Donald Trump será empossado 47.º presidente dos Estados Unidos apenas a 20 de janeiro de 2025, mas o período de transição "pacífica e ordeira" concertado com Joe Biden não estará a ser respeitado pelo presidente eleito. Depois de provocar controvérsia com algumas escolhas para pastas importantes da futura administração, Trump agitou as águas da geopolítica ao prometer novas tarifas alfandegárias sobre importações do México, Canadá e China, o que provocou ondas de receios nos voláteis mercados financeiros.
“A 20 de janeiro, como uma das minhas muitas primeiras ordens executivas, vou assinar todos os documentos necessários para impor ao México e ao Canadá uma taxa de 25% sobre todos os produtos que entram nos Estados Unidos e as suas ridículas fronteiras abertas”, escreveu o presidente eleito na rede social Truth Social, na madrugada desta segunda para terça-feira.
A promessa foi justificada com as "milhares de pessoas que estão a passar pelo México e pelo Canadá, trazendo o crime e a droga a níveis nunca antes vistos”, segundo Donald Trump.
Importa referir que dados divulgados na segunda-feira pelo FBI acerca da criminalidade violenta (inclui homicídios, violações, roubos e agressões agravadas), no último ano, demonstram que as ocorrências registadas diminuíram 3% de 2022 para 2023, com a taxa de homícidios a cair 12%, a maior queda em vinte anos. Os casos de violações caíram mais de 9%, os roubos violentos descresceram 0,3% e as agressões agravadas diminuíram quase 3%. Em 2023, o FBI registou uma proporção de 362,8 crimes violentos por cem mil pessoas, uma taxa mais baixa do que a registada no ano anterior (377,1 por cem mil habitantes). O organismo também reviu em baixa dados entre 2021 e 2022. Os números mostravam uma queda de 2,1% naquele período, mas o FBI considerou agora, após uma mudança na metodologia de recolha de dados, que houve um aumento de 4,5%.
Acresce que as detenções por cidadãos estrangeiros entrarem nos EUA, ilegalmente e a partir do México, estavam em mínimos de quatro anos em outubro. De acordo com os números oficiais mais recentes, as autoridades efetuaram 56 530 detenções em outubro, menos de um terço do que em outubro do ano passado.
Entretanto, a presidente do México, Claudia Sheinbaum, já respondeu a Donald Trump. Numa carta divulgada à imprensa, e que será ainda hoje enviada ao presidente eleito, a chefe de Estado do México escreveu que "não é através de ameaças ou de taxas alfandegárias que [Donald Trump] vai parar o fenómeno da imigração, nem o consumo de drogas nos EUA”.
Na mensagem partilhada na Truth Social, Donald Trump ainda defendeu aplicar uma tarifa extra à China, acusando o país de exportar "enormes quantidades de drogas, em particular fentanil, para os EUA". O presidente eleito disse ter tido "muitas conversas com a China" sobre o tema "mas sem sucesso" no objetivo que tem.
“Até que eles parem, vamos cobrar à China uma taxa extra de 10%, acima de quaisquer tarifas adicionais, em todos os seus muitos produtos que entram nos EUA”, escreveu.
O fentanil é um medicamento analgésico, com origem num opióide altamente viciante. No último ano, aquele medicamento, a par de outras drogas como cocaína ou metanfetaminas, surgiu como um dos grandes responsáveis das mortes por overdose nos EUA, levando as autoridades daquele país a alertar para a falta de monitorização e regulamentação na prescrição do medicamento, e lançar o alerta para o surgimento de fentanil no mercado ilegal. Em abril deste ano, uma comissão especial da Câmara dos Representantes acusou a China de alimentar o uso de fentanil nos EUA. Os investigadores alegaram ter tido acesso a um portal do governo chinês, que revelava descontos fiscais para a produção de precursores específicos do fentanil, e outras drogas sintéticas, desde que essas empresas as vendessem fora da China.
Grande parte do fentanil entra nos Estados Unidos a partir do México, sendo que as apreensões da droga na fronteira aumentaram drasticamente durante a administração Biden. As autoridades norte-americanas já registaram cerca de 12 247 quilos de fentanil apreendidos em 2024. Em 2019, último ano do primeiro mandato de Trump como presidente, foram apreendidos 1 154 quilos.
No ínicio de 2024, em Portugal, a Direção-Geral de Saúde anunciou que ia rever circular sobre o uso de fentanil no país.