Sociedade
04 janeiro 2024 às 19h19
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Jovem de 13 anos vence o Tetris pela primeira vez. Foram precisos 39 anos

Nunca antes um humano tinha conseguido quebrar o jogo, apenas inteligência artificial. Em dezembro, Willis Gibson conseguiu fazê-lo em pouco mais de meia hora.

Bastaram 38 minutos e meio para que, no dia 21 de dezembro, Willis Gibson, de 13 anos, fizesse aquilo que nunca antes alguém conseguira: congelar a versão original do Tetris, o famoso jogo da Nintendo. Até Gibson, só softwares de inteligência artificial chegaram tão longe. No ecrã de jogo, a pontuação também congelou: 999.999.

A reação, gravada e disponível no YouTube, era de incredulidade e êxtase: “Oh, meu Deus. Não consigo sentir os dedos”, diz Willis Gibson enquanto se deixa cair pela cadeira, no seu quarto, em Stillwater, no estado americano do Oklahoma. O feito aconteceu no dia 21 de dezembro, mas só foi conhecido na passada terça-feira, quando o próprio jovem disponibilizou o vídeo da sua reação na plataforma.

Criado em 1984 por Alexey Pajitnov, engenheiro informático no Centro de Computadores da Academia Russa das Ciências, e lançado quatro anos depois, o Tetris consiste em agrupar blocos com várias formas diferentes, que vão caindo e acumulando-se no fundo do ecrã. O objetivo é ir limpando filas, de modo a que os blocos - cuja posição de ‘encaixe’ pode ser escolhida, formando linhas - nunca cheguem ao topo. Lançado inicialmente nos sistemas Nintendo, o Tetris tornou-se um clássico geracional.

Durante anos, acreditava-se que o limite máximo era o nível 29, altura em que os blocos começam a cair a grande velocidade, dificultando as jogadas. Essa foi uma realidade até 2011, quando Thor Aackerlund chegou ao nível 30, graças a uma nova estratégia.

Teoricamente, o jogo não tem fim (ou pelo menos é essa a intenção inicial), terminando quando acontece exatamente aquilo que Willis Gibson conseguiu: travar o Tetris. Quando o fez, o jovem americano estava tão avançado no jogo que, no ecrã, o nível aparecia como sendo o 18.º. Isto porque, no que toca ao código de programação, o jogo está limitado e não tem capacidade para chegar tão longe quanto o nível a que Willis chegou: o 157.º, atingindo o chamado kill screen, quando o Tetris congela.

Isto representa um recorde, com Willis Gibson a ultrapassar o nível 146, atingido por EricICX, que era o recorde em vigor e que agora cai por terra.

Desde 2021 que Willis joga Tetris de forma competitiva, sob o nome Blue Scuti. Numa entrevista citada pelo The New York Times (NYT), o jovem disse estar “extremamente animado” com o feito. O jovem contactou pela primeira vez com o Tetris através de vídeos no YouTube e começou a juntar equipamento necessário para jogar uma das versões antigas. E segundo disse, sentiu-se atraído pelo jogo devido à “simplicidade”. “É fácil começar, mas é muito difícil dominá-lo”, disse, citado pelo NYT.

A mãe, Karin Cox, disse ao jornal estar “tranquila” com o feito do pequeno Willis.

Foi, aliás, a própria Karin, que deu ao filho uma versão de uma  consola de jogos chamada RetroN, que encontrou numa loja de penhores. A consola da Nintendo partilhava o mesmo hardware com a original, em que o jogo foi criado. Isso, juntamente com uma televisão de raios catódicos, ajudaram Willis a começar no Tetris, que joga cerca de 20 horas por semana.“Ele faz mais coisas além de jogar Tetris, então não foi muito difiícil de aceitar”, acrescentou, dizendo ter tido mais dificuldade em encontrar o televisor antigo do que propriamente em dar autorização ao filho para se iniciar no jogo.

Estavam assim dados os primeiros passos para que o rapaz se tornasse num dos melhores jogadores de Tetris dos Estados Unidos. Até então, vários outros “venceram” o jogo, pirateando-o, mas Willis é considerado o primeiro a fazê-lo no hardware original.

Competição obrigou a mudança de mentalidade

O presidente do Campeonato do Mundo de Tetris Clássico, Vince Clemente disse que aquilo que Willis conseguiu “nunca antes foi feito por um humano”. “É basicamente algo que todos pensavam ser possível há alguns anos”, referiu, citado pelo NYT.

Nos últimos anos, a forma de jogar Tetris mudou com a criação de competições. O objetivo é tentar superar os adversários em vez de os ultrapassar. Mas a abordagem trying for the crash é diferente, com os jogadores a tentarem ao máximo “quebrar” o jogo. Como descreve o New York Times, é uma estratégia de sobrevivência. “A estratégia principal é tentar jogar de forma o mais segura possível”, disse Willis.

Segundo David Macdonald, houve também uma mudança na forma como os jogadores abordam o interface: começaram a usar a chamada “técnica de rolamento”, que consiste, basicamente, em usar vários dedos, aumentando a rapidez do toque, em vez de apenas um ou dois. Esta inovação acabou por revolucionar o Tetris competitivo. Com isto, cada vez mais jogadores de topo tentam quebrar o jogo, em vez de utilizarem a estratégia antiga de fazer o máximo de pontos possível.