Os trabalhadores portugueses parecem ser dos mais pessimistas da Europa no que diz respeito à incorporação de mudanças tecnológicas e sociais no mercado de trabalho, indica um estudo do gigante francês da formação Grupo Cegos, realizado junto de 5469 profissionais em cinco países europeus, bem como Singapura, Brasil, México e Chile.
De acordo com o trabalho, ao qual o DN teve acesso em primeira mão, um em cada três trabalhadores em Portugal (36%) acredita que as alterações tecnológicas ou sociais que se avizinham no mercado de trabalho vão destruir o seu emprego. A percentagem sobe para 38% quando os auscultados estão em funções operacionais.
O resultado em Portugal fica nove pontos percentuais acima dos 27% da média europeia, que inclui países com mercados representativos como a França, a Alemanha, Itália, Espanha e Portugal. No nosso país, a Cegos auscultou 500 colaboradores e 20 diretores ou responsáveis de recursos humanos, todos eles (tal como nos outros países) a trabalhar em organizações do setor privado e público com 50 ou mais trabalhadores.
Questionados sobre os maiores desafios para as competências dos colaboradores nos próximos dois anos, a maioria dos diretores de recursos humanos sondados respondeu que se prendem, sobretudo, com a evolução em matéria de inteligência artificial (IA) e dados. Mas os gestores portugueses (50%) acreditam mais do que os seus congéneres a nível mundial de que a IA e os dados vão ser determinantes neste campo.
O que todos os colaboradores e gestores parecem acreditar é que vêm aí alterações no conteúdo do seu trabalho (76% a nível global e 75%, ou três em cada quatro, em Portugal). Este sentimento é mais forte entre os gestores (tendo passado dos 78% em 2023 para os 83% este ano).
Mais grave: os executivos ouvidos em Portugal consideram que quase 30% dos empregos nas suas empresas estão a ser ocupados por trabalhadores cujas competências se vão tornar obsoletas nos próximos três anos. Trata-se da percentagem mais alta de todos os nove países analisados (nos quais a média global é de 19%).
“A agilidade e a utilidade são os dois maiores desafios que os departamentos de RH e de I&D enfrentam quando se trata de apoiar os colaboradores no desenvolvimento das suas competências”, considera Grégory Gallic, diretor da Oferta e Especialização Engenharia da Aprendizagem e Eficácia Profissional do Grupo Cegos.
O barómetro internacional Transformações, Competências e Aprendizagem, do Grupo Cegos, salienta ainda que “o desenvolvimento de competências relacionadas com a transição ecológica ainda está na retaguarda das prioridades em função do que se prevê serem as necessidades impostas pelo futuro”, com 29% a nível global e 25% em Portugal.
Citado também no barómetro, o diretor de Aprendizagem e Soluções do Grupo Cegos, Christophe Perilhou, salienta ter constatado “que, apesar das mudanças urgentes a fazer e da pressão regulamentar acrescida, as organizações continuam a realizar poucos projetos de formação importantes sobre temas relacionados com todos os aspetos do desenvolvimento sustentável.
O Grupo Cegos, presente em Portugal através da sua sucursal Cegoc, é uma das maiores multinacionais na área da formação a nível mundial, estando presente em 50 países, onde emprega mais de 1500 colaboradores. O grupo tem 20 mil clientes empresariais e um volume de negócios anual superior a 250 milhões de euros.