O crescimento do salário médio mensal líquido dos trabalhadores por conta de outrem em Portugal voltou a bater um novo recorde no segundo trimestre deste ano (face a igual período de 2023), elevando o valor desse rendimento para o nível mais elevado de que há registo nas séries do Instituto Nacional de Estatística (INE), que remontam ao início de 2011.
De acordo com dados recolhidos pelo DN/Dinheiro Vivo junto da base de dados do INE, estamos a falar de um aumento anual do salário líquido muito pronunciado (ou seja o rendimento que o trabalhador leva para casa após pagar a retenção do IRS e as contribuições para a Segurança Social) na ordem dos 8,9% entre o segundo trimestre de 2023 e igual período de 2024, elevando o valor do salário até aos 1137 euros mensais, também este um máximo de sempre na série oficial.
Vários fatores ajudam a explicar esta exuberância salarial, que vem somar-se ao aumento homólogo de 7% registado no primeiro trimestre.
Uma das principais explicações está no efeito do alívio do IRS que entrou em vigor em janeiro sob o chapéu do Orçamento do Estado de 2024 (do anterior governo do PS e aprovado pela maioria absoluta socialista).
As retenções de IRS caíram de forma significativa face há um ano, havendo casos em que o alívio fiscal ronda os 10%.
Outro fator que puxa pela média salarial, e isso está bem patente nas estatísticas do INE, é o efeito dos aumentos nos vencimentos dos funcionários públicos em vigor desde o início do ano.
Segundo as Finanças, o crescimento das despesas com pessoal foi de 7,7% no primeiro semestre e “é justificado pelo efeito transversal das medidas de valorização dos rendimentos dos trabalhadores em funções públicas, em vigor desde o início de 2024 e, em menor grau, o efeito do acelerador nas carreiras”.
Na execução orçamental, o ministério de Joaquim Miranda Sarmento destaca os casos da “variação ocorrida no Serviço Nacional de Saúde (SNS)” e realça “o aumento de despesas no setor da Educação, decorrente do alargamento dos Quadros de Zona Pedagógica, do incremento de vinculações de docentes ao quadro e de alterações de posicionamento remuneratório obrigatórias”.
Professores e médicos são classificados como “especialistas das atividades intelectuais e científicas”, um grupo profissional que abarca o setor público e o privado, ascendendo a quase 1,2 milhões de empregados no segundo trimestre, mais 4,5% do que há um ano, diz o INE.
O salário médio reflete isto tudo: não só há mais gente nestas profissões, como no seu conjunto estão a ganhar muito mais, registando-se uma valorização salarial na ordem dos 8% (para uma média de 1566 euros limpos por mês) face ao segundo trimestre de 2023.