Estados Unidos
28 junho 2024 às 21h51
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Biden perde debate e abre um novo debate: será melhor dar lugar a outro?

Presidente norte-americano admitiu não falar, nem debater, “tão bem como antes”, mas garantiu que está apto para mais quatro anos de mandato na Casa Branca.

"Não faço ideia do que ele disse no fim daquela frase. E acho que ele também não”. Esta declaração de Donald Trump, proferida depois de Joe Biden ter pronunciado algo que ninguém percebeu quando tentava explicar como pretende resolver a crise migratória na fronteira com o México, era a mais usada pelos media americanos para explicar a dimensão da derrota do democrata no primeiro debate para as presidenciais de novembro, realizado quinta-feira à noite (madrugada de ontem em Lisboa). 

Uma derrota de tal forma expressiva que o Partido Democrata estava esta sexta-feira dominado por uma espiral de pânico e a pensar qual será o melhor passo seguinte: todos unidos em torno de Biden? O presidente desistir da corrida e dar lugar a outro? E quem seria esse outro, a vice Kamala Harris? Haverá alguém disposto a desafiá-lo na convenção democrata? “O movimento para convencer Biden a não concorrer é real”, dizia ao Politico um congressista democrata, garantindo que falava também em nome de outros. 

O veredicto sobre o desempenho de Biden por parte dos estrategistas do partido e dos media foi unânime e contundente, rotulando o debate como um “desastre político” e destacando a “consternação” dentro das fileiras do partido com a eleição a pouco mais de quatro meses de distância. “Não há duas maneiras de dizer isto - este não foi um bom debate para Joe Biden”, disse a ex-chefe de comunicações democrata da Casa Branca Kate Bedingfield à CNN, pouco depois do debate. Maria Shriver, membro destacado da dinastia democrata Kennedy, fez o que quase equivaleu a um elogio fúnebre às esperanças de reeleição de Biden. “Eu amo Joe Biden. Sei que ele é um bom homem”, publicou no X. “Esta noite foi comovente em muitos aspetos. Este é um grande momento político. Há pânico no Partido Democrata”. 

Para o Politico, “os democratas acordam para o pesadelo”, enquanto que o The New York Times escrevia que o partido - incluindo membros da própria administração Biden - trocaram telefonemas e mensagens de texto “frenéticas” à medida que o debate se desenrolava. Alguns também “discutiram entre si se era tarde demais para persuadir o presidente a renunciar em favor de um candidato mais jovem”, acrescentou o jornal.

Um candidato forte - mas não automático - para ocupar o lugar de Biden seria a vice-presidente, Kamala Harris, que defendeu lealmente o seu desempenho, embora reconhecesse que teve um “início lento, isso é óbvio para todos, não vou discutir esse ponto, mas acho que teve um final forte ”. Outros nomes falados como possíveis substitutos de Joe Biden eram ontem o governador da Califórnia, Gavin Newsom, a governadora do Michigan, Gretchen Whitmer, o governador do Illinois, JB Pritzker, e o veterano senador do Ohio, Sherrod Brown. Mas, pelo menos, Newsom esta sexta-feira já havia garantido a sua lealdade e apoio ao presidente.

Quem parece ter a certeza de que Joe Biden é o melhor candidato que os democratas podem apresentar em novembro, embora reconhecendo que a sua prestação no debate poderia ter sido melhor, é o próprio Joe Biden. “Sei que não sou um homem jovem, para dizer o óbvio. Sei que não ando tão facilmente como antes, não falo tão bem como antes, não debato tão bem como antes, mas sei o que sei. Sei dizer a verdade”, afirmou o presidente esta sexta-feira num comício na Carolina do Norte.

E para quem não tinha percebido a mensagem ele foi ainda mais claro: “Pessoal, dou-vos a minha palavra como Biden, não voltaria a concorrer se não acreditasse de todo o coração e alma que posso fazer este trabalho. Porque, francamente, os riscos são demasiado elevados”. 

ana.meireles@dn.pt