Jair Bolsonaro recebeu “uma minuta” com os termos de “um golpe de Estado” que visava mantê-lo no poder, apesar da eleição de Lula da Silva, em 2022, “modificou-a” e “aprovou-a”, diz a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que autorizou a operação Tempus Veritatis, da Polícia federal. Na operação, realizada ontem, além de ter sido apreendido o passaporte do ex-presidente, foram presas quatro pessoas, entre as quais o líder do partido dele, e feitas buscas a 33 políticos e militares do seu núcleo duro.
Segundo a decisão, aquela “minuta do golpe”, como é chamada, previa a prisão de dois juízes do STF, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, além do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e a realização de novas eleições. E Filipe Martins, então assessor de Bolsonaro para Assuntos Institucionais da Presidência, famoso por ter feito gesto supremacista branco numa audiência no Senado, e o advogado Amauri Saad foram os autores do texto inicial. O primeiro foi preso e o segundo alvo de busca e apreensão, ao longo desta quinta-feira.
Mensagens na posse da polícia sinalizam, segundo a operação, “que o então presidente Bolsonaro estava redigindo e ajustando o decreto e já buscando o respaldo do general Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira (...), demonstrando que atos executórios para um golpe de Estado estavam em andamento”.
As mensagens mostram que houve acordos para a realização de reuniões com integrantes civis do governo e das Forças Armadas “para a finalidade”, segundo a decisão do STF, “de planear e executar ações voltadas a direcionar e financiar as manifestações que pregavam um golpe militar, com a finalidade de manter o então presidente da República no poder”. No dia 8 de janeiro de 2023, uma semana após a posse de Lula, apoiantes de Bolsonaro invadiram e depredaram a Praça dos Três Poderes, em Brasília.
Os outros três presos na Tempus Veritatis, que significa em latim “Hora da Verdade”, são um major e dois coronéis, entre os quais, Marcelo Câmara, auxiliar de Bolsonaro já envolvido no caso nos escândalos do roubo das joias oferecidas pelo governo da Arábia Saudita e da falsificação do cartão de vacinação do presidente.
Inicialmente, a operação pressupunha apenas busca e apreensão à casa de Valdemar da Costa Neto, o presidente do PL, partido de Bolsonaro. Mas Neto, que já cumpriu pena de prisão no escândalo do Mensalão, acabou detido por posse ilegal de arma.