Manifesto
19 março 2024 às 00h16
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PSD pressionado a formar “maioria sólida” com o Chega

Militantes como Rui Gomes da Silva e Miguel Corte-Real apelam a Luís Montenegro: “Quem não quiser construir uma verdadeira alternativa não-socialista para Portugal estará a fazer o jogo da esquerda.”

Um grupo de sete militantes do PSD, entre os quais o ex-ministro Rui Gomes da Silva, fez um apelo ao presidente do PSD, Luís Montenegro, para “colocar Portugal em primeiro lugar”, demonstrando “foco, responsabilidade e sentido de Estado” para “entender a importância de construir um Governo estável, com uma maioria sólida, que possa fazer as reformas de que o país precisa”. Algo que passaria por um entendimento com o Chega que o líder social-democrata disse, ao longo de toda a campanha eleitoral, não estar disposto a fazer.

Os subscritores do manifesto Portugal em Primeiro, a que o DN teve acesso, dizem ser imperativo construir “uma solução governativa à direita, sem medos e muito menos condicionada por aquilo que deseja a extrema-esquerda”, pois a alternativa ao entendimento da Aliança Democrática (AD) com o Chega “é termos Governos sem estabilidade e de curto prazo, que em nada servirão os interesses do país”.

“Quem não o quiser entender, quem não quiser dialogar, quem não quiser construir uma verdadeira alternativa não-socialista para Portugal, estará a fazer o jogo da esquerda, e desse lado, nós e muitos portugueses, nunca estaremos”, lê-se no documento, cujo primeiro subscritor é o ex-deputado Miguel Corte-Real, que lidera a bancada do PSD na Assembleia Municipal do Porto.

Além dele, e de Rui Gomes da Silva, um dos mais notórios defensores do diálogo com André Ventura, juntam-se Paulo Ramalheira Teixeira, ex-presidente da Câmara de Castelo de Paiva (e que deu resposta à queda da Ponte de Entre-os-Rios), o médico Manuel Pinto Coelho, os economistas João Saracho de Almeida e Susana Faria, e Paulo Jorge Teixeira, presidente da Cooperativa do Povo Portuense.

Miguel Corte-Real disse ao DN que avançou com a iniciativa por “estar atormentado com a necessidade de termos um Governo estável”. Pretende que Montenegro “pare para fazer uma reflexão” e “perceba que pode governar quatro anos em estabilidade”. Segundo o deputado municipal, este movimento nasce “para que ele seja primeiro-ministro”, mas deixa um aviso: “Não me conformo com a possibilidade de o PSD optar por não construir uma maioria estável para fazer as reformas necessárias.”

Por seu lado, Rui Gomes da Silva diz que é preciso não fazer um Governo que “pode durar ano e meio ou dois”, pois o estado do país “exige medidas corajosas” que serão difíceis de tomar sob a ameaça de eleições antecipadas a qualquer instante.

Sem saber se o “não é não” de Montenegro a Ventura tem a ver com pressões de líderes europeus ou de “algumas pessoas que surgiram na campanha sem perceberem que o tempo em que foram líderes já passou”, o antigo ministro dos Assuntos Parlamentares disse acreditar que o presidente do PSD reconsiderará. “Se não tivesse esperança não tinha apoiado esta ideia, mas que essa esperança é residual, também é”, disse ao DN.

Eleições mais legitimadas

Convencidos de que “só um acordo, que garanta um Governo estável, com compromissos sólidos para quatro anos, coloca os interesses de Portugal em primeiro lugar”, os autores do manifesto Portugal em Primeiro, que deve o nome à célebre frase do fundador do PSD, Sá Carneiro (“Primeiro, Portugal; depois, o partido; por fim, a circunstância pessoal de cada um de nós”), salientam que “os resultados eleitorais foram claros”. Isto na medida em que “os portugueses disseram que não queriam continuar a ser governados pela esquerda”, pelo que a 10 de março “deram o maior resultado ao espaço não-socialista” desde 1991.

No entanto, este grupo de militantes realça que, apesar de o PSD ter sido “transparente” ao pedir um Governo de maioria absoluta, como “um voto de confiança ao partido para voltar a salvar Portugal”, e de Montenegro ter assumido “que não queria fazer acordos com o Chega e que queria governar com uma maioria construída, no limite, com a Iniciativa Liberal”, os portugueses reagiram de uma forma que deve ser interpretada pelo líder da coligação de centro-direita. Segundo os autores do manifesto, os portugueses “responderam ao repto e demonstraram confiar na AD para liderar o Governo, mas também disseram que não o devia fazer sozinha, e que para tal teria de encontrar, no espaço não-socialista, uma solução para garantir a estabilidade necessária”.

Numa altura em que falta apurar os resultados da emigração, os autores do manifesto destacam que os portugueses “responderam em força ao desafio do Presidente da República”, com o mais baixo nível de abstenção desde 1995. “Todas as eleições, cumprindo as regras da democracia, são legítimas, mas quanto maior for a sua participação, mais legitimadas estão”, escrevem, acrescentando ser “justo concluir que estas eleições são as mais legitimadas dos últimos 29 anos”.  

Para os autores do manifesto, o problema de “um país vergonhosamente na cauda da Europa”, com quatro milhões de pobres ou no limiar da pobreza, uma classe média “cada vez mais residual e sufocada pela maior carga fiscal de sempre”, e áreas como a Saúde, Educação, Justiça e segurança “impossibilitadas de prestar um serviço digno ao cidadão”, tem no PS o “responsável principal”.