Cibersegurança
16 setembro 2024 às 01h12
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Portugal no 'top' da preparação para resistir a ataques cibernéticos

Relatório de agência das Nações Unidas coloca o país no nível máximo, junto com os melhores do mundo. O documento alerta ainda para os enormes desafios neste setor e deixa pistas para o que devem fazer as nações num mundo em constante evolução.

Os sistemas portugueses de cibersegurança estão entre os melhores do mundo. O alto nível de preparação do país foi reconhecido no Índice Global de Cibersegurança (IGC) de 2024, a que o DN teve acesso este domingo em primeira mão. O IGC é publicado pela União Internacional de Telecomunicações (UIT), que está integrada nas Nações Unidas.

Portugal este ano alcançou a classificação mais elevada possível: o “Tier 1 - Role-modelling” (Nível 1 - Exemplo a seguir). O país ficou no 4.º lugar do ranking mundial, com a mesma pontuação - 99,86 em 100 - de Singapura e EUA, bem melhor do que no último estudo, de 2020, em que surgia em 8.º na Região Europeia, com um score de 97,32. Números que são reveladores da eficácia da estratégia coordenada pelo Gabinete Nacional de Segurança/Centro Nacional de Cibersegurança e da sua capacidade para enfrentar os desafios permanentes no panorama digital de segurança, que está em constante evolução.

Apesar de ter alterado ligeiramente os critérios de apresentação do ranking - este ano apresenta todos os países em cojunto e por “Níveis” (Tiers) - o IGC faz sempre uma avaliação abrangente das medidas de cibersegurança dos vários países do mundo. Avalia o seu desempenho em cinco pilares principais: jurídico, técnico, organizacional, o desenvolvimento de capacidades e a nível de cooperação. A classificação de primeiro nível que Portugal obteve sublinha, assim, a sua abordagem abrangente ao nível da cibersegurança, sublinhando-se a existência de enquadramentos jurídicos sólidos, capacidades técnicas avançadas, organizações bem estruturadas e esforços proativos no desenvolvimento de capacidades e na cooperação internacional.

Para o IGC, o país é, assim, visto como um modelo para outras nações que atualmente se esforçam por melhorar os seus sistemas de cibersegurança. Esta organização destaca ainda a dedicação do país na criação de um ambiente digital seguro e resiliente para os seus cidadãos, empresas e instituições governamentais.

O documento não detalha que iniciativas de cibersegurança Portugal desenvolveu em concreto nos últimos anos, mas a atribuição do estatuto de Nível 1 sugere uma estratégia multifacetada. Este reconhecimento internacional reforça a posição do país como líder no esforço global para construir um ciberespaço mais seguro.

A classificação Tier1 é atribuída pela IGC este ano a 46 países. Entre eles, muitos Estados-membros da União Europeia. No entanto, é significativo que os nossos parceiros da UE  Áustria, Bulgária, Croácia, Republica Checa, Hungria, Irlanda, Letónia, Lituânia, Malta, Polónia, Roménia e Eslováquia surjam com um nível de preparação inferior.

Desafios e caminhos

O Índice Global de Cibersegurança de 2024 alerta ainda que, embora a maioria dos países do mundo estejam a fazer progressos na cibersegurança, os seus agentes continuam a enfrentar um cenário complexo e em evolução.

Os especialistas da UIT estabelecem seis pontos que consideram essenciais para que cada nação se prepare para este problema.
Desde logo, o fator humano: este permanece “fundamental para a cibersegurança”. O relatório enfatiza o papel crítico das ações individuais e do comportamento digital responsável na cibersegurança, pelo que ações que promovam a literacia digital são essenciais.

O segundo ponto é o fosso persistente entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento em termos de preparação para a cibersegurança. O IGC sublinha a necessidade de uma maior capacitação e cooperação internacional, sem a qual não é possível garantir um ambiente digital seguro para todos. No ciberespaço (quase) não há fronteiras.

A criação de formas objetivas de medir a eficácia é o quarto ponto. Embora muitos países tenham iniciativas de cibersegurança, o documento lembra que sem uma correta avaliação da sua eficácia, estas podem ser inúteis. Não basta criar medidas; estas precisam de ter impacto e enfrentar as ameaças do mundo real de forma eficiente.

Verdadeira concretização de acordos internacionais: embora muitos países assinem acordos de cibersegurança, a passagem do “papel” para ações concretas e a obtenção de resultados tangíveis é muitas vezes um desafio - ou algo que demora demasiado tempo.

A promoção da colaboração entre as agências governamentais, o sector privado e a sociedade civil continua a ser uma área a melhorar, alerta o IGC. Uma coordenação eficaz é crucial para uma estratégia de cibersegurança bem-sucedida.

Por fim, todos os intervenientes precisam de ter sempre em mente que o panorama da cibersegurança está em constante evolução, com novas tecnologias e ameaças a surgirem a um ritmo acelerado. Os agentes desta área têm de saber (e ter condições para) adaptar e atualizar continuamente as suas competências e conhecimentos. Só assim poderão ter possibilidade de se manterem um passo à frente.

À medida que o mundo digital continua a expandir-se e a evoluir, os agentes de cibersegurança desempenharão um papel cada vez mais crítico na salvaguarda do nosso futuro digital. Afinal, e por mais que a tecnologia evolua, sem o elemento humano, não haverá cibersegurança.