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27 outubro 2024 às 01h36
Atualizado em 27 outubro 2024 às 01h36
Leitura: 9 min

Vinícius Júnior pode ser o primeiro brasileiro em 17 anos a ganhar a Bola de Ouro

De possível flop a principal jogador do Real Madrid, craque pode repetir feito alcançado por Kaká em 2007, antes da dinastia Messi - Ronaldo. Cerimónia realiza-se esta noite, em Paris.

Vinícius José Paixão de Oliveira Júnior, ou apenas Vini Jr. para os adeptos, tinha apenas 16 anos quando foi anunciada a sua venda do Flamengo ao Real Madrid por uma bagatela de 45 milhões de euros. À época recém-promovido ao plantel principal do emblema carioca, o brasileiro já mostrava que viria ao mundo do futebol não só para ganhar, como foi comprovado nos últimos anos, mas para incomodar.

Após uma campanha de destaque na Copa São Paulo de Futebol Júnior, a Copinha, principal competição da categoria sub-20 no Brasil, o menino irreverente de São Gonçalo, município a 25 quilómetros da capital do Rio de Janeiro, chamou a atenção do mundo. Dentro do Brasil, no entanto, rivais e parte da imprensa ironizavam o hype  em cima do menino. Surgiu então a alcunha de “Neguebinha”, que fazia referência a Negueba, outro extremo-esquerdo formado no rubro-negro anos antes como grande promessa e que “flopou” no mundo da bola. Não foi o caso de Vinícius.

Naquela época, outros jovens brasileiros eram apontados por alguns especialistas como os verdadeiros craques da geração, como Pedrinho (Corinthians) ou Paulinho (Vasco). O futuro comprovou o contrário: o primeiro teve uma passagem apagada pelo Benfica e atualmente pouco joga no Shakhtar Donetsk, da Ucrânia. O segundo, apesar de carreira sólida - passagem pelo Bayer Leverkusen, atualmente no Atlético Mineiro e uma vez ou outra chamado à seleção canarinha - não chegou perto do patamar que atingiu Vinícius.

Após cinco anos de Real Madrid, dois títulos da Liga dos Campeões, marcando em ambas as finais, e 33 participações diretas em golos na última temporada, o craque pode esta noite, em Paris, tornar-se o primeiro brasileiro desde Kaká, no longínquo ano de 2007, a ganhar a Bola de Ouro, troféu que desde 2023 é organizado em conjunto pela revista France Football  e a UEFA.

Sim, habitual viveiro de craques, o Brasil não tem um futebolista representante no topo do planeta desde que o antigo médio do AC Milan foi premiado com o galardão da FIFA após sagrar-se Campeão Europeu pelos italianos naquela época. Desde então, iniciou-se a “Dinastia Messi - Ronaldo”, com oito troféus para o argentino, cinco para o português, sendo os intrusos desde então apenas o croata Luka Modric (2018) e o francês Karim Benzema (2021). Amanhã, Vini, Campeão Europeu e mesmo apagado pelo Brasil na última Copa América, é o favorito a dar início a uma nova época à tal premiação.

Símbolo da luta contra o racismo

Da nova saga de craques, o avançado brasileiro tem como principais concorrentes jogadores como Kylian Mbappé, ofuscado pelo próprio Vini desde a sua chegada ao Real em julho, Phil Foden, Erling Haaland ou Musiala. Na última temporada - o prémio considera o período entre agosto de 2023 e 31 de julho de 2024 - atletas como Rodri ou Dani Carvajal, Campeões Europeus pela Espanha, também se tornaram candidatos. Sendo mais defensivos, no entanto, não terão tantas hipóteses. Jude Bellingham, colega de Vinícius, corre por fora, assim como Lautaro Martínez e Nico Williams. Os portugueses entre os 30 nomeados são Rúben Dias e Vitinha. Mas o mais provável é que o prémio fique mesmo com Vini Júnior.

Para chegar até aqui, no entanto, o caminho do avançado esteve longe de ser fácil. Vini veio ao mundo do futebol para incomodar e, em Espanha, teve de enfrentar não só os defesas adversários, como também o preconceito. Os dribles, golos, estilo provocador e, especialmente, a cor da pele, fizeram com que o jogador brasileiro fosse alvo de uma perseguição de cunho racista nunca antes vista na história do Campeonato Espanhol.

Vini Jr foi alvo de ofensas por cada estádio que desfilou o seu futebol em Espanha, sendo atacado por parte da imprensa, adeptos dos mais diferentes clubes e pela própria La Liga, liderada por Javier Tebas, personagem que na maior parte das vezes negou a violência contra o brasileiro. Vini fez da dor a sua principal luta: tornou-se um símbolo de resistência e um dos protagonistas da luta antirracista no mundo do desporto.

“Não sou vítima do racismo. Sou o algoz do racismo”, declarou o brasileiro na sua conta no X em junho deste ano. A publicação foi feita após a condenação de três agressores racistas envolvidos num dos episódios mais escandalosos contra Vini em Valência, quase um ano antes da decisão da Justiça, inédita em Espanha.

O percurso no futebol europeu fez Vinícius levantar as suas bandeiras de luta e os adeptos do Real Madrid com os seus dribles  e golos. Falta agora levantar o prémio de Melhor do Mundo. A tendência é que hoje à noite isto aconteça. Para tal, vão contar muito os títulos ganhos na última época - Liga dos Campeões, liga espanhola e Supertaça de Espanha.

Diogo Costa e João Neves nomeados para melhor guarda-redes e sub-21

Além do prémio para Melhor Jogador do Mundo, a cerimónia desta noite vai distinguir outras categorias. O português Diogo Costa é um dos dez nomeados para Melhor Guarda-redes do Mundo. Uma nomeação que não surpreende, dado o bom desempenho na baliza do FC Porto - apesar da época mediana, conquistou uma Taça de Portugal e uma Supertaça - e na seleção nacional no Euro2024, prova em que se destacou ao defender três grandes penalidades frente à Eslovénia, nos oitavos-de-final.

Aos 25 anos, Diogo Costa tem o passe avaliado em 45 milhões de euros pelo Transfermarket, o que faz dele o mais valioso do futebol mundial, à frente de todos os que o acompanham na lista de nomeados: Donnarumma (PSG), Kobel (Dort- mund), Lunin (Real Madrid), Maignan (AC Milan), Mamardashvili (Valência), Unai Simon (Ath. Bilbau), Emiliano Martínez (Aston Villa), Yann Sommer (Inter) e Ronwen Williams (Mamelodi Sundowns).

Mas o guardião portista não é o único português nomeado. Além de Rúben Dias (Manchester City) e Vitinha (PSG), que são candidatos à Bola de Ouro (ver texto principal), João Neves está na restrita lista do Troféu Kopa - melhor jogador com menos de 21 anos a 31 de julho de 2024.

O jovem internacional português conquistou o reconhecimento com meia época no Benfica (2023-24), antes de se mudar para o PSG no verão. Está nomeado juntamente com Alejandro Garnacho (Manchester United), Arda Güler (Real Madrid) e o grande favorito, Lamine Yamal (Barcelona).

Também a treinadora da equipa feminina do Benfica está nomeada para Melhor Técnica do Ano. Filipa Patão ganhou as três competições internas e chegou aos quartos -de-final da Champions feminina, ganhando um lugar entre as seis melhores da época passada. Tem a concorrência da lusodescendente Sonia Bompastor (Lyon e Chelsea), que a eliminou da Liga dos Campeões, e de mais quatro técnicos. 

Há ainda outra lusodescendente candidata à Bola de Ouro feminina, Lucy Bronze (Inglaterra, Barcelona e Chelsea), que deve ir parar às mãos da espanhola Aitana Bonmatí, do Barcelona.

Mais indefinida será a votação para Melhor Técnico: Xabi Alonso (B. Leverkusen), Carlo Ancelotti (Real Madrid), Luis de la Fuente (Espanha), Gian Piero Gasperini (Atalanta), Pep Guardiola (Manchester City) e Lionel Scaloni (Argentina).

Com Isaura Almeida