Muitos pais abdicam da sua vida profissional para estarem em sala quando o agrupamento de escolas o permite.” Quem o diz é Filipa Nobre, uma das porta-vozes do Movimento para uma Inclusão Efetiva, que alerta para problemas graves no que se refere à falta de apoio para as crianças com Necessidades Educativas Especiais (NEE). A responsável explica ainda que o movimento tem “batalhado para ter todos os pais e não apenas os pais de alunos com NEE na luta para pressionar a tutela e conseguir mudanças nas escolas, e ter uma integração efetiva de todos os alunos”. “Temos de aprender a integrar todas as crianças e temos feito esse caminho, mas ainda estamos longe do ideal. Há muitos problemas para resolver, muita escassez de recursos e recursos mal geridos”, confessa.
E foram esses problemas que levaram os pais da Escola Básica de Santa Clara, em Lisboa, a fazer um abaixo-assinado, onde denunciam a falta de meios humanos na escola. Um problema que afeta as crianças que precisam de um apoio mais direto, mas também a restante turma. “Na Escola Básica de Santa Clara, na freguesia de São Vicente, em Lisboa, a inclusão é falsa - é uma inclusão que exclui todos (os alunos com necessidades educativas especiais e os restantes alunos das turmas). Os professores titulares estão sozinhos em sala de aula a lidar com situações alarmantes sem qualquer apoio (apenas duas horas por semana são asseguradas pela escola). É urgente, por todos, fazer alguma coisa”, pode ler-se no documento.
O abaixo-assinado alerta ainda para a situação de “pais de crianças [com NEE] que estão a deixar de trabalhar durante os períodos letivos para poderem estar com os seus filhos em sala de aula, para que os professores consigam dar aulas à turma - com tudo o que isto implica, como a perda de rendimento mensal”.
“Falamos de crianças que têm crises graves, momentos em que se magoam a elas próprias, tentam fugir da sala, saltam mesas e cadeiras, gritam durante períodos que podem durar poucos minutos ou uma hora. Há professores a relatar que têm de estar de mão dada com estes alunos, sempre num equilíbrio instável, enquanto ensinam as restantes crianças durante estas crises, que podem acontecer uma vez por dia ou mais”, afirmam os pais, no abaixo-assinado.
Os encarregados de educação (EE) dizem ainda que “as outras crianças assistem a tudo isto e, dada a sua idade, não conseguem perceber e processar o que se passa da mesma forma que os adultos”. “Há pais que relatam que os filhos chegam a casa perturbados pelo que viram e ouviram durante o dia”, contam no documento. Os pais dizem, por isso, que “o apoio às crianças com necessidades educativas especiais é fundamental para a integração destas crianças e para a harmonia das turmas”.
Marta Silva, uma das subscritoras da petição e mãe de um aluno do 1º ano, adianta ao DN já ter contactado a DGESTE, a Direção do Agrupamento, o pelouro da Educação da Câmara Municipal e a Junta de Freguesia “na esperança” de serem “ouvidos, depois de três meses de aulas em que nada se alterou”. “A inclusão não existe. As três turmas de 1.º ano da Escola Básica de Santa Clara têm, no total, 10 crianças com necessidades educativas especiais. Só uma destas turmas tem redução de alunos (21), as outras duas têm 24. Algumas destas crianças estão sem apoio, outras têm apenas quatro horas de apoio semanais, sendo que o resto do tempo ficam em turma”, conta.
Marta Silva garante que “os pais não querem que as crianças com NEE estejam fora da sala de aula”, mas que pretendem “uma inclusão efetiva, em que estas crianças especiais estejam em turma, mas acompanhadas por um professor do Ensino Especial (ou alguém competente para o efeito), ao mesmo tempo que o professor titular”.
“Não podemos chamar inclusão apenas ao ato ou à decisão de incluir crianças especiais nas turmas ditas convencionais: temos que ter condições para elas (as principais prejudicadas), ao mesmo tempo que oferecemos condições para que a turma consiga aprender com serenidade”, afirma.
A EE garante que “todos os alunos estão a ser prejudicados com a falta de recursos”, pois as que precisam de apoio direto “pioraram o seu desempenho” e os restantes “não sabem o que é aprender com tranquilidade”. “Sinto que todos estão a ser prejudicados por um sistema que não está a proteger nem as crianças especiais, nem as outras crianças”, conclui.
Nuno Esteves, pai de um aluno com espectro do autismo da referida escola lamenta ver o filho “cada vez mais isolado, a turma sem qualquer apoio, com duas crianças com NEE (que fazem crises /comportamentos desafiantes todos os dias) e com a falta de um acompanhamento que permita, por exemplo, saídas da sala prevenindo crises ou repetindo individualmente o conteúdo de aprendizagem”.
Maria Viana, mãe de outra criança de educação inclusiva, explica que o filho “não recebeu nenhum tipo de apoio” e, por isso, vem sendo prejudicado, assim como outras crianças com necessidades educativas especiais”. “Além da escola também pedi apoio para terapia da fala na segurança social e foi negado. Até agora não temos nenhum tipo de apoio”, acrescenta.