O debate desta noite na RTP entre Luís Montenegro e André Ventura - um dos mais aguardados da campanha para as legislativas de 10 de março - revelou um líder do PSD sempre ao ataque, consumando de forma incontornável a rutura com o Chega.
Montenegro abriu o debate de forma categórica dizendo "não farei qualquer entendimento político com o Chega", repetiu inúmeras vezes o "não é não" e explicou o porquê: porque o PSD "nunca alinhará com opiniões racistas, xenófobas e demagógicas" e além disso com uma linguagem de Ventura que representa "o grau zero da política", nomeadamente quando o trata a si, Montenegro, e ao PSD, como uma "prostituta da política". "É uma linguagem que não se compadece com os nossos princípios", afirmou.
Além do mais, o líder do PSD falou da "irresponsabilidade" do Chega por apresentar um programa eleitoral sem contas, acrescentando que ele próprio as fez, custando para cima de 25,5 mil milhões de euros. De resto, no fim do frente a frente, Montenegro ironizaria dizendo que ele próprio conhece melhor as contas do programa do Chega do que Ventura.
Questionado insistentemente, Montenegro insistiu na certeza de que só governará se a sua Aliança Democrática (coligação PSD + CDS+ PPM) vencer as eleições. E foi nesse contexto que assegurou repetidas que não fará qualquer "entendimento" com o Chega para viabilizar esse Governo, caso a AD vença sem maioria. Ao mesmo tempo, porém, não disse como votará um programa de Governo eventualmente apresentado pelo PS. E não disse porque perder as eleições "não é um cenário".
E assim como Montenegro não respondeu aos cenários de indigitação do PS, também Ventura não respondeu sobre o que fará caso dependa do Chega viabilizar um Governo minoritário da AD em não querendo Montenegro conversar. A única frase que ensaiou, sobre este cenário, passou quase sem se ouvir: "O Chega tomará a decisão, não eu."
Assim, Ventura, apesar de não recuar na qualificação do PSD como "prostituta política" ofereceu-se para uma "convergência" com Montenegro e depois, caso este recuse, ficará Montenegro com o "ónus da responsabilidade" de oferecer a governação ao PS. Montenegro, disse, só procura dar o "colo" e ser o "sustento" do PS, além de se estar a colocar numa posição de "arrogância", algo que em Portugal "geralmente corre mal" a quem a protagoniza. Radicalizando, acusou: Montenegro está a ser "o idiota útil da esquerda, a esquerda de que a direita gosta".
No frente-a-frente, muitas vezes inaudível pela sobreposição das vozes entre ambos, Montenegro tinha ainda outro trunfo escondido na manga: recordou a Ventura que este, enquanto militante do PSD, lhe disse que o apoiaria se se candidatasse a líder do PSD - algo que o líder do Chega disse não se lembrar (fê-lo de facto numa entrevista ao jornal I em setembro de 2018 na qual declarou: “Tenho dito que o dr. Luís Montenegro é a única solução e não pode virar as costas ao PSD nesta altura".)
Montenegro colocou ainda Ventura à defesa quando recordou a "irresponsabilidade programática" do Chega ao defender o direito à greve dos agentes da PSP e dos militares da GNR.
"Mas se a PJ tem direito à greve e SEF também porque é que a PSP e a GNR não poderão ter?", responderia o líder do Chega, acusando ainda o líder do PSD de "traição" à PSP por não defender que a estas seja aplicado o mesmo suplemento que os agentes da PJ vão receber. "Há uma diferença entre nós: prefiro estar do lado dos polícias do que do lado dos bandidos", afirmou ainda.
Ao mesmo tempo, também tentou ridicularizar a proposta de Ventura de fazer subir todas as pensões mínimas até ao valor mínimo de 820 euros dizendo que a proposta do Chega, como está desenhada, até poderá beneficiar quem rendimentos totais superiores a isso (por acumulação de pensões ou porque acumula a pensão com outro rendimento).
Ventura, pelo seu lado, respondia que Luís Montenegro "não tem nenhum currículo na defesa dos pensionistas", recordando os cortes nas pensões durante a troika - o que fez o líder do PSD recordar na resposta que nessa altura Ventura "batia palmas ao PSD", sendo militante do partido.
"Tenho de me rir de si, André, com todo o respeito", dizia Montenegro a Ventura. E este respondia: "Na noite das eleições se verá quem ri."
Por sugestão do moderador, João Adelino Faria, os dois falaram ainda de corrupção. Montenegro defenderia que o problema do combate à corrupção "não é da lei", prometendo, assim que eventualmente iniciar funções como primeiro-ministro, estabelecer um "diálogo direto" com a PJ e a PGR para "avaliar as políticas de combate à corrupção" e estabelecer depois medidas.
Ventura, pelo seu lado, prometeu medidas visando aumentar penas (recordando que o PSD votou contra as propostas nesse sentido apresentadas pelo Chega no Parlamento) e "acelerar" os mecanismos de "apreensão e confisco de bens" porque "o que toca ao coração das pessoas é Ricardo Salgado ainda a viver no seu palácio".