FC Porto
06 junho 2024 às 08h58
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A ascensão do “filho do Vítor Manuel” até ser treinador em nome próprio

Vítor Bruno já saiu da sombra do pai e agora aceitou o desafio de treinar os dragões na altura mais conturbada dos últimos 42 anos. “Vai ser um grandíssimo treinador”, segundo Inácio.

É o triunfo do adjunto. Vítor Bruno aceitou suceder a Sérgio Conceição e assinou até 2026. O acordo foi fechado ontem de manhã numa reunião entre o, até agora, adjunto de Sérgio Conceição e o presidente André Villas-Boas e os dois homens fortes do futebol portista, o diretor desportivo Andoni Zubizarreta e o diretor do futebol Jorge Costa, que teve o seu primeiro dia de trabalho no Olival, depois de ajudar a subir o AVS à I Liga e se despedir das funções de treinador. Vítor Bruno será apresentado já amanhã no Estádio do Dragão.

Natural de Coimbra (2 de dezembro de 1982), durante anos foi tratado como “o filho do Vítor Manuel”... até passar a ser Vítor Bruno, adjunto de Sérgio Conceição, condição que agora abandona ao fim de 13 anos de fiel ligação. Foi o pai, o treinador com mais jogos na I Liga (511 entre 1984 e 2002), que, segundo ele, há 16 anos “teve a coragem” de o atirar para o mundo do treino, “um meio tão competitivo e feroz, onde apenas sobrevivem os apaixonados que vivem a causa de forma intensa e dedicada”. Foi também o pai que o convenceu a tirar um curso de Ciências do Desporto e Educação Física, o que concluiu na Universidade de Coimbra, onde no dia 5 de março foi distinguido com o Prémio Carreira.

Foi um jogador apaixonado, mas nunca chegou a ser profissional e só espalhou o pouco talento que tinha para a prática da modalidade até aos 26 anos, nos campos pelados do Bidoeirense, Vigor Mocidade, Mirandense, Tourizense, Marialvas, Gândara e Valonguense.

A primeira experiência como adjunto foi ao lado de Augusto Inácio, no Interclube de Angola em 2009, ano em que também foi adjunto do pai, Vítor Manuel, no também angolano 1.º de Agosto.

Ser treinador principal é um passo natural sonhado de forma calculada e sem degraus em falso. “Trabalhou comigo no Leixões e na Naval e, na altura, percebi logo as qualidades que tinha, competência e no caráter. Ele teve o seu tempo de treinador-adjunto. É um passo normal para a sua carreira e vai ser um grandíssimo treinado”, contou Augusto Inácio, com quem voltaria a trabalhar na já extinta Naval 1.º de Maio (2009-10) e no Leixões (2010-11), antes de integrar a equipa técnica de Sérgio Conceição no Olhanense em 2011-12, época onde iniciou a parceria com o treinador que agora o acusa de traição, ao aceitar treinar os dragões em nome próprio.

Era o chefe na ausência do chefe Conceição, um “perfecionista”, como o definiu o pai em 2019. “O Vítor não é precipitado, é calculista e sabe dar os seus passos e traçar o seu caminho”, disse à RR Vítor Manuel, elogiando também a “capacidade de liderança” e a “relação de proximidade com os jogadores”.

Nessa altura, “o velhote” como lhe chama o filho, estava longe de imaginar como a ligação a Conceição ia terminar e definiu assim a função de adjunto: “Um adjunto não deve estar sempre de acordo, desde que haja sintonia na decisão final. É como num marido e mulher, é preciso alguma pimenta e contraste, para que não seja tudo igual.”

Um milhão por época

Foi braço direito e voz do técnico mais titulado da história do FC Porto nas muitas ausências por castigo. Orientou os dragões a partir do banco em 17 jogos e sem derrotas, com um saldo de 15 vitórias, incluindo a da última jornada da I Liga 2023-24, diante do Sp. Braga, em que garantiu o 3.º lugar do campeonato e a entrada na fase de grupos da Liga Europa. E também na final da Taça de Portugal, depois da expulsão do treinador principal.

Organizado e de discurso fácil, simples e motivador, como manda a função de um bom adjunto, Vítor Bruno aceitou o desafio de treinar o FC Porto, que não é campeão há duas épocas, apesar da turbulência que se vive no emblema azul e branco. E deu o “Sim” a Villas-Boas sabendo que não tem margem para errar e terá de fazer uma equipa competitiva e sem investimento ao nível dos últimos anos.

Recusou o rótulo de “traidor” colocado por Sérgio Conceição e garantiu que nunca foi desleal com o técnico que coadjuvou durante 13 épocas, sete delas no Dragão. “Cumpre afirmar, desde já e para que não restem quaisquer dúvidas, que nunca traí (‘apunhalei’ pelas costas, como de modo ardiloso se pretende inculcar) ou, por qualquer modo, fui desleal com o treinador principal Sérgio Conceição, com quem usei sempre da maior lisura, transparência e honestidade, impondo-se agora clarificar a verdade dos factos”, informou em comunicado.

Contratar Vítor Bruno é ficar com um pedacinho de Conceição por um valor mais em conta, um milhão de euros limpos por época contra os 3, 5 milhões de Sérgio Conceição. A última vez que um adjunto assumiu o comando técnico dos dragões foi quando André Villas-Boas, agora presidente do FC Porto, saiu para o Chelsea e viu Pinto da Costa promover o seu adjunto: Vítor Pereira, que acabou Bicampeão Nacional.

O recém-eleito presidente espera que volte a correr bem.

isaura.almeida@dn.pt