Era inimaginável que Frederico Lourenço não se associasse à comemoração do quinto centenário do nascimento de Luís de Camões, poeta que até lhe serviu de mote para a sua trilogia em ficção, reunida sob o título Pode um desejo imenso. Por tudo o que o poeta lhe diz, confirma que lhe era impossível “passar em branco o centenário de Camões” e fá-lo com a publicação da sua escolha do melhor entre uma grande obra. “Um ponto de partida para o leitor que não sabe por onde começar”, que chega amanhã às livrarias e terá o lançamento oficial na Feira do Livro de Lisboa no dia 10 de junho pelas 17.00.
Já relera bastante Camões para a tradução e comentários à sua edição de Horácio – Poesia Completa: “Esse trabalho despertou em mim a consciência da centralidade de Camões na minha vida. Estudei-o muito intensamente entre 2001 e 2011, depois precisei de parar para ganhar alguma distância e também para encontrar o meu próprio caminho como camonista.” Nos artigos académicos que publicou, garante que estava muito preocupado com o problema da edição crítica das Rimas, mas agora deu-se conta de que a questão que o entusiasma já não é essa: “Interessa-me a interpretação literária da poesia camoniana entendida como um todo.”
Volta-se a Horácio, que agora é um texto que Lourenço diz conhecer “como a palma da minha mão”, para questionar o domínio de um mundo cultural clássico em Camões e sobre o qual ajuíza: “Quanto mais se aprofunda a questão da presença clássica em Camões, mais estupefacto se fica com a abrangência das suas leituras. Sobretudo em relação ao rasto que Horácio deixou em Camões, além de uma presença maciça de Vergílio e de Ovídio. O que se verifica tanto nos Lusíadas como nas Rimas.”
Logo na Introdução releva a importância da comemoração de duas datas, a dos 50 anos do 25 de Abril e a dos 500 de Camões, como momentos importantes para a construção da consciência nacional, de que diz serem “duas realidades da história portuguesa de que nos podemos orgulhar sem reservas”. Adianta que “a celebração do quingentésimo aniversário de Camões vai impor-se na consciência dos portugueses daqui para a frente em muito devido às várias iniciativas planeadas a partir do dia 10 de junho, além dos muitos livros de temática camoniana cuja publicação se prevê até ao fim de 2025”.