Relatório divulgado esta quarta-feira indica que o "Alentejo tem-se destacado por um maior consumo de álcool e de tabaco entre os jovens de 18 anos, o Algarve por um maior consumo de canábis, os Açores por um maior consumo de outras drogas ilícitas que não canábis e Lisboa por uma maior experiência de problemas associados à utilização da Internet".
Estes são os resultados do inquérito divulgado pelo Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Dependências (ICAD), que, depois de apresentar os dados nacionais, revela agora os dados por regiões em relação aos comportamentos aditivos em jovens de 18 anos que participaram no Dia da Defesa Nacional, em 2023.
Refere o documento que "os resultados agora obtidos confirmam – e em alguns casos reforçam – estas tendências, pelo que o presente estudo, que se realiza anualmente desde 2015, torna visível uma clara continuidade no panorama regional no que aos comportamentos aditivos diz respeito".
Alentejo destaca-se pelo maior consumo de álcool e tabaco
A região do Alentejo "continua a destacar-se pelas prevalências mais elevadas do país" no que se refere à ingestão de bebidas alcoólicas e aos comportamentos de risco acrescido associados ao álcool entre os jovens. Indica o relatório do ICAD que, "em alguns indicadores relativos à ingestão de bebidas alcoólicas, a discrepância até tenha aumentado".
"Tal acontece porque no que ao álcool diz respeito no Alentejo a descida verificada entre 2022 e 2023, com exceção da embriaguez severa e do consumo diário ou quase diário de álcool, foi sempre
menos expressiva do que a verificada no resto do país, aumentando, assim, o fosso para as demais regiões".
Também se regista nesta região o maior consumo binge, o que significa beber uma grande quantidade de uma bebida alcóolica em pouco tempo. "Quanto aos comportamentos de risco acrescido em estudo, é também no Alentejo que se regista o maior consumo binge de bebidas alcoólicas nos últimos 12 meses (63%), muito acima do total nacional (+12 pontos percentuais), lê-se no documento.
Já no que diz respeito à embriaguez severa, o Alentejo apresenta a "maior prevalência do país (45%), consideravelmente acima do total nacional (+9 pontos percentuais)".
A região é novamente aquela "onde o policonsumo tem maior expressão", segundo o ICAD.
Apesar de o consumo de tabaco entre os jovens de 18 anos apresentar em todas as regiões tendência de descida, o "Alentejo, apesar de também obter em 2023 valores ligeiramente inferiores a 2022", destaca-se "pelas prevalências mais elevadas do país, claramente acima das restantes regiões. Também neste caso aumentou o fosso do Alentejo para a maior parte das regiões, uma vez que se registou aí um decréscimo bem menos expressivo do que no resto do país.
Algarve é onde se consome mais canábis
Estudo mostra que, "entre os jovens de 18 anos, a canábis é a substância ilícita mais consumida em todas as regiões do país".
A região do Algarve tem vindo, no entanto, a destacar-se nos últimos anos, por um maior consumo de drogas ilícitas, em geral, e de canábis, em particular, tendência reforçada neste estudo do ICAD.
"Embora se tenha verificado um decréscimo de consumo de drogas ilícitas no Algarve, em comparação com a anterior edição do estudo, a descida foi menos expressiva na região do que nas restantes (com exceção dos Açores), aumentando, também aqui, a distância para o total nacional", refere o documento.
De acordo com o estudo, a "canábis é, de longe, a droga ilícita mais consumida em todas as regiões do país, sendo também a única cujo consumo recente é mais elevado no Algarve (+6 pontos percentuais do que o total nacional) e menos na Região Autónoma da Madeira (-4 pontos percentuais do que o total nacional)".
Norte com prevalência superior ao total nacional apenas nos jogos de apostas online
"À semelhança do que se tem verificado em relatórios anteriores, as regiões do Alentejo, dos Açores e do Algarve destacam-se por prevalências superiores ao total nacional, enquanto Norte e Madeira registam valores geralmente inferiores" a nível dos comportamentos aditivos, indica o estudo do ICAD.
A região Norte regista, no entanto, "uma prevalência superior ao total nacional apenas no caso dos jogos de apostas através da Internet".
No que se refere aos "problemas associados aos comportamentos aditivos registaram em 2023 valores mais elevados, com subidas de +3, +2 e +4 pp. no que se refere ao álcool, drogas ilícitas e utilização da Internet, respetivamente".
Em contraciclo, no que ao consumo de álcool, tabaco e drogas ilícitas diz respeito, a região afastou-se da tendência nacional, ao registar descidas mais expressivas do que as verificadas no total do país, afirmando-se como uma das regiões onde os comportamentos aditivos têm menos expressão entre os jovens de 18 anos".
Apesar deste cenário, o estudo indica que o consumo diário de álcool, tabaco e drogas ilícitas entre os inquiridos não diminuiu tanto quanto as prevalências de consumo. "Face a 2022, há menos consumidores na região Norte", mas estes consomem com maior frequência.
Lisboa é a região com uma maior (e mais precoce) utilização da internet
É na região de Lisboa que a percentagem de inquiridos que declararam jogar videojogos online é mais elevada. É também a região onde a iniciação à internet é mais precoce, sendo a que tem "uma maior experiência de problemas associados à utilização da Internet".
Entre 2022 e 2023, a região registou descidas na maioria dos indicadores analisados, sendo que o decréscimo em termos absolutos foi mais acentuado no que se refere à ingestão de bebidas
alcoólicas (-7 pontos percentuais, na experimentação, e -6 pontos percentuais, no consumo recente e no consumo atual), segundo o inquérito.
Tendo em conta o estudo anterior, a "descida no consumo de tabaco não foi muito expressiva (-2 pp., na temporalidade dos últimos 12 meses), enquanto os valores relativos ao consumo não prescrito de tranquilizantes / sedativos e aos jogos de apostas através
da Internet não se alteraram com algum significado".
"Lisboa foi, de resto, a única região onde, entre 2022 e 2023, a prevalência de jogos de apostas online não diminuiu de forma relevante entre os jovens de 18 anos", conclui o estudo.
Ainda face ao estudo anterior, "verificou-se uma subida nos problemas associados aos comportamentos aditivos, sendo menos expressiva no que diz respeito ao consumo de drogas ilícitas (+2 pp.) e mais no que se refere à utilização da Internet (+8 pp.). Lisboa é a região com uma maior (e mais precoce) utilização da Internet e também aquela que se destaca por maiores consequências nefastas associadas", revela o inquérito.
Centro com valores elevados em relação aos problemas associados ao álcool e internet
A região é uma das que, entre 2022 e 2023, registou descidas em todos os indicadores analisados, "sendo que o decréscimo em termos absolutos foi ligeiramente mais acentuado no que se refere à ingestão de bebidas alcoólicas ( -6 pontos percentuais, na experimentação e no consumo recente, e -5 pp., no consumo atual).
Estudo indica, porém, que "os problemas associados aos comportamentos aditivos registaram em 2023 valores mais elevados, sobretudo no que diz respeito a álcool e Internet (+3 e +4 pp., respetivamente)", sendo que "o aumento dos problemas associados ao consumo de drogas ilícitas foi menos expressivo (+1 ponto percentual)".
No que se refere ao consumo diário de bebidas alcóolicas, ou seja, 20 ou mais ocasiões de consumo nos últimos 30 dias, a região surge logo a seguir ao Alentejo. "Entre os inquiridos, a ingestão de bebidas alcoólicas numa base diária ou quase diária é mais prevalente no Alentejo (12%) e na região Centro (10%), enquanto as restantes regiões registam valores a rondar os 7%", conclui o documento.
"O consumo diário de álcool, tabaco e drogas ilícitas entre os inquiridos não diminuiu tanto quanto as prevalências de consumo, indicando que, face a 2022, há menos consumidores na região Centro, mas que estes consomem com maior frequência", refere a análise aos dados.
Açores lidera nas drogas ilícitas e Madeira pelo menor consumo de canábis
A Região Autónoma dos Açores destaca-se "por um maior consumo de outras drogas ilícitas que não canábis" no inquérito divulgado pelo ICAD.
O documento refere que apesar de "a diferença em pontos percentuais para as outras regiões" não se verificar "muito acentuada, porque em causa estão valores mais reduzidos, o consumo deste tipo de drogas ilícitas nos Açores é cerca de duas a três vezes superior do que no total do país".
"Face ao estudo anterior, os problemas associados aos comportamentos aditivos subiram mais nos Açores do que em qualquer outra região (exceto no caso dos problemas associados à utilização da Internet, em igualdade com a região de Lisboa), tendo aumentado entre 5 (no caso das drogas ilícitas) e 8 pp. (no caso da utilização da Internet)", conclui o estudo.
De acordo com os resultados agora conhecidos, entre 2022 e 2023, "os Açores destacam-se como uma das regiões do país onde o panorama relativo aos comportamentos aditivos entre os jovens de 18 anos menos se desagravou, registando inclusivamente subidas em alguns indicadores em contraciclo com a tendência nacional, como é o caso do consumo diário ou quase diário de bebidas alcoólicas (+2 pontos percentuais), do consumo recente e atual de drogas ilícitas (+1 ponto percentual, em ambas as temporalidades) e do consumo não prescrito de tranquilizantes / sedativos ao longo da vida e nos últimos 30 dias (+1 ponto percentual, em ambas as temporalidades)".
Já no que se refere à Madeira, esta região destaca-se por um menor consumo de canábis entre os jovens de 18 anos.
A Madeira destaca-se também "por um menor consumo de álcool e de tabaco, com prevalências consideravelmente abaixo das outras regiões".
Já "o consumo de tranquilizantes / sedativos sem prescrição médica é mais elevado na Região Autónoma dos Açores, mas também na Madeira", conclui o ICAD.
Sobre o tempo passado online, a percentagem de utilizadores da Internet que passam 6 ou mais horas por dia em redes sociais é maior na Região Autónoma dos Açores, indica ainda o documento
Em relação ao "tempo passado a jogar online (videojogos e jogos de apostas), os jovens dos Açores e, sobretudo, os da Madeira são quem despende mais horas por dia em tal utilização da Internet".