Mesmo antes de tomar posse como presidente, em janeiro de 2017, Donald Trump já tinha abalado a NATO mais do que qualquer um dos seus antecessores na Casa Branca. Enquanto candidato, disse considerar que era uma organização “obsoleta”, questionando o peso da contribuição dos Estados Unidos em comparação com os países europeus e posto em causa a prontidão de Washington em seguir o sagrado artigo 5 do Tratado da Organização do Tratado do Atlântico Norte - defender qualquer aliado sob ataque - dizendo que dependeria do aliado em questão e se este “tinha cumprido as suas obrigações financeiras”, numa referência aos 2% do PIB em gastos com a defesa dos países da Aliança. Este fim de semana, novamente, como candidato, o republicano voltou a mostrar o seu pouco apreço pela organização, ao dizer que, se for reeleito presidente dos Estados Unidos, encorajará a Rússia a fazer o que entender com países com dívidas à NATO.
Num comício este sábado na Carolina do Sul, Donald Trump contou mais uma vez uma história sobre um líder de um Estado-membro da NATO não identificado que o terá confrontado sobre a ameaça de não defender os países que não cumprissem a meta de financiamento da Aliança Atlântica. “Um dos presidentes de um grande país levantou-se e disse: ‘Bem, senhor, se não pagarmos e formos atacados pela Rússia, vai defender-nos?’”, relatou o republicano antes de revelar a resposta: “Não, não vou proteger-vos mais. Aliás, vou encorajá-los a fazerem o que quiserem. Vocês têm de pagar as dívidas. Não pagou, é delinquente”, acrescentou Trump ao recordar o episódio.
A arma favorita de arremesso de Donald Trump contra a NATO e a participação dos Estados Unidos na organização tem a ver com a contribuição de cada país para o seu orçamento, apontando o dedo aos países europeus. Mas a verdade é que o ex-presidente norte-americano tem uma visão errada de como é que funciona o financiamento da NATO.
Desde 2006, os países da NATO têm como referência pelo menos 2% do seu Produto Interno Bruto em gastos com a defesa até 2024, sendo que os Estados-membros já vêm a aumentar os seus orçamentos desde 2014, quando a Rússia anexou de forma ilegal a Crimeia, território que faz parte da Ucrânia. E, segundo o Politico, 11 dos 31 países alcançaram a meta dos 2% no ano passado, na sequência da invasão russa da Ucrânia - a Polónia tornou-se no país mais gastador da NATO, com 4,2% do seu PIB a ir para a defesa. Segundo a versão de Trump, existe um orçamento centralizado da NATO para o qual os países contribuem, e os seus Estados-membros, exceto os Estados Unidos, não estão a cumprir a referência dos 2%, esquecendo-se de que esta é uma linha orientadora e não uma regra vinculativa e refere-se ao orçamento de cada país.