Os presidentes das três Câmaras Municipais mais endividadas de Portugal - Vila Real de Santo António, Fornos de Algodres e Vila Franca do Campo (Açores) - têm duas características em comum: foram eleitos pelo PS e justificam o estado financeiro das suas autarquias com a ‘herança’ pesada que lhes chegou às mãos depois da gestão dos seus antecessores, que, num dos casos, até é do próprio partido. Dois deles não podem ficar mais nenhum mandato à frente das câmaras. Por isso, há também a pairar sobre eles a pressão das eleições autárquicas, já em 2025, que dizem não temer. Por agora, os dados do Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses, relativo a 2023 e divulgado no final de outubro, desperta dúvidas e oferece algumas certezas sobre a gestão municipal. No entanto, os dados incluidos no documento que dão conta do endividamento são relativos a 2022.
No que diz respeito ao endividamento, estas autarquias aparecem nos lugares cimeiros “com índice de dívida total superior a 1,5 da média da receita corrente dos três anos anteriores”, que surge no documento com base na diferença entre “receitas liquidadas” e “receitas previstas”, pelo que o número total da dívida não é o único critério para esta análise.
“Foram 16 anos em que tudo aconteceu e responsabilização de alguém nunca houve”, revelou ao DN o presidente da Câmara de Vila Real de Santo António, Álvaro Araújo (PS), num comentário com o qual justificou o grau de endividamento do município (113,7 milhões de euros), que atribui ao seu antecessor (social-democrata). Álvaro Araújo está à frente do executivo municipal apenas desde 2021, pelo que ainda pode candidatar-se às eleições de 2025.
A corroborar a perspetiva do autarca, Vila Real de Santo António surge no Anuário Financeiro, elaborado pelo Centro de Investigação em Contabilidade e Fiscalidade do Instituto Politécnico do Cávado e do Ave (CICF), como o município que mais conseguiu reduzir em 2023 o passivo exigível, isto é, o conjunto de dívidas que são liquidadas com prazo superior a um ano, apresentando em 2023 uma variação de -34,5% face ao período homólogo.
No documento, mais especificamente na tabela relativa aos municípios com maior volume total de despesa paga em juros entre 2014 e 2023 e simulação desse custo por habitante, Vila Real de Santo António ocupa o quarto lugar.
“Não é por acaso que estas coisas acontecem, tem de haver muito rigor na gestão financeira”, diz, com orgulho, Álvaro Araújo.