penso que é apenas uma questão de sorte aleatória”, disse ao DN o cientista político Brian Adams, professor na Universidade Estadual da Califórnia em San Diego. “Não creio que haja alguma razão sistemática pela qual os democratas nunca tenham escolhido um californiano para candidato presidencial”, referiu. “Todos os anos são únicos. Mas a Califórnia, de facto, nunca teve um candidato democrata.”
Isso não é verdade do outro lado, curiosamente. O presidente republicano Richard Nixon, que venceu as eleições presidenciais de 1968 por uma margem de apenas 0,7% em relação ao oponente Hubert Humphrey, nasceu na Califórnia. Representou o estado como congressista e senador pelo partido republicano e foi depois eleito vice-presidente (1953-1961) antes de chegar à Casa Branca em 1968. Venceu a reeleição em 1972, mas o seu segundo mandato acabou de forma abrupta por causa do escândalo Watergate, em 1974.
Há um segundo presidente republicano que é associado com a Califórnia, embora não tenha nascido no “golden state”: Ronald Reagan, presidente conservador entre 1981 e 1989. Apesar de ter conquistado a sua popularidade como ator em Hollywood, Reagan nasceu e cresceu no Illinois, tendo-se mudado para a Califórnia aos 26 anos. Foi depois de uma carreira bem-sucedida na televisão, que incluiu a liderança do sindicato dos atores (SAG-AFTRA), que Reagan iniciou o seu percurso político.
Primeiro como governador da Califórnia, em 1966, e depois como presidente, numa eleição esmagadora contra o incumbente Jimmy Carter, em 1980. Em 1984, conseguiu ser reeleito noutra vitória retumbante contra Walter Mondale.
A eleição que se seguiu, em 1988, marcaria a última vez que um republicano venceu na Califórnia, quando George H.W. Bush superou Michael Dukakis por uma margem de 3,57%. Todas as eleições seguintes deram a vitória ao candidato democrata e o partido alargou progressivamente o seu domínio no estado.