A distribuidora de papel Inapa, detida sobretudo pelo Estado e que anunciou que vai pedir insolvência, tem a sua principal operação na Alemanha, onde estão a maioria dos 1.500 trabalhadores do grupo.
Segundo o relatório e contas de 2023, a distribuidora de papel (mas que também opera dos setores de embalagem e comunicação visual) tem 1.478 trabalhadores e opera em 10 países (Portugal, Alemanha, França, Bélgica, Luxemburgo, Espanha, Áustria, Países Baixos, Turquia e Angola).
A empresa, que diz ser "dos principais distribuidores de papel da Europa Ocidental", tem a sua principal operação na Alemanha, onde comprou várias empresas nos últimos anos. Em 2023, foi desse mercado que vieram mais de 60% dos rendimentos do grupo e onde contava com 821 trabalhadores.
França - onde comprou uma importante empresa em 2016 - é o segundo país com mais empregados, 330, seguindo-se Portugal, com 204 trabalhadores.
Em 2023, o grupo Inapa teve 8,0 milhões de euros de prejuízos, face a lucros de 17,8 milhões de euros em 2022, com as vendas a caírem 20% para 968,7 milhões de euros.
No anúncio dos resultados divulgados através da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), em final de abril, a empresa relacionou os prejuízos com a queda da procura de papel na Europa Ocidental (-25%). Indicou ainda que o EBITDA recorrente caiu 62% para 33 milhões de euros e que as condições de crédito se tinham tornado "mais exigentes".
Citado nesse anúncio dos resultados, o presidente executivo do grupo, Frederico Lupi, antecipava um período de "enormes incertezas e desafios", mas considerava que o grupo tem capacidade de resposta, referindo que estavam em curso medidas que o tornavam "mais ágil do que anteriormente, dando-lhe melhor capacidade de resposta aos diferentes cenários" que possa enfrentar.
O relatório e contas explicaria que, em 2023, a Inapa fez um processo de reestruturação na Alemanha, incluindo a redução de 172 trabalhadores.
Já há duas semanas, em 11 de julho, as ações da Inapa foram suspensas da negociação na bolsa de Lisboa devido a problemas com o reembolso de obrigações emitidas pela empresa. As ações voltaram a negociar depois de a empresa ter comunicado que prorrogou em 10 dias úteis da data de reembolso desta terceira série das obrigações convertíveis em ações (ISIN PTINACOM0001).
Com esse prazo a terminar, este domingo à noite, em comunicado ao mercado, a Inapa anunciou que vai declarar insolvência "nos próximos dias".
A empresa disse que não encontrou fundos para uma "carência de tesouraria de curto prazo" de 12 milhões de euros na sua subsidiária alemã Inapa Deutschland e que, face a isso, o Conselho de Administração concluiu "pela consequente e iminente insolvência da Inapa IPG", ao abrigo da lei portuguesa.
A Inapa alega que envidou "todos os esforços atempadamente" junto de credores e acionistas, em particular do maior acionista, a empresa pública Parpública, para evitar a insolvência da subsidiária alemã mas que sem isso se apresentará à insolvência nos próximos dias.
Já hoje, a empresa anunciou que Frederico Lupi renunciou ao seu mandato. Vários administradores apresentaram também a sua renúncia.
Fundado em 1965, o grupo Inapa tem como principal acionista a empresa pública Parpública, com 44,89% do capital social, enquanto a empresa Nova Expressão tem 10,85% e o Novo Banco 6,55%. O restante capital está disperso.
A Inapa está cotada na bolsa de Lisboa, estando as ações suspensas desde hoje de manhã, quando valia cada uma 0,0294 euros, o preço de fecho de sexta-feira.