Histórico
16 março 2024 às 09h01
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Grande banca lucrou quase 12 milhões de euros por dia em 2023

Resultado líquido dos seis maiores bancos a operar em Portugal ascendeu aos 4,3 mil milhões de euros. Política de juros altos permitiu melhorar níveis de rendibilidade e encaixar 9,6 mil milhões por via da margem financeira. Lucro da Caixa foi o mais elevado, mas BCP foi o que mais cresceu.

Num ano em que o cenário macroeconómico continuou a fazer-se de incertezas e desafios, os seis maiores bancos a operar em Portugal conseguiram manter-se resilientes e alcançar resultados históricos. Impulsionados pelas altas taxas de juro, o BPI, Caixa Geral de Depósitos (CGD), Millennium BCP, Montepio, Novobanco e Santander reportaram, em conjunto, lucros de 4,33 mil milhões de euros em 2023, o que representa uma melhoria de quase 69%(1,76 mil milhões) face aos 2,57 mil milhões de euros registados no ano anterior. Contas feitas, foram 11,88 milhões de euros por dia.

Tal como tem sido habitual, o banco do Estado encabeçou a lista dos ganhos, ao atingir um resultado líquido recorde de 1,29 mil milhões de euros, que supera em 51% aquelas que tinham sido as melhores cifras até então - 856,3 milhões em 2007. Em termos homólogos, o crescimento situou-se nos 53%, ou seja, a CGD lucrou mais 448 milhões de euros do que em 2022. Já o Santander, também à semelhança do passado, apresentou o maior lucro da banca privada: 894,6 milhões de euros, resultantes de um acréscimo de 326,1 milhões, ou 57%, em termos percentuais.

O Millennium BCP, por sua vez, protagonizou a maior subida. O banco liderado por Miguel Maya mais do que quadruplicou os ganhos, passando de 197,4 milhões de euros, em 2022, para 856 milhões no ano passado, o que não só traduz uma avanço de 334%, como também significa o terceiro melhor resultado entre as seis instituições. O Novobanco, surge em seguida, com lucros de 743,1 milhões de euros, que refletem uma evolução de 33% relativamente aos 560,8 milhões obtidos no anterior exercício.

No caso do BPI, a variação anual do resultado líquido rondou os 42%, tendo a instituição pertencente ao espanhol CaixaBank encaixado 524 milhões de euros. O Montepio conseguiu igualmente lucrar em 2023, embora os 28,4 milhões de euros alcançados se tenham situado 16% abaixo dos 33,8 milhões verificados no período homólogo. Acontece que o mais pequeno dos seis bancos viu o resultado ser prejudicado pela venda do Finibanco Angola - sem este impacto, na ordem dos 116,1 milhões, os ganhos históricos seriam de 144,5 milhões de euros.

Altos juros rendem 9,6 mil milhões

Estes resultados acompanharam uma melhoria generalizada da rendibilidade das instituições, com os rácios que medem a capacidade de retorno para o acionista a situarem-se entre os 16% e os 23,4% - os banqueiros preveem, contudo, que estes indicadores baixem já em 2024, na sequência do movimento de descida dos juros. 

Facto é que os valores observados na margem financeira provam que a política monetária vigente até então continuou a influenciar os números: a diferença obtida entre os juros cobrados nos empréstimos e os juros pagos nos depósitos permitiu às seis maiores instituições bancárias a operar no país encaixarem um total de 9,68 mil milhões de euros, um avanço de 3,9 milhões (+68%) face a 2022.

Nesta ótica, a Caixa foi a que mais beneficiou da subida das taxas de juro, com 2,86 mil milhões de euros recebidos em 2023 por esta via (+104% do que no exercício transato), seguindo-se o Millennium BCP com 2,82 mil milhões (+31%) e o Santander, com 1,49 mil milhões. Logo atrás, surge o Novobanco, ao embolsar 1,14 mil milhões de euros (+83%), o BPI, com 948,9 milhões, e o Montepio, com 408,1 milhões de euros (+62%).

Por outro lado, as comissões cobradas pelos seis maiores bancos do país aos seus clientes durante o ano passado geraram uma receita acumulada de 2,39 mil milhões de euros, sofrendo um decréscimo de cerca de 51 milhões de euros (-2%) face ao ano anterior, em resultado do abrandamento da nova produção de crédito e das alterações legislativas que impedem a cobrança em determinados serviços relacionados com os empréstimos à habitação. Ainda nesta rubrica, foi o Millennium o que mais saiu a ganhar (664,6 milhões), sucedendo-se a instituição liderada por Paulo Macedo (565 milhões) e o Santander (457 milhões).

Depósitos emagrecem

Fruto de uma tendência iniciada já em 2022, a carteira total de crédito das referidas instituições conheceu um ligeiro aumento de 0,2%. Em termos consolidados, o stock detido pelos bancos BPI, CGD, Millennium BCP, Montepio, Novobanco e Santander passou de 220,8 mil milhões de euros, no final de dezembro de 2022, para 221,3 mil milhões, no fim do ano passado. Neste grupo, só o BPI e o Santander é que apresentaram crescimentos, ambos na ordem dos 3%.

De igual modo, os depósitos de clientes não escaparam ao emagrecimento, registando uma baixa conjunta de 2%: os cofres dos seis bancos somaram 264,4 mil milhões de euros em poupanças no ano passado, o que compara com os 270,1 mil milhões do período homólogo. Enquanto o Santander registou a maior quebra (-8,5%), o Millennium BCP e o Montepio foram os únicos a conhecer subidas, de 2,6% e 1,9%, respetivamente.

Saem 514 trabalhadores

No final de 2023, os seis maiores bancos em Portugal contavam com menos 33 balcões e 514 trabalhadores. A CGD (-270), o Montepio (-183) e o BPI (-141) foram os que mais reduziram o número de colaboradores - o Novobanco, por seu turno, foi o único a aumentar o pessoal, com o saldo a apontar para as 119 pessoas.

geral@dinheirovivo.pt