Justiça
27 junho 2024 às 10h29
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Ministra espera que próximo PGR possa "marcar uma nova era" e colocar "ordem na casa"

Rita Júdice traçou o perfil do sucessor de Lucília Gago à frente da Procuradoria-Geral da República, esperando que possa "restituir a confiança" ao Ministério Público. "Precisamos de uma pessoa que tenha uma boa capacidade de liderança e de comunicação", defendeu.

"Todos concordamos que é preciso que algo mude no Ministério Público" (MP), no sentido da "perceção" e da "credibilização", uma vez que "está muito vulnerável a algumas críticas, justas ou injustas, e alguém tem que pôr ordem na casa". Quem o diz é a ministra da Justiça, Rita Júdice, em entrevista à rádio Observador. 

No programa "Justiça Cega", a governante afirmou que o sucessor da Procuradora-Geral da República (PGR), Lucília Gago - que já fez saber que não continua no cargo após o atual mandato -, deve "restituir essa confiança" ao Ministério Público. Disse, por isso, esperar que o próximo PGR seja alguém que possa iniciar "uma nova era".

"Precisamos de uma pessoa que tenha uma boa capacidade de liderança e de comunicação porque os tempos modernos já não se compatibilizam com a ideia de que podemos estar dentro dos nossos gabinetes e não falarmos, não comunicarmos e não explicarmos aos cidadãos nas sedes próprias", apontou a ministra.

Para Rita Júdice, "essa capacidade de comunicação é exigível" a um novo Procurador-Geral da República". "Precisamos de alguém que possa vir a marcar uma nova era para o Ministério Público", frisou a ministra.

Reconheceu que o MP tem tido “períodos muitos duros, para a Procuradora-Geral da República, em concreto, que criaram algum descontentamento na opinião pública".

"Há uma certa descredibilização e algum ruído à volta do MP, está a ser muito atacado", admitiu Rita Júdice. "A capacidade e a credibilidade do MP é determinante para o bom funcionamento da justiça e, por isso, ter alguém que possa restituir essa confiança é essencial", sublinhou sobre o perfil que o novo PGR deve ter.  

As declarações da ministra da Justiça surgem numa altura em que a Procuradora-Geral da República, cujo mandato termina em outubro, tem sido alvo de várias críticas, sobretudo pela ausência de explicações na sequência da Operação Influencer, que levou à queda do Governo de António Costa.

De referir que o Bloco de Esquerda e o PAN já apresentaram propostas relativas à audição de Lucília Gago, na Comissão Parlamentar de Assuntos Constitucionais, para fazer um "balanço relativamente à aplicação da Lei da Organização de Investigação Criminal e ao cumprimento das garantias constitucionais e legais de proteção do segredo de justiça". O Chega, entretanto, já requereu o adiamento, de forma potestativa, da audição da PGR.  

O processo para a escolha do nome do sucessor de Lucília Gago vai ser liderado pelo primeiro-ministro, Luís Montenegro. 

"Há um Conselho Superior do MP que também deve atuar se existir alguma suspeita"

Na entrevista à rádio Observador, a governante mostrou-se disponível para uma alteração legislativa que torne claro que o poder hierárquico é para ser exercido: "Tem de existir hierarquia no Ministério Público. Não é um corpo que anda à solta".

"O Ministério Público tem uma razão de ser e uma das suas características é o facto de ser uma magistratura hierarquizada. A Constituição é clara sobre essa matéria. Houve alguma discussão sobre a alteração do estatuto do Ministério Público e houve a tentativa de clarificar esse tema. Se forem necessárias alterações legislativas, estamos disponíveis para isso, naturalmente", acrescentou.

Quanto ao Conselho Superior do Ministério Público, diz que deve cumprir as suas competências de escrutínio, atuando "se existir alguma suspeita de que determinada investigação, determinado procurador, foi para além do exercício dos seus direitos".

Questionada sobre o manifesto dos 50, que defende a necessidade de uma reforma na Justiça que reponha o poder da legalidade democrática sobre o Ministério Público, responde que este "não se pode pautar por motivos políticos e tem órgãos internos de controlo da sua atuação e que devem estar atentos".

"Não vejo ninguém preocupado com essa falta de controlo interno. Mas esse escrutínio interno também tem de existir. Há um Conselho Superior do Ministério Público que também deve atuar se existir alguma suspeita de que determinada investigação, determinado procurador, foi para além do exercício dos seus direitos. Todos estamos sujeitos a escrutínio e todos --- procuradores, juízes, advogados, etc. --- temos de cumprir com as normas que são aplicadas", afirma.

Com Lusa