Eleições legislativas
05 março 2024 às 23h38
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Rui Gomes da Silva é única “força viva” do PSD a admitir entendimento com Chega

André Ventura também referiu Ângelo Correia, Miguel Relvas e Passos Coelho como defensores de uma maioria que inclua o seu partido. Luís Montenegro diz que não participa no “recreio” e Rui Rocha prefere falar em “desespero”.

Entre as “forças vivas” do PSD com que André Ventura conta para forçar Luís Montenegro a um entendimento pós-eleitoral com o Chega, garantindo a existência de um Governo de direita, só o ex-ministro e ex-deputado Rui Gomes da Silva assumiu que defende essa solução e que já o disse a Ventura, frisando não ser o único. “Entre tantos militantes que conheço, e que pensam o mesmo que eu, não acredito que nenhum não tenha falado com ele. Alguns sei que falaram”, disse ao DN, sem revelar a quem se refere, pois isso “é um problema de caráter e de consciência de cada um.”

Um dia depois de o presidente do Chega apontar, numa entrevista à RTP, Ângelo Correia e Miguel Relvas, tal como Passos Coelho, como notáveis do PSD que discordam da estratégia de Luís Montenegro, que exclui entendimentos com o partido de direita radical - tendo os dois ex-ministros negado esta terça-feira quaisquer conversas com Ventura -, Rui Gomes da Silva disse ao DN que considerou evidente o apelo de Passos Coelho, no final da intervenção no comício de Faro da Aliança Democrática (AD), ao seu antigo líder parlamentar para repensar o “cordão sanitário”, a bem da estabilidade governativa. “Com a distância e a elegância que um ex-primeiro-ministro tem de ter, Passos Coelho disse que seria um desperdício ganhar as eleições e excluir não sei se 15% ou 22% do eleitorado português”, defendeu o histórico social-democrata, que considera Ventura “sem dúvida mais bem preparado, em termos culturais e académicos”, do que Luís Montenegro ou Pedro Nuno Santos para ser o próximo primeiro-ministro de Portugal.

Nada interessado em alimentar a polémica, Luís Montenegro recusou comentar as declarações de André Ventura, atalhando as perguntas dos jornalistas, durante a arruada que fez em Aveiro, com a frase “não participo no recreio”. O líder da AD iria mais longe, equiparando Chega e PS. “Confundem-se muito um com o outro, porque um e outro só falam de pequenas coisas. Não falam dos verdadeiros problemas que importunam a vida das portuguesas e dos portugueses”, disse, apontando a coligação entre PSD, CDS-PP e PPM como “o único reduto para tratarmos com sentido de responsabilidade e sentido de mudança as preocupações que as pessoas querem ver corrigidas nas suas vidas”.

Por seu lado, o presidente da Iniciativa Liberal (IL), Rui Rocha, qualificou as declarações do líder do Chega como um sinal de desnorte. “Estamos habituados a uma certa tentativa que, às vezes, parece ser desespero de trazer argumentos para o debate quando se vê que as coisas não estão a correr bem.” O líder dos liberais, que se posicionam como parceiro pós-eleitoral da AD, reforçou ainda que o seu partido é o “mais claro” nos cenários pós-eleitorais, na medida em que recusa qualquer tipo de entendimento com o Chega.

Em sentido contrário, numa arruada em Évora, um dos distritos alentejanos em que o Chega conta passar a ter representação parlamentar, André Ventura voltou a dizer que o seu partido fará parte de uma solução de Governo, procurando manter os eleitores que as sondagens lhe atribuem imunes ao apelo ao voto útil. “Se houver uma maioria parlamentar à direita tenho 99% de certeza de que vai haver Governo à direita”, afirmou, dizendo que “quando temos a oportunidade histórica de fazer um Governo alternativo só um tonto é que não o fará”. E que, “se alguém tiver de sair, esse alguém será Montenegro”.

Horas antes, durante uma ação de campanha no Concelho de Sintra, Pedro Nuno Santos recusou-se a comentar a entrevista de André Ventura à RTP, voltando a dizer que o mais importante é garantir que o PS se mantenha no poder. “Se tivermos uma grande vitória no dia 10 de março vamos ter estabilidade e ação em Portugal, e é nisso que estamos concentrados”, disse o secretário-geral dos socialistas.

Pedro Nuno Santos acabou por dar resposta a Luís Montenegro, após o líder social-democrata o ter acusado de falta de “estabilidade emocional”, dizendo que o comentário foi “obviamente lamentável”. E, criticando o programa da AD, desafiou o principal adversário nas eleições legislativas a explicar “onde é que vai cortar” caso não se confirmem os indicadores de crescimento económico previstos pela coligação de centro-direita.