Legislativas
10 março 2024 às 10h11
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Como votou o país desde o 25 de Abril de 1974?

Desde as primeiras eleições gerais o PS formou Governo dez vezes e o PSD sete.

A soma das votações nos partidos de esquerda parlamentar nunca baixou dos 37,9% nas 17 eleições gerais realizadas desde o 25 de Abril de 1974, enquanto os da direita tiveram o seu pior resultado em 1975, ficando-se pelos 34%.

Em 17 eleições realizadas no Portugal democrático, incluindo as da Constituinte em 1975, a esquerda alcançou uma maior percentagem de votos por 12 vezes e a direita apenas cinco. O PS formou governo em 10 das 12 vezes em que a esquerda chegou à frente, tendo o PSD governado sete, duas delas com maioria de sinal contrário: no primeiro governo da AD, em 1979, e na primeira vitória de Cavaco Silva, em 1985.

O pior resultado percentual da soma dos partidos da esquerda com representação no parlamento registou-se nas legislativas de 1991, que deram a segunda maioria absoluta ao PSD de Cavaco Silva, uma eleição em que o PRD do general Ramalho Eanes desapareceu da Assembleia da República depois ter atingido os 18% em 1985.

A direita teve o seu pior resultado nas primeiras eleições após a ditadura, em 1975, para a Assembleia Constituinte, quando obteve 34%. E o maior desaire em legislativas foi em 2019, com as percentagens do PPD-PSD, CDS-PP, Chega e IL a somarem 34,6% e 86 deputados. O PSD, liderado por Rui Rio, alcançou 27,8%, o CDS-PP de Assunção Cristas registou 4,2% e o Chega de André Ventura e a IL de Carlos Guimarães Pinto tiveram 1,3% cada.

O PS de António Costa ganhou a eleição de 2019, com 36,3%, continuando a governar com o apoio parlamentar do PCP e do PEV (6,3% e 12 deputados), mas já sem o do BE (9,5% e 19 deputados). Nesse sufrágio, o Livre de Rui Tavares alcançou 1,1% e um deputado.

O maior desaire eleitoral da esquerda, com 37,9%, ocorreu em 1991, quando o PSD de Cavaco Silva alcançou a sua segunda maioria absoluta, com 50,6% e 135 deputados. Nessa eleição, a soma dos partidos da direita, neles incluído o PSN de Manuel Sérgio (o chamado partido dos reformados), atingiu 56,7% e 141 deputados. O PS era liderado por Jorge Sampaio, que viria a ser Presidente da República durante 10 anos, a coligação PCP-PEV pelo líder histórico dos comunistas, Álvaro Cunhal, e o PSR, que conseguiu 1,1% mas não elegeu qualquer deputado, por Francisco Louçã.

A soma aritmética dos resultados dos partidos à esquerda e à direita ganhou especial importância quando o PS de António Costa, depois de perder as eleições de 2015, rompeu com a tradição e decidiu governar com o apoio parlamentar do BE, PCP e PEV, dando origem a uma solução governativa que ficou conhecida como "Geringonça".Se, à direita, há muito que não havia obstáculos à formação de coligações desde que, em 1979, o PPD de Sá Carneiro se coligou com o CDS de Diogo Freitas do Amaral e com o PPM de Gonçalo Ribeiro Telles na formação da Aliança Democrática (AD), a esquerda só em 2015 deu esse passo para tornar mais fácil soluções de governo na sua área política.

Apesar de muitos dirigentes políticos considerarem que deixou de fazer sentido a divisão entre esquerda e direita saída da Revolução Francesa de 1789, em que os partidários do rei se sentavam à direita da presidência da Assembleia Nacional e os revolucionários à esquerda, a verdade é que a governabilidade no Portugal democrático tem sido garantida por um ou pelo outro lado do espetro político.

A novidade relativamente às legislativas de dia 10 é o crescimento do Chega, da família política da extrema-direita europeia, com o qual os outros partidos prometem não fazer qualquer acordo. Faltará saber se, com Chega ou sem ele, a maioria política penderá para a esquerda ou para a direita e que soluções de governabilidade irá permitir.

Tópicos: Eleições