Primárias dos EUA
06 março 2024 às 07h22
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Biden e Trump "esmagam" nas primárias da "Super Terça-Feira"

A única corrida perdida do lado democrata foi no território Samoa Americana, um pequeno território dos EUA no sul do oceano Pacífico. Biden foi derrotado pelo candidato desconhecido Jason Palmer, por 51 votos contra 40.

O atual e o ex-presidente dos EUA, Joe Biden e Donald Trump, saíram vitoriosos da "Super Terça-Feira", arrecadando quase todos os delegados que foram a votos, praticamente garantindo a sua nomeação.

Com mais de 80% dos votos já apurados em 13 dos 15 estados e um território desta "Super Terça-Feira", Donald Trump assegurou já mais 722 delegados republicanos, contra apenas 46 da sua única adversária, a ex-embaixadora Nikki Haley, de acordo com dados divulgados pelos 'media' norte-americanos.

No lado democrata, Biden garantiu a vitória em todos os círculos eleitorais, em quase todos com um resultado acima dos 90%, contra os seus adversários a nível nacional, Dean Phillips e Marianne Williamson, tendo obtido um empate com o empresário Jason Palmer, que concorreu localmente no território da Samoa Americana.

Ambos têm já praticamente garantida a sua nomeação para concorrerem como candidatos dos seus partidos às eleições presidenciais de 05 de novembro, com Biden a eliminar qualquer concorrência efetiva e com Trump a ter conseguido já 995 delegados dos 1.215 necessários para assegurar a sua escolha na convenção do Partido Republicano marcada para julho.

Nikki Haley, apesar de tudo, conseguiu evitar que Trump ganhasse em todos os tabuleiros da "Super Terça-Feira", infligindo uma derrota ao ex-presidente no estado de Vermont, mas angariando apenas 46 delegados, tendo agora um total de 89, o que a deixa praticamente fora da corrida para a nomeação em julho.

Apesar das sucessivas derrotas em 14 dos 15 estados, a porta-voz de Haley, Olivia Perez-Cubas, comentou os resultados dizendo que eles revelam que "há uma parte do partido que continua com sérias dúvidas sobre a competência de Donald Trump" e não dando nenhum sinal de que a ex-embaixadora queira desistir já da corrida.

Trump comentou os resultados a partir da sua casa em Mar-a-Lago, na Florida, apelando à unidade do partido à volta da sua candidatura.

"Queremos unidade. Vamos ter unidade. Isso vai acontecer muito em breve", declarou Trump, num apelo à desistência de Haley, para evitar dissidências dentro do partido, mostrando-se já apenas focado em confrontar Biden nas presidenciais.

No lado democrata, em reação aos resultados provisórios, Biden também se mostrou já focado na repetição do embate contra Trump em novembro, mostrando-se preocupado com aquilo que representa o seu adversário republicano, e desvalorizando o facto de alguns eleitores democratas continuarem a optar por colocar a cruz na opção "não comprometido", revelando que não está confortável com nenhum dos candidatos do partido.

"A minha mensagem para o país é esta: cada geração de americanos enfrentará um momento em que terá de defender a democracia. Defendam a nossa liberdade pessoal. Defendam o direito de voto e os nossos direitos civis. A todos os democratas, republicanos e independentes que acreditam numa América livre e justa: este é o nosso momento. Esta é a nossa luta. Juntos, vamos ganhar", disse Biden.

Primárias comprovam descontentamento com candidatos

Vários analistas consideram que as eleições primárias nos EUA comprovam que os eleitores estão descontentes com qualquer um dos dois prováveis candidatos às presidenciais de novembro, o democrata Joe Biden e o republicano Donald Trump.

O atual e o ex-presidente dos EUA, Joe Biden e Donald Trump, saíram como esmagadores vitoriosos da "Super Terça-Feira", arrecadando quase todos os delegados que foram a votos, praticamente garantindo a sua nomeação.

Com mais de 80% dos votos já apurados em 13 dos 15 estados e um território desta "Super Terça-Feira", Donald Trump assegurou já mais 722 delegados republicanos, contra apenas 46 da sua única adversária, a ex-embaixadora Nikki Haley, de acordo com dados divulgados pelos 'media' norte-americanos.

Os media norte-americanos noticiaram que Haley deverá ainda esta quarta-feira anunciar a sua desistência da corrida nas primárias, deixando Trump com caminho aberto para se tornar o candidato republicano.

No lado democrata, Biden garantiu a vitória em todos os círculos eleitorais, em quase todos com um resultado acima dos 90%, contra os seus adversários a nível nacional, Dean Phillips e Marianne Williamson, tendo obtido um empate com o empresário Jason Palmer, que concorreu localmente no território da Samoa Americana.

Para diversos analistas, apesar de terem "esmagado" os adversários políticos, Biden e Trump revelam sérias vulnerabilidades junto das suas bases de apoio partidárias, que provam o diagnóstico de que os eleitores norte-americanos irão às urnas das eleições presidenciais de 05 de novembro sem grande convicção nas escolhas.

"Apesar de quase sempre perder para Trump, Haley conseguiu, em vários estados, resultados que ficaram acima daquela que era a sua base de apoio natural, revelando que estava a catalisar votos de protesto republicanos contra Trump", disse à Lusa Susana Penela, investigadora de Ciência Política na Universidade de Sussex, no Reino Unido.

Para esta analista, no lado democrata, também se deve atribuir significado ao facto de uma percentagem significativa de eleitores colocarem a cruz na opção "não comprometido", mostrando que não estão confortáveis com nenhum dos candidatos nas primárias do partido, nem mesmo com aquele que tem vencido todos os estados, o atual presidente, Joe Biden.

Esse sinal de protesto já tinha acontecido no estado do Michigan - onde Biden venceu com facilidade os seus dois opositores internos, Dean Phillips e Marianne Williamson, mas quase 15% optaram pela solução "não comprometido" -- e voltou a repetir-se em vários dos estados que foram a votos na "Super Terça-Feira".

"Ao fazerem essa opção, os eleitores confirmam o que várias sondagens têm revelado: os democratas têm sérias reservas sobre a eficácia da recandidatura de Biden, mostrando-se em alguns casos céticos sobre a sua capacidade para voltar a vencer Trump nas presidenciais", explicou Penela.

Também o analista Aaron Blake, num artigo para o jornal The Washington Post, reforçou esta perspetiva sobre o mal-estar em ambos os partidos no que diz respeito às escolhas para a candidatura presidencial.

Blake destacou o facto de Haley ter tido resultados acima dos 30% em estados que lhe eram particularmente desfavoráveis nesta "Super Terça-Feira", nomeadamente Massachusetts, Virgínia e Colorado, concluindo que esses números se devem sobretudo a um "voto de protesto contra Trump".

O analista releva igualmente o facto de nos boletins de voto no estado de Minnesota, esta terça-feira, terem aparecido cerca de 20% de cruzes na opção "não comprometido", que também lê como votos de protesto contra a candidatura de Biden.

"Os cerca de 70% de votos que Biden teve no Minnesota foram o valor mais baixo em qualquer estado, à exceção dos 64% no estado de New Hampshire", lembra Blake, para assinalar que o presidente democrata parte para o embate contra Trump nas presidenciais de novembro com inegáveis vulnerabilidades.

Este analista salienta ainda o facto de Biden ter ficado mesmo ligeiramente atrás do desconhecido empresário Jason Palmer nas primárias do território da Samoa Americana, mostrando que nem mesmo o facto de ser o presidente em exercício dos Estados Unidos lhe garante a popularidade suficiente para vitórias.

"Este voto de protesto contra o presidente é o reflexo daquilo que as sondagens indicam há vários meses: mais de metade dos norte-americanos consideram que, aos 81 anos, Biden não tem condições para um segundo mandato, que terminará aos 86 anos", lembra a Susana Penela.

Aversão a Trump leva republicanos a votar em candidatos desistentes

 A aversão ao ex-Presidente norte-americano Donald Trump levou vários eleitores republicanos de Richmond, capital da Virgínia, a votar em candidatos que já desistiram da corrida eleitoral primária como forma de protesto.

Na Biblioteca Pública de Richmond, o local de votação para a população residente no centro, Caroline, uma jovem de 23 anos, explicou à Lusa que votou no ex-governador de Nova Jérsia Chris Christie, um candidato que já abandonou a corrida primária republicana, mas que se tornou uma das vozes mais 'anti-Trump' dentro do Partido Republicano.

"A minha maior preocupação é a grande desigualdade que vemos neste país: uns com tudo, outros sem nada. Vemos um grande número de pessoas a viver nas ruas, enquanto uma pequena parcela controla todo o poder e todo o dinheiro", observou Caroline, para quem Donald Trump representa tudo aquilo que rejeita e, como forma de protesto, decidiu votar em Christie, um grande opositor do ex-Presidente.

Da mesma forma, Patrick, um eleitor republicano de 34 anos, resolveu depositar o voto no governador da Florida, Ron DeSantis, também já fora da corrida primária republicana.

"Ron DeSantis era o melhor candidato e, apesar de eu saber que será Donald Trump a vencer, sinto que tenho de apoiar aquele que considero a melhor opção, a melhor pessoa, aquele que acredito que seria o melhor Presidente... e essa pessoa não é Donald Trump", argumentou Patrick.

Outra tendência foi a de eleitores democratas que optaram, de forma estratégica, por votar na eleição republicana.

Ao contrário de muitos estados norte-americanos, uma das particularidades da Virgínia é que nesta "Super Terça-Feira" realizou primárias abertas, ou seja, eleitores democratas puderam votar em candidatos republicanos e vice-versa.

De acordo com analistas ouvidos pela Lusa, essa seria uma estratégia usada especialmente por eleitores democratas, que, dando como certa uma vitória do atual Presidente, Joe Biden, nas primárias do Partido Democrata, optaram assim por votar num candidato republicano que pudesse fazer frente a Donald Trump.

Jeff, um democrata de 62 anos, foi um dos eleitores a admitir ter recorrido a essa estratégia devido à forte rejeição que sente pelo magnata.

"Hoje votei na Nikki Hailey para tentar manter Trump bem longe da Casa Branca. Na realidade, penso que ela não tem chances de vencer, mas mesmo assim quis fazer a minha parte e tentar manter Trump fora da Presidência", sublinhou.

"Apesar de saber que muita gente não está entusiasmada com esta eleição e com os candidatos disponíveis no boletim de voto, eu estou bastante entusiasmado. De facto, acho que Joe Biden colocou este país no caminho certo e gostaria que lhe déssemos mais quatro anos. Acredito que coisas boas iriam acontecer. Mas, se Trump vencer novamente, acho que o país voltará a ser a América da década de 1950, com homens ricos e brancos a dominarem todos os setores", disse à Lusa. 

Outra eleitora que não quer imaginar Donald Trump de regresso à Casa Branca é Michele, uma democrata de 65 anos, que não poupou críticas ao candidato favorito do eleitorado republicano.

"Donald Trump é um criminoso, ele já fez tanto mal ao nosso país, ele mentiu-nos sobre os seus negócios, provocou o ataque ao Capitólio em 06 de janeiro de 2021, tentou reverter resultados eleitorais. E, mesmo assim, há imensas pessoas que estão completamente cegas e que continuam a apoiar este homem", lamentou.

"Trump só quer saber dele próprio e dos ricos. Como é que alguém consegue votar num homem que só promove o ódio, a raiva e maus hábitos? Ele não é honesto com o povo americano, não está a lutar por este país. Ele só luta pelos seus próprios interesses, ao contrário de Joe Biden, que efetivamente se preocupa com o bem coletivo", argumentou Michele.

Contudo, Donald Trump venceu as primárias republicanas do decisivo estado da Virgínia, considerado um 'swing state' ('estado pendular') por tradicionalmente oscilar entre democratas e republicanos.

Biden leva ligeira vantagem sobre Trump em sondagem em 15 estados

O presidente dos EUA, o democrata Joe Biden, supera o republicano Donald Trump por apenas dois pontos percentuais nas sondagens para as presidenciais de novembro nos 15 estados que esta terça-feira votaram nas primárias.

De acordo com um estudo da Florida Atlantic University (FAU) e da Mainstreet Research, nos 15 estados que votaram a "Super Terça-Feira" das primárias republicanas e democratas, Biden tem uma intenção de voto de 46%, contra 44% de Trump.

Estes valores representam uma queda nos resultados do atual inquilino da Casa Branca em comparação com as eleições de 2020, onde venceu nesses 15 estados com uma vantagem de oito pontos percentuais (53% contra 45%).

A sondagem - com uma margem de erro de 1,7%, o que significa que a antevisão divulgada esta terça-feira está dentro dos limites do empate técnico - mostra que Trump tem um desempenho mais fraco entre mulheres e pessoas brancas com ensino superior em comparação com Biden.

Por outro lado, o candidato republicano tem melhores resultados entre os eleitores hispânicos, de acordo com esta sondagem.

"Quase 30% dos eleitores que não votam em Trump apontam o seu desempenho no cargo e para os acontecimentos de 06 de janeiro (de 2021, quando uma multidão dos seus apoiantes invadiu o Capitólio) como o motivo principal para não votar nele", comentou Robert E. Gutsche, Jr., professor da Faculdade de Estudos de Comunicação e Multimédia da FAU.

A sondagem - realizada entre 29 de fevereiro e 03 de março, entre 3.502 adultos com mais de 18 anos que residem nos 15 estados da "Super Terça-Feira" -- revela ainda que no Utah a vantagem de Trump sobre Biden (que em 2020 foi de 21%) foi reduzida para 9%.