Sociedade
11 fevereiro 2024 às 01h20
Leitura: 3 min

O fanático por dirigíveis

Portugal há 50 anos

A preocupação com a poluição causada por meios de transporte era tema do DN a 11 de fevereiro de 1974. Poderá ser uma notícia de hoje ou amanhã, já que o tema não se esgota e ganha contornos cada vez mais preocupantes. A possível solução para o problema na altura é que estava errada.

O título com letras grandes questionava “Os dirigíveis serão os grandes transportadores do futuro?”. O futuro não era assim tão distante, com previsão de que nos anos 80 já estariam no auge novamente. Recorda-se que o acidente na Alemanha, em 1937, que toda a gente conhece pela capa do disco dos Led Zeppelin, foi considerado a pá de cal dos gigantes do ar. 

A fonte da notícia, Max Rynish, é descrito como um “fanático por dirigíveis” e liderava uma campanha internacional pela volta dos grandes veículos aos céus. A questão da segurança estava ultrapassada, segundo o entrevistado, já que os dirigíveis do futuro seriam movidos a gás de hélio não inflamável, ou seja, sem mais explosões mortais. Este era apenas um dos vários argumentos. 

O cenário descrito era de crise energética, aumento do custo dos transportes e estradas cada vez mais congestionadas. Novamente poderia ser o cenário de 2022, 2023 ou 2024. Mas o argumento central de Max era o da sustentabilidade, palavra que ainda não era moda, mas era retratada como “mais limpos” - expressão que estava em destaque no pós-título, mas com aspas. 

O tal fanático citava que um Boeing 707 utilizava 18 vezes mais combustível do que um dirigível. Porém, as vantagens não paravam aí: também eram mais económicos, com possibilidade de serem usados para transporte de produtos com custos mais baixos. Além disso, gerariam “empregos em abundância”. 

O plano estava todo na cabeça de Rynish, que prometia reunir 300 pessoas numa conferência no mês seguinte, apoiado por um grupo americano de defesa ambiental. O DN deixava claro no texto que havia uma “única barreira” para o sonho do fanático por dirigíveis: dinheiro, ou melhor, mais dinheiro do que as companhias de aviação tinham. 

Hoje, sabemos que Max não juntou o dinheiro necessário e, por enquanto, aproximadamente 200 mil aviões rasgam os céus diariamente.