Emprego
09 agosto 2024 às 07h08
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Salários líquidos têm maior subida de que há registo apoiada no alívio do IRS do PS

Ordenado líquido médio da economia também reflete o facto de haver cada vez mais políticos, chefes e gestores de topo, mais pessoas com dois empregos, os aumentos da função pública e menos vínculos precários.

O crescimento do salário médio mensal líquido dos trabalhadores por conta de outrem em Portugal voltou a bater um novo recorde no segundo trimestre deste ano (face a igual período de 2023), elevando o valor desse rendimento para o nível mais elevado de que há registo nas séries do Instituto Nacional de Estatística (INE), que remontam ao início de 2011.

De acordo com dados recolhidos pelo DN/Dinheiro Vivo junto da base de dados do INE, estamos a falar de um aumento anual do salário líquido muito pronunciado (ou seja o rendimento que o trabalhador leva para casa após pagar a retenção do IRS e as contribuições para a Segurança Social) na ordem dos 8,9% entre o segundo trimestre de 2023 e igual período de 2024, elevando o valor do salário até aos 1137 euros mensais, também este um máximo de sempre na série oficial.

Vários fatores ajudam a explicar esta exuberância salarial, que vem somar-se ao aumento homólogo de 7% registado no primeiro trimestre.

Uma das principais explicações está no efeito do alívio do IRS que entrou em vigor em janeiro sob o chapéu do Orçamento do Estado de 2024 (do anterior governo do PS e aprovado pela maioria absoluta socialista).

As retenções de IRS caíram de forma significativa face há um ano, havendo casos em que o alívio fiscal ronda os 10%.

Outro fator que puxa pela média salarial, e isso está bem patente nas estatísticas do INE, é o efeito dos aumentos nos vencimentos dos funcionários públicos em vigor desde o início do ano.

Segundo as Finanças, o crescimento das despesas com pessoal foi de 7,7% no primeiro semestre e “é justificado pelo efeito transversal das medidas de valorização dos rendimentos dos trabalhadores em funções públicas, em vigor desde o início de 2024 e, em menor grau, o efeito do acelerador nas carreiras”.

Na execução orçamental, o ministério de Joaquim Miranda Sarmento destaca os casos da “variação ocorrida no Serviço Nacional de Saúde (SNS)” e realça “o aumento de despesas no setor da Educação, decorrente do alargamento dos Quadros de Zona Pedagógica, do incremento de vinculações de docentes ao quadro e de alterações de posicionamento remuneratório obrigatórias”.

Professores e médicos são classificados como “especialistas das atividades intelectuais e científicas”, um grupo profissional que abarca o setor público e o privado, ascendendo a quase 1,2 milhões de empregados no segundo trimestre, mais 4,5% do que há um ano, diz o INE.

O salário médio reflete isto tudo: não só há mais gente nestas profissões, como no seu conjunto estão a ganhar muito mais, registando-se uma valorização salarial na ordem dos 8% (para uma média de 1566 euros limpos por mês) face ao segundo trimestre de 2023.

Fatores adicionais

O grupo dos políticos, chefes e gestores de topo (público e privado) é outro que dá sinais de grande exuberância. Segundo as estatísticas oficiais, os chamados “representantes do poder legislativo e de órgãos executivos, dirigentes, diretores e gestores executivos” tiveram um aumento salarial médio líquido de quase 9% face ao ano passado, auferindo agora 1889 euros mensais. Este grupo de profissionais também engordou (quase 5%, muito acima do aumento do emprego total que foi de apenas 1%), com o INE a contabilizar cera de 310 mil decisores e gestores de topo, um dos registos mais elevados.

Outro fator decisivo que faz subir a média salarial da economia é o facto de haver uma diminuição no número de contratos e vínculos mais precários. Até meados de 2023, a precariedade esteve em alta, atingindo-se um pico de quase 920 mil trabalhadores com contratos a termo, com outros tipos de vínculos (como falsos recibos verdes) e em situação de subemprego (trabalhadores em regime de part-time que declararam querer trabalhar mais horas em todas as atividades e estavam disponíveis para o fazer imediatamente).

Os contratados a prazo caíram mais de 8%, o grupo onde estão os falsos recibos verdes e avençados emagreceu 13% e o número de subempregados a tempo parcial afundou mais de 16%. Ainda assim, estes três conjuntos dos trabalhadores mais precários ascendem a quase 824 mil casos.

Por último, mas não menos importante para o impulso salarial que vive a economia é o facto de haver cada vez mais gente com dois empregos. Desde meados de 2021, o segundo ano da pandemia, que o universo de pessoas com dois trabalhos não pára de aumentar, tendo atingindo o valor mais elevado da série do INE agora, no segundo trimestre: 291 mil pessoas que trabalham a dobrar para conseguir assim reforçar o seu rendimento líquido mensal.