Coreias
15 outubro 2024 às 23h05
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Dos balões de lixo à explosão de estradas: Pyongyang põe fim a sonho de reunificação

Ligações destruídas entre Norte e Sul, apesar de não serem usadas, eram símbolos de aproximação.

No início do ano, o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, deu ordens para se classificar de “inimigo principal” a Coreia do Sul e se destruir o monumento à reunificação da Península Coreana que existia em Pyongyang. Depois, vieram as centenas de balões com lixo que encheram os céus a norte de Seul, em resposta aos balões com propaganda sul-coreana que são lançados com frequência para o território norte-coreano. O último episódio da destruição dos laços entre os dois países foi a destruição efetiva das estradas que os ligavam.

Esta terça-feira, por volta do meio-dia local, os norte-coreanos rebentaram com as estradas de Gyeongui e Donghae e, alegadamente, as linhas de comboio que ligavam o país ao Sul - e que já não eram usadas há anos. Os soldados sul-coreanos responderam com tiros abaixo da linha de demarcação. O Ministério da Reunificação de Seul apelidou o incidente de “altamente anormal”, dizendo violar acordos passados e lamentando o “comportamento regressivo” de Pyongyang.

A tensão entre os dois países, tecnicamente ainda em guerra, já que o conflito de 1950-53 terminou com um armistício e não um tratado de paz, aumentou depois de, na semana passada, a Coreia do Norte acusar o Sul de lançar drones  com propaganda para sobrevoar a sua capital. Foi ainda, segundo o Exército Popular da Coreia, uma medida “de autodefesa para inibir a guerra”, falando na resposta a exercícios militares da Coreia do Sul e da presença frequente de submarinos nucleares norte-americanos na região.

As estradas e a linha do caminho de ferro, apesar de não serem usadas, eram vistas como um símbolo da aproximação entre os dois países, cujo ponto alto ocorreu na cimeira entre os líderes em 2018. E de que, com a eventual melhoria das relações, podia haver uma reunificação. Estas vias foram reconstruídas ao abrigo de um projeto de cooperação, financiado com empréstimos sul-coreanos no valor de 132 milhões de dólares, que Pyongyang ainda tem obrigação de pagar. Não é a primeira vez que os norte-coreanos destroem estes símbolos de aproximação: em 2020, explodiram o Gabinete de Ligação Intercoreano que tinha sido construído dois anos antes junto à fronteira.

susana.f.salvador@dn.pt