Candidatura
18 abril 2024 às 20h11
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Zubizarreta e Jorge Costa são trunfos de Villas-Boas para vencer as eleições do FC Porto

O candidato a destronar Pinto da Costa da presidência dos dragões anunciou o antigo guarda-redes espanhol como seu diretor desportivo, além do regresso de Jorge Costa, 19 anos depois de ter saído, para ser diretor para o futebol profissional.

Andoni Zubizarreta, de 62 anos, e Jorge Costa, de 52, são oficialmente trunfos de André Villas-Boas para ganhar as eleições para a presidência do FC Porto marcadas para o dia 27 de abril, e para as quais concorre contra as candidaturas de Nuno Lobo e do atual líder Pinto da Costa. O antigo guarda-redes internacional espanhol e o antigo capitão dos dragões foram ontem apresentados, respetivamente como diretor desportivo e diretor do futebol profissional, no caso de a lista do antigo técnico ser a eleita dos sócios portistas.

Na cerimónia realizada na sede de campanha, André Villas-Boas começou por lançar um alerta para os associados, pois “só cerca de 40 mil sócios têm capacidade eleitoral, pelo que cerca de 30 mil têm de regularizar as quotas” para poderem votar. O candidato às eleições do FC Porto destacou o facto de apresentar “dois homens que foram exemplares nos seus clubes” e que “tudo ganharam nas suas carreiras”, garantindo ainda que vão ajudar a que os dragões “tudo conquistem” se a sua lista for a eleita.

Estas escolhas visam, de acordo com o candidato, “reforçar a capacidade de decisão” de uma estrutura que será liderada por Zubizarreta, que será o responsável por todo o edifício do futebol, e que terá o diretor de futebol profissional Jorge Costa, que durante 14 épocas representou a equipa principal do FC Porto, depois de ter concluído a sua formação. O “Bicho”, como frisou Villas-Boas, estará assim de volta ao clube que o viu nascer 19 anos depois de ter saído, em 2005. Outro nome anunciado para a estrutura de futebol foi Pedro Silva, que será o diretor de performance.

André Villas-Boas elogiou a carreira de Zubizarreta enquanto desportistas - treinador e diretor - e garantiu que foi escolhido porque “identifica-se com o que é pretendido” por uma nova ideia para o FC Porto. O antigo guarda-redes espanhol admitiu depois que “o futebol é uma paixão”, sendo que isso foi o que aprendeu no clube do seu coração, o Athletic Bilbau, mas depressa avisou: “A partir de agora o meu clube é o FC Porto.” Zubizarreta, que enquanto diretor desportivo representou precisamente o Athletic, o Barcelona e o Marselha, definiu depois que  sempre teve a sensação do que são jogadores  à Porto: “São competitivos, intensos, com grande qualidade técnica, compreensão do jogo e amor à camisola.”

André Villas-Boas não poupou também elogios a Jorge Costa, de quem disse que, se vencer as eleições, “regressará à casa de onde nunca devia ter saído”. O antigo internacional português, que atualmente é treinador do AVS da II Liga, revelou que a sua função será a de “fazer a ponte entre a equipa profissional, equipa B e formação, sempre em sintonia com o presidente, o diretor desportivo e restantes departamentos”. 

No entanto, Jorge Costa aproveitou para dizer que, há algo mais importante do que as funções que desempenhará: “Tenho uma missão que é servir o FC Porto e não servir-me do FC Porto.” Questionado sobre se irá impor uma mentalidade diferente no clube, assumiu que tem “essa obrigação, juntamente com o diretor desportivo”. “Já estivemos a conversar sobre isso, porque se queremos, e eu quero muito ter o meu FC Porto de volta, é preciso ter esses jogadores. Não basta ser bons jogadores, é preciso algo mais”, acrescentou.

André Villas-Boas escusou-se depois a tecer grandes comentários em relação ao seu treinador no caso de ser eleito, sendo certo que já tinha dito que irá falar com Sérgio Conceição se ganhar as eleições. “Sobre o treinador principal todos sabem qual a minha opinião e não irei falar mais sobre isso”, reforçou.

Estes são os dois grandes trunfos de André Villas-Boas para destronar Pinto da Costa, que está no cargo há 42 anos. Têm a palavras os sócios do FC Porto.

Quem é Andoni Zubizarreta?

Em caso de vitória nas eleições, André Villas-Boas voltará a trabalhar com Zubizarreta, embora com funções distintas. Isto porque em 2019/20 o então diretor desportivo do Marselha escolheu o treinador português para assumir o comando técnico da equipa, uma ligação que foi interrompida a 14 de maio de 2020 quando o espanhol deixou o clube francês por mútuo acordo, um ano antes de terminar contrato. Na hora do adeus, Zubizarreta não esqueceu o técnico e deixou-lhe uma mensagem sentida: “Obrigado ao André Villas-Boas por fazer com que me deliciasse com o futebol e por me ter feito descobrir um verdadeiro amigo.”

Desde que abandonou o clube do sul de França, onde estave quatro épocas, Zubizarreta não voltou a desempenhar as funções de diretor desportivo, podendo agora regressar ao ativo no FC Porto, depois de ter começado em 2001 no Athletic Bilbau, onde em três temporadas trabalhou com dois treinadores - Jupp Heynckes e Ernesto Valverde -, tendo a equipa basca melhorado a classificação ao longo das épocas, pois ficou em 10.º, em 7.º e em 5.º lugar em 2004/05. Seis anos depois, Andoni Zubizarreta mudou-se para outro clube que representou enquanto guarda-redes, o Barcelona, substituindo o ex-companheiro de equipa Txiki Beguiristein no cargo, depois da eleição de Sandro Rosell como presidente dos blaugrana. Logo na primeira época, com  Pep Guardiola como treinador, o Barça conquistou Champions, Liga espanhola, Taça do Rei e Mundial de Clubes. Seriam os primeiros títulos em cinco temporadas de sucesso como provam mais êxitos: 1 Liga dos Campeões, 2 Ligas espanhola, 2 Taças do Rei, duas Supertaça de Espanha, uma Supertaça UEFA, 1 Mundial de Clubes.

No gigante da Catalunha, Zubizarreta lidou com o fim de ciclo de Guardiola e apostou depois em Tito Vilanova, que teve de retirar-se devido a uma doença fatal, no argentino Gerardo Martino, que não teve sucesso, e em Luis Enrique, com quem o Barça regressou à rota do sucesso. Além disso, ficou ainda ligado às contratações de estrelas como Neymar, Luis Suárez, Ter Stegen, Rakitic, David Villa, Jordi Alba e Cesc Fàbregas. O diretor desportivo acabaria por ser demitido nem janeiro de 2015, após uma derrota com a Real Sociedad, mas que acabou por ser a consequência natural de um castigo imposto pela FIFA ao Barcelona por irregularidades na contratação de jogadores menores, uma situação que impediu o clube de adquirir novos jogadores durante um ano.

Durou então cerca de um ano e meio o estatuto de desmpregado, uma vez que em outubro de 2016 foi nomeado diretor desportivo do Marselha pelo recém-eleito presidente Jacques-Henri Eyraud. Em quatro temporadas, os marselheses investiram 196 milhões de euros, não conquistaram qualquer troféu e tiveram com treinadores Rudi Garcia e André Villas-Boas. Deixou o Vélodrome debaixo de algumas críticas, sobretudo relacionadas com as dificuldades no recrutamento de jogadores no mercado, mas que teriam explicação nos problemas financeiros do clube, que estava sob alçada do fair-play financeiro da UEFA.

carlos.nogueira@dn.pt