Governo 'chumba' financiamento
22 julho 2024 às 11h28
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Inapa, líder nacional na distribuição de papel, vai declarar insolvência

Líder em Portugal na distribuição de papel e embalagens vai declarar insolvência devido a "uma carência de tesouraria de curto prazo" no montante de 12 milhões de euros.

A Inapa, líder em Portugal na distribuição de papel e embalagens, vai declarar insolvência "nos próximos dias", comunicou este domingo o grupo empresarial à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

A insolvência da Inapa - Investimentos, Participações e Gestão (Inapa IPG) é justificada na comunicação à CMVM com a insolvência, a apresentar na segunda-feira, da subsidiária alemã Inapa Deutschland devido a "uma carência de tesouraria de curto prazo" no montante de 12 milhões de euros, para a qual não foi encontrada "solução de financiamento no prazo estabelecido de acordo com a lei alemã".

Face aos "impactos imediatos que a apresentação à insolvência da Inapa Deutschland terá na Inapa IPG, o Conselho de Administração da Inapa IPG reuniu e analisou a sua situação financeira, tendo concluído pela consequente e iminente insolvência da Inapa IPG" e decidido "apresentar a Inapa IPG à insolvência nos termos da lei portuguesa, o que será formalizado nos próximos dias", refere o grupo empresarial.

A Inapa IPG alega que a administração envidou "todos os esforços atempadamente" junto de credores e acionistas, em particular do maior acionista, a Parpública - Participações Públicas, para evitar a insolvência da subsidiária alemã.

Governo 'chumba' financiamento e diz que vai acompanhar insolvência

O Ministério das Finanças disse esta segunda-feira que a Parpública não vai dar à Inapa os financiamentos pedidos e que irá acompanhar a insolvência da empresa, já anunciada.

A empresa disse que envidou "todos os esforços atempadamente" junto de credores e acionistas, em particular do maior acionista, a empresa pública Parpública, para evitar a insolvência da subsidiária alemã mas que sem isso se apresentará à insolvência nos próximos dias.

Em resposta à Lusa, o Ministério das Finanças disse que só soube da "situação crítica" em que estava a Inapa em 11 de julho (aquando da suspensão das ações) e que foi aí que convocou a Parpública, que explicou que a Inapa tinha pedido uma injeção de 12 milhões de euros para necessidades de tesouraria imediatas na operação na Alemanha quando já tinha um pedido de 15 milhões de euros para reestruturação.

Perante essas informações, foram pedidos pareceres à Parpública, à Direção-Geral do Tesouro e Finanças (DGTF) e à Unidade Técnica de Acompanhamento e Monitorização do Setor Público Empresarial (UTAM), afirmando as Finanças que as três entidades concluíram que "a proposta não reunia condições sólidas, nem demonstrava a viabilidade económica e financeira que garantisse o ressarcimento do Estado".

Inapa com principal operação e maior número de trabalhadores na Alemanha

A distribuidora de papel Inapa, detida sobretudo pelo Estado e que anunciou que vai pedir insolvência, tem a sua principal operação na Alemanha, onde estão a maioria dos 1.500 trabalhadores do grupo.

Segundo o relatório e contas de 2023, a distribuidora de papel (mas que também opera dos setores de embalagem e comunicação visual) tem 1.478 trabalhadores e opera em 10 países (Portugal, Alemanha, França, Bélgica, Luxemburgo, Espanha, Áustria, Países Baixos, Turquia e Angola).

A empresa, que diz ser "dos principais distribuidores de papel da Europa Ocidental", tem a sua principal operação na Alemanha, onde comprou várias empresas nos últimos anos. Em 2023, foi desse mercado que vieram mais de 60% dos rendimentos do grupo e onde contava com 821 trabalhadores.

França - onde comprou uma importante empresa em 2016 - é o segundo país com mais empregados, 330, seguindo-se Portugal, com 204 trabalhadores.

Em 2023, o grupo Inapa teve 8,0 milhões de euros de prejuízos, face a lucros de 17,8 milhões de euros em 2022, com as vendas a caírem 20% para 968,7 milhões de euros.

No anúncio dos resultados divulgados através da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), em final de abril, a empresa relacionou os prejuízos com a queda da procura de papel na Europa Ocidental (-25%). Indicou ainda que o EBITDA recorrente caiu 62% para 33 milhões de euros e que as condições de crédito se tinham tornado "mais exigentes".

Citado nesse anúncio dos resultados, o presidente executivo do grupo, Frederico Lupi, antecipava um período de "enormes incertezas e desafios", mas considerava que o grupo tem capacidade de resposta, referindo que estavam em curso medidas que o tornavam "mais ágil do que anteriormente, dando-lhe melhor capacidade de resposta aos diferentes cenários" que possa enfrentar.

O relatório e contas explicaria que, em 2023, a Inapa fez um processo de reestruturação na Alemanha, incluindo a redução de 172 trabalhadores.

Já há duas semanas, em 11 de julho, as ações da Inapa foram suspensas da negociação na bolsa de Lisboa devido a problemas com o reembolso de obrigações emitidas pela empresa. As ações voltaram a negociar depois de a empresa ter comunicado que prorrogou em 10 dias úteis da data de reembolso desta terceira série das obrigações convertíveis em ações (ISIN PTINACOM0001).

Com esse prazo a terminar, este domingo à noite, em comunicado ao mercado, a Inapa anunciou que vai declarar insolvência "nos próximos dias".

A empresa disse que não encontrou fundos para uma "carência de tesouraria de curto prazo" de 12 milhões de euros na sua subsidiária alemã Inapa Deutschland e que, face a isso, o Conselho de Administração concluiu "pela consequente e iminente insolvência da Inapa IPG", ao abrigo da lei portuguesa.

A Inapa alega que envidou "todos os esforços atempadamente" junto de credores e acionistas, em particular do maior acionista, a empresa pública Parpública, para evitar a insolvência da subsidiária alemã mas que sem isso se apresentará à insolvência nos próximos dias.

Já hoje, a empresa anunciou que Frederico Lupi renunciou ao seu mandato. Vários administradores apresentaram também a sua renúncia.

Fundado em 1965, o grupo Inapa tem como principal acionista a empresa pública Parpública, com 44,89% do capital social, enquanto a empresa Nova Expressão tem 10,85% e o Novo Banco 6,55%. O restante capital está disperso.

A Inapa está cotada na bolsa de Lisboa, estando as ações suspensas desde hoje de manhã, quando valia cada uma 0,0294 euros, o preço de fecho de sexta-feira.

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