Crime em Lisboa
03 outubro 2024 às 22h46
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Flores, velas e silêncio. A homenagem às vítimas do triplo homicídio

Um dia após a morte das três pessoas, o ambiente carregado e a consternação mantinham-se. Moradores continuam em silêncio e criaram um memorial improvisado.

O silêncio dos moradores, um memorial de flores e velas, em frente à barbearia Granda Pente compuseram o ambiente de consternação na rua Henrique Barrilaro Ruas, em Lisboa, um dia depois do triplo homicídio que ali aconteceu.

Uns metros mais abaixo, continuam os dois carros queimados na quarta-feira à noite e que, alegadamente, seriam propriedade de Fernando, o homicida. Terão sido queimados como retaliação por parte dos moradores do bairro. Atentos estão dois agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP), vestidos com coletes à prova de bala, em frente à entrada do prédio onde Fernando, o principal suspeito, vivia. Na rua, o silêncio - tal como na véspera - é o som mais presente, com alguns moradores à janela, que vão observando as movimentações. Há duas mulheres que, de forma algo discreta, aparecem na rua, dirigem-se ao memorial em frente à barbearia (onde ficam alguns minutos) e depois deixam o local. Em duas ocasiões, há veículos que passam e param em frente à barbearia de Carlos Pina. De resto, são praticamente nulos os sinais daquilo que ali se passara no dia anterior. 

À hora do fecho desta edição, Fernando continuava a monte. A caça ao homem foi montada logo após o crime, mas a Polícia Judiciária (PJ), que tomou conta da investigação, dada a natureza criminal do caso, ainda não tinha conseguido deter o suspeito. Fernando, de 33 anos, é morador na rua Henrique Barrilaro Ruas - a mesma em que aconteceu o crime. Com uma pistola 6.35 mm, terá matado Carlos Pina, barbeiro, o taxista Bruno Neto e Fernanda Júlia, sua mulher.

Como retaliação, os moradores incendiaram os carros do suspeito do crime. (Paulo Spranger)

Como tudo aconteceu não se sabe ao certo. Mas os primeiros relatos apontam: Fernando terá querido o cortar o cabelo na barbearia Granda Pente, algo que lhe foi recusado. Isto motivou uma discussão entre os dois homens, que terminou com a morte de Carlos Pina. À saída, cruzou-se com Bruno e Fernanda, que alvejou na cabeça. 

Após ter cometido o triplo homicídio, Fernando fugiu do local, em direção à zona de Santa Apolónia, em Lisboa. Para isso, terá contado com a ajuda de outros dois homens que, ao que tudo indica, serão pai e meio-irmão do suspeito. Na habitação, estará ainda um animal que será de Fernando.

No passado, Fernando já teria estado envolvido em episódios violentos. Um deles terá sido um tiroteio, cujas marcas ainda são visíveis na parede junto à janela do primeiro andar habitado pelo suspeito. Terá vivido no terceiro andar do mesmo prédio, com o pai - habitação de onde saiu após se desentender com o pai.

A janela do suspeito do homicídio tem marcas de balas de um tiroteio anterior (Paulo Spranger).

“Este é um tipo de crime de natureza excecional”

Ouvido pelo DN, Hugo Costeira, especialista em segurança interna, explica que não há razão para alarme. Apesar da violência do crime, é algo de “natureza excecional”. A sociedade portuguesa, analisa o ex-presidente do Observatório de Segurança Interna (OSI), “ainda não é assim tão decadente e tão volátil neste tipo de situações”.

“Quem vive no mundo criminoso”, diz Hugo Costeira, “sabe onde comprar armas de fogo, é algo muito fácil na dark web, por exemplo” e isso pode explicar o facto de o suspeito ter na sua posse a pistola com quem terá cometido o homicídio. “Não se pode achar que um criminoso não tenha acesso a este tipo de ferramentas, claro”.

Francisco Rodrigues, membro do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT) ressalva que “a lei para a posse de arma está muito mais apertada, mas isso é para aqueles que as querem legalizadas”. “Todos os anos são canalizadas para o departamento de armas e explosivos da PSP várias centenas de armas. Ou seja: elas estão por aí e por umas centenas de euros consegue-se adquirir uma arma, não é? Mas os criminosos não se preocupam muito em ter uma arma legalizada, claro, não têm essa norma ética.”

Cerca de um mês depois da fuga de cinco reclusos da prisão de Vale de Judeus, este caso prejudica a imagem da segurança do país? Francisco Rodrigues afirma que “é natural que isto faça alterar o sentimento de segurança” do país, até porque “ambas as situações são muito localizadas”. No entanto, ressalva, “podiam ter acontecido agora ou noutra altura qualquer”, não devendo ser retiradas correlações entre os casos.