A distrofia muscular congénita (MDC1A) é uma doença rara e potencialmente fatal, com incidência na Europa de 10 a 14 casos por milhão de habitantes. Também designada como distrofia muscular relacionada com LAMA2 (LAMA2-CMD) é causada por alterações no gene LAMA2, responsável pela produção de laminina-2, uma proteína essencial para o correto funcionamento dos músculos. Uma equipa de investigadoras de dois laboratórios do Centro de Ecologia, Evolução a Alterações Ambientais - CE3C (Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa), a par com instituições internacionais, desenvolveu ao longo dos últimos três anos e meio um estudo que revela novas informações sobre esta patologia.
Através de estudos com modelos de ratinho para a doença, esta equipa identificou como as células do músculo com alterações nesta proteína enfrentam dificuldades em crescer, desenvolver-se e fundir-se corretamente.
“Estes são processos essenciais para a formação muscular, tanto no desenvolvimento embrionário como numa recuperação após a existência de lesões musculares”, explica Susana Martins, aluna de doutoramento de Ciências da Universidade de Lisboa.
Os investigadores observaram ainda que as células afetadas apresentam danos no ADN, stresse oxidativo e disfunções nas mitocôndrias - as ‘fontes de energia’ das células. Estas descobertas representam um avanço significativo na compreensão dos mecanismos que levam ao surgimento desta doença.
“Os resultados do estudo são agora detalhados na revista Life Science Alliance. O artigo explora de forma aprofundada os mecanismos que levam ao desenvolvimento da LAMA2-CMD, identificando novos alvos terapêuticos e abrindo caminho para o desenvolvimento de tratamentos que possam ajudar os pacientes que sofrem desta distrofia”, destaca a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Nas palavras da investigadora Ana Rita Carlos, líder do grupo do Laboratório de Mecanismos Moleculares de Doença, “embora o estudo não traga uma cura imediata, proporciona uma nova compreensão dos processos biológicos envolvidos, o que poderá, no futuro, abrir portas para o desenvolvimento de novas terapias, nomeadamente no campo da terapia génica.”
“Estamos otimistas de que os resultados alcançados poderão, no futuro, contribuir para novas terapias, oferecendo esperança para as famílias que lidam com esta doença incapacitante”, conclui Sólveig Thorsteinsdóttir, líder do Laboratório de Matriz Extracelular no Desenvolvimento e Doença.
Após esta primeira abordagem, a equipa prosseguirá com o estudo em duas frentes de investigação: “O estudo de células obtidas de pacientes com a doença, para verificar se os processos observados em modelos de ratinho podem ser revertidos em células humanas e a exploração de estratégias de terapia genética que possam, um dia, corrigir as alterações no gene LAMA2 e auxiliar no tratamento da doença”, destacam as investigadoras.
A linha de investigação focada no desenvolvimento de novas terapias genéticas é também o foco do projeto de doutoramento do aluno Diogo Fernandes (CE3C), recentemente premiado com uma bolsa pela Fundação “la Caixa”, no âmbito do programa Doctoral INPhINIT fellowships Retaining Call 2024.
A investigação contou com a colaboração de investigadores do Instituto de Biossistemas e Ciências Integrativas, assim como de instituições internacionais, nomeadamente a Universidade de Nápoles (Itália) e o Jacqui Wood Cancer Centre da Universidade de Dundee (Escócia).