Em 2023, a ADSE teve um saldo positivo de 160,6 milhões de euros. Em 2024, deve terminar com lucros da ordem dos 153,5 milhões, menos do que no ano anterior, mas, mesmo assim, melhor do que em 2022. E para 2025, as previsões apontam para um resultado líquido positivo de 110,4 milhões de euros, menos do que este ano, mas também “muito positivo”, pode ler-se no parecer do Conselho Geral e de Supervisão da ADSE, sobre o Orçamento para o próximo ano - um documento que foi aprovado em outubro e publicado agora no site oficial do sistema de saúde do Estado, que serve 1,2 milhões de trabalhadores e familiares.
Segundo explicou ao DN o economista, e ex-membro do Conselho Diretivo da ADSE, Eugénio Rosa, esta tendência de crescimento está diretamente relacionada com os aumentos anuais nos salários e nas pensões dos beneficiários, os quais pagam à cabeça 3,5% da remuneração base. O próprio documento destaca que, de acordo com as previsões para 2025, a contribuição dos beneficiários poderá atingir os 846,3 milhões de euros, sendo que, em 2024, foi de 804,9 milhões, em 2023 de 746 milhões, em 2022 de 702,5 milhões, e em 2021 foi de 667,9 milhões.
O documento destaca mesmo que “a receita prevista para o orçamento de 2025 mantém uma tendência crescente (+9,6 %, +79,4M, comparativamente com o orçamento de 2024), sobretudo pelas contribuições dos beneficiários e rendimentos da propriedade”.
O economista e ex-dirigente da ADSE explica ao DN ser normal este aumento da receita pela via das contribuições dos beneficiários do Estado, que “são os únicos que sustentam o sistema”. Recorde-se que até 2011, momento em que a Troika entrou em Portugal, os funcionários da Administração Pública descontavam 1,5% para a ADSE, e depois passaram a descontar 3,5%, para assegurar a sustentabilidade do sistema. E o valor nunca mais baixou.
Em relação à despesa, também é normal que esta aumente todos os anos, indicando assim as previsões para 2025 “uma tendência crescente (+5,5 %, +40,8M, face ao orçamento de 2024)”, lê-se no documento, que justifica este aumento com duas situações: “Em particular, pela conjugação do crescimento da despesa com o regime livre e as aquisições de bens e serviços correntes”.
Na opinião do economista Eugénio Rosa, o aumento da despesa pode estar relacionado com o aumento do uso do Regime Livre (RL) - o regime que permite ao beneficiário escolher onde quer receber cuidados, mesmo que este não tenha convenção com a ADSE . Só que neste regime é o beneficiário que paga a maior fatia da despesa, já que a ADSE comparticipa em cerca de 40%. Ou seja, e segundo explica, a despesa da ADSE com este regime é menor do que a que tem com o Regime Convencionado: em 2023 a despesa foi da ordem dos 186 milhões e em 2024 deve ser de 215 milhões.
Enquanto no Regime Convencionado, o mais antigo e aquele em que o beneficiário é tratado em unidades ou com médicos que tenham convenção com este sistema de saúde, a ADSE já suporta entre 75% a 80% da despesa, cabendo ao beneficiário o restante. Neste, a despesa em 2023 foi de 447 milhões e em 2024 deverá ser de 469 milhões .
Para Eugénio Rosa há que alertar os beneficiários para o que está a acontecer. "Os grandes grupos privados, que se alimentam da ADSE, estão a retirar do RC muitos atos médicos e até alguns dos profissionais que trabalhavam por convenção para o sistema, passando-os para o Regime Livre. Ora, é normal que um beneficiário que era acompanhado por determinado médico acabe por o seguir, passando então para o Regime Livre, em que pagam mais os beneficiários e menos a ADSE”. Eugénio Rosa defende mesmo que estas situações deveriam ser “mais controladas” e até “revistas”.
No documento, é destacado também que “o valor previsto para a despesa com o Regime Convencionado para 2025 é de + 2,8 milhões face ao orçamento 2024 e para o Regime Livre é de +30,1 milhões face ao orçamento 2024”, o que continua “a apresentar uma tendência de crescimento da despesa, sendo mais acentuada no RL”.
O que é justificado pela própria ADSE com “o comportamento, essencialmente por parte dos grandes prestadores, na retirada seletiva de cuidados de saúde das Convenções, forçando à sua realização em RL, o que é algo que contraria a filosofia pretendida na ADSE e aumenta o custo dos beneficiários com os cuidados de saúde. A ADSE apresenta como solução a revisão da tabela do RL, bem como a harmonização das tabelas de RC e RL, proposta que pretende apresentar com a maior brevidade.”
Mas o aumento da receita está também diretamente relacionada com o que é designado como “rendimentos de propriedade”, rendimentos obtidos “através de aplicações financeiras feitas no IGCP”. Prevê-se que estes sejam da ordem dos 40 milhões em 2025, (+18,5M€ face ao previsto em orçamento 2024). Eugénio Rosa concorda que o saldo positivo alcançado pela ADSE está também relacionado com “boa gestão”, mas, sublinha, deve-se sobretudo ao montante que sai diretamente dos beneficiários, os quais deverão aumentar em número no próximo ano. No artigo dedicado às “Receitas com Descontos dos Beneficiários”, o documento refere que é estimado para 2025 “um crescimento líquido do universo de beneficiários na ordem dos 0,8% e uma progressão salarial de 4,3%, pelo que a previsão de cobrança em 2025 excede o previsto de cobrança em sede de orçamento de 2024 em 41.9M€”.